Publicado pela primeira vez em 1958 na revista literária Paris Review, A conversão dos judeus (The conversion of the jews) conta a história de Oscar, um garoto judeu pré adolescente de apelido Ozzie, que está sempre se metendo em confusão com seu rabino por ser muito curioso, questionador, e não aceitar quaisquer respostas dadas às suas perguntas facilmente.
A confusão mais recente se dá por conta de uma aula sobre Jesus, na qual o rabino explica aos alunos o fato de que, para os católicos, Jesus não só havia realmente existido, em carne e osso, mas que também era: Deus. Ao passo que, explica o rabino, para os judeus, Jesus é, sim, uma figura histórica; mas, longe de ser divina. Isso tudo aguçando tremendamente a curiosidade de Ozzie, que chega ao ápice quando o rabino diz que Deus tudo pode; e dali algum tempo, diz que é um absurdo acreditar-se que a mãe de Jesus o concebeu por meio do espírito santo. Ele não se aguenta, e pergunta: "Se Deus tudo pode, ele poderia muito bem ter feito a mãe de Jesus tê-lo concebido "sem relações". Não? ". A mãe do garoto é chamada, mais uma vez para conversar com o rabino.
Além de ser agredido pela mãe em decorrência de seu questionamento (pertinente, pelo menos em sua opinião), agredido (ou não) pelo rabino, que perde a paciência com o garoto novamente já no dia seguinte, Ozzie tem uma crise nervosa e vai parar do telhado da escola. O que gera uma grande comoção pelos arredores, culminando na chegada do corpo de bombeiros.
O desdobramento a partir de então é, no mínimo, curioso.
Escrito em seus vinte e poucos anos, Philip Roth desenvolve nesse conto uma história Muito. Engraçada. Sem ser necessariamente engraçada, veja bem. Imagino que muitos religiosos possam se ofender com a forma como o autor trata seus dogmas. O bom humor do narrador ao contar as desventuras desse garoto que não entende o motivo de sua curiosidade incomodar tanto aos adultos ao seu redor, é impagável.
Recomendo fortemente a leitura.
""(...), eu fiz a pergunta sobre Deus, que se ele foi capaz de criar o céu e a terra em seis dias, e de fazer todos os animais e os peixes e a luz em seis dias - principalmente a luz, isso é que sempre me deixou intrigado, isso dele criar a luz...(...)
aí eu perguntei pro Binder (o rabino) se Ele foi capaz de fazer tudo isso em seis dias, e se ele pôde escolher os seis dias que Ele queria a partir do nada, então por que Ele não podia fazer uma mulher ter filho sem ter relações?""
(p. 137/138)
"Uma pergunta explodiu em seu cérebro. "Mas isso sou eu, mesmo?"Em se tratando de um garoto de treze anos que havia acabado de chamar seu líder religioso de filho-da-puta, e duas vezes, a pergunta procedia.
"Sou eu? Sou EU EU EU?! Tem que ser eu - mas será?"
É a pergunta que um ladrão certamente faz a si próprio na noite em que abre com um pé-de-cabra sua primeira janela, e diz-se que é também a pergunta que o noivo dirige a si próprio diante do altar."
(p.144)
"Todo mundo que já teve um gato no telhado sabe o que fazer para retirá-lo de lá. Basta ligar para o corpo de bombeiros, ou então para a telefonista e pedir a ela que chame os bombeiros. Logo em seguida, ouve-se um estrépito de freios, sirenes e homens berrando instruções. E logo o gato é retirado do telhado.
Faz-se a mesma coisa para retirar um garoto do telhado."
(p.146)
Onde encontrar A conversão dos judeus: Adeus, Columbus
Nenhum comentário:
Postar um comentário