CONTO #37: Uma questão temporária (Jhumpa Lahiri)



          Publicado pela primeira vez na revista The New Yorker, em 20 de abril de 1998, e mais tarde compondo a coletânea de contos "Intérprete de males", Uma questão temporária (A temporary matter) nos conta a história desse jovem casal cujo relacionamento está, aos poucos, desmoronando.
          A notificação de que a eletricidade seria cortada nos próximos dias durante uma hora, acaba interferindo na rotina do casal. Conforme os dias passam, o leitor entra em contato com os problemas que os dois vem enfrentando já há algum tempo, principalmente desde a perda de um bebê muito esperado.
          A autora não entrega de bandeja o que o que está acontecendo; o leitor é levado a achar que sabe direitinho do que o conto se trata - mas é enganado. Nada nos prepara para o choque de realidade nua e crua que teremos diante dos olhos. A crueldade com que ambas as partes se vinga, lenta e dolorosamente, do outro não é agradável de se acompanhar. É quase como se estivéssemos observando a uma cena que se desenrola atrás de pesadas cortinas, sendo afastadas lentamente. E o final do conto é avassalador.


"A notificação informava que era uma questão temporária: por cinco dias
a eletricidade seria cortada por uma hora, a partir das oito da noite. Uma linha caíra na
última tempestade de neve e os operários iriam aproveitar as noites mais brandas para arrumá-la.
O trabalho afetaria apenas as casas da tranquila rua arborizada na qual Shoba e Shukumar
moravam havia três anos, de onde se podia ir a pé até as lojas com fachada de
tijolos e o ponto do bonde."
(p. 9)

"Uma vez, essas imagens de paternidade haviam perturbado Shukumar, somando-se à ansiedade de ainda ser estudante aos 35 anos. Mas naquela manhã de outubro, bem cedo, as árvores ainda pesadas com folhas de bronze, ele deu as boas-vindas à imagem pela primeira vez."
(p. 11)

"Em algum momento da noite, ela o visitava. Quando ele a ouvia
chegando, deixava de lado o romance e começava a digitar frases. Ela
pousava as mãos nos ombros dele e olhava junto com ele a luminosidade 
azulada da tela do monitor. "Não trabalhe demais", ela dizia
depois de um ou dois minutos, e ia para a cama. Era o único momento
do dia em que o procurava e, no entanto, ele passara a abominar aquilo. "
(p. 16)

"Nunca falava com ele sobre Shoba; uma vez, quando ele mencionou a morte do bebê,
ela ergueu os olhos do tricô e disse:
- Mas você nem estava lá. "
(p. 17)


Onde encontrar Uma questão temporária: Intérprete de Males, de Jhumpa Lahiri

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