Semana que passou,
ao mesmo tempo em que ululavam nas redes sociais considerações pobres,
rasteiras, coalhadas de inveja e mágoa sobre o papel dos booktubers em nossa
literatura, sobre a pertinência da remuneração acerca de tal atividade, eu via
um divertido documentário sobre a pré-história.
Notei que todas as
vezes em que um dinossauro se encontrava em vias de morrer, cair de algum penhasco,
sofrer algum tipo de evento trágico, emitia um enorme rugido, para logo após
ser consumido por seu inevitável fim. Imaginei então, que à beira da extinção,
múltiplos grunhidos teriam ecoado simultaneamente por conta de um cataclisma
que finalmente dizimou, para todo o sempre, os obtusos titãs do passado.
Uma analogia repentina me deu um tapa e não levou mais do
que uma fração de segundo para que quaisquer sentimento de injustiça ou de
indignação que existisse dentro de mim em relação a tal anacrônica e caduca
discussão sumisse e eu me pusesse então a, divertidamente, rir e a brincar com
minha cachorrinha para, logo depois, ir dormir tranquilo e sem sobressaltos.
É colossal a
tolice de se afligir com algo que já foi decidido. Decidido pelo mercado,
decido pelos leitores, decido pelo tempo que nunca para. O que sobra é cochicho
de natureza vetusta, é ladainha improfícua, é ranço infantil, é bater de
pezinho. O booktuber continuará e atingirá milhões de pessoas. As editoras, os
sites de venda, o público já reconheceu isso, já aderiu a tal FATO e passa a
premiar e a enaltecer a quem se destaca no meio. Assim como, pasmem, em
qualquer outra área. Isso só não é notório para quem vive na montanha,
encastelado, ressentido, saudoso e inconsolável, envolto em sua mortalha de soberba e empáfia.
Não há sentido em
alongar essa questão. Melhor ir brincar com a cachorrinha.
Nietzsche escreveu
com propriedade:
"Agradam-me
os valentes; não basta, contudo, saber manejar uma boa espada; é preciso saber
também a quem se fere! Muitas vezes há mais valentia em se abster e passar
adiante, a fim de se reservar para um inimigo mais digno...por isso há muitos
mais adiantes dos quais deveis passar; sobretudo ante a canalha numerosa que
vos apedreja os ouvidos, falando-vos do povo e das nações".
Desta forma,
lembremos que ao escolher nossos inimigos, nós os honramos. Escolhamos,
portanto, com pertinência e critério nossas guerras. Essa é a mensagem contida
no texto. E não se enganem, não há dúvidas da ineficiência dessa parva
resistência, da impotência de tal questíuncula. Não há batalha a ser ganha aqui,
pois ela já foi vencida faz tempo. O que há é apenas o diminuto som que se ouve
do outro lado. O desespero zunindo baixinho nada mais é do que o rugido dos
dinossauros face a seus derradeiros destinos, face às mudanças, face ao novo.
Face ao penhasco. Vocês conseguem escutar? Nem mesmo os cascos?
Como assim não ouvem?!
Vamos lá, eu peço a vocês a gentileza de não perderem esse momento histórico. Fechem os olhos, agucem os ouvidos, se concentrem um pouco. Ouviram?! Não?! Eu sei que o som é baixo. Mas tentem. Ouviram o rugido? Ainda não?
Talvez seja porque o som do rugido se parece mais com o impubescente ruído do choro de uma criança.