Publicado em 2017 por aqui, em uma coletânea que teve como objetivo não só apresentar a autora para o público brasileiro, como tirá-la do esquecimento geral no qual aparentemente seus escritos caíram (o "Manual da Faxineira"), Lavanderia Angel's é o conto que abre o livro, portanto, nosso primeiro contato com Lucia Berlin.
Com um estilo de escrita mais livre, sem seguir fórmulas consagradas para O Bom Conto, em primeira pessoa, acompanhamos as memórias da narradora sobre a lavanderia que costumava frequentar. Dentre a descrição de acontecimentos banais, e a descrição do lugar em si e das pessoas que lá frequentavam, a narradora escolhe nos contar sobre o índio velho e alto, de calça Levi's desbotada que costumava esperar sua roupa ficar pronta sentado, em silêncio observando as mãos da narradora. Mas essa não é a única figura digna de nota: ela nos conta sobre a velha senhora que a incumbe de verificar se ela morreu, caso não aparecesse ali, na lavanderia, na quinta-feira (fazendo com que trocasse sua usual manhã de segunda-feira pela de quinta, por um senso de obrigação que nem ela mesma consegue explicar), o dono da lavanderia dentre outros, mas o destaque fica para o velho índio, bêbado, e de costumes estranhos, com quem acaba desenvolvendo uma certa "amizade funcional"(aquele tipo de amizade travada em filas de banco, pontos de ônibus, etc.).
"O índio costumava ficar lá, bebericando Jim Beam e olhando para as minhas mãos. Não diretamente, mas pelo espelho pendurado na nossa frente, em cima das máquinas de lavar Speed Queen. No início, não me incomodou. (...) Mas depois eu comecei a me perguntar se ele tinha alguma tara por mãos. Aquilo me deixava nervosa, ele me vigiava enquanto eu fumava, assoava o nariz, folheava revistas de anos atrás."
(p. 8)
"Viajantes lavam roupa na Angel's. colchonetes sujos e cadeirinhas de bebê enferrujadas amarradas em capotas de Buicks velhos e amassados. Os reservatórios de óleo vaza, as bolsas de lona de água vazam. As máquinas de lavar vazam. Os homens ficam sentados dentro dos carros, sem camisa, e amassam latas de cerveja vazias."
(p.10)
"Eu tendo a fazer muitas generalizações infundadas sobre as pessoas, por exemplo, todos os negros devem gostar de Charlie Parker. Alemães são horríveis. todos os índios têm um senso de humor estranho, como o da minha mãe."
(p.12)
Onde encontrar Lavanderia Angel's: Manual da Faxineira (Lucia Berlin)
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