Publicado pela primeira vez em algum momento nos idos de 1850, Manhã de um senhor de terras conta a história de um jovem proprietário que resolve abandonar os estudos universitários para se dedicar às terras e ao bem estar dos mujiques que ali trabalham.
Depois de mais de um ano dessa empreitada, o que temos aqui é a descrição dessa manhã em que, finalmente, o senhor de terras compreende aquilo que para os demais proprietários de terra, inclusive sua rica tia que tenta impedi-lo de largar os estudos e fazer uma coisa dessas: que os mujiques não querem ser ajudados; que, para eles, de certa forma, sua miséria é uma forma de honra; que muitos deles usam tudo o que recebem do senhor de terra para proveito próprio e não ajudam seus familiares; que muitos deles passaram a fazer corpo mole depois de conhecerem pessoalmente esse bondoso senhor de terras que os visitava, se interessava e lhes entregava o que era necessário; enfim, que eles respeitavam bem mais ao senhor de terras anterior (seu pai), pois ele nunca visitava as terras e seus mujiques, o que os levava a serem os únicos responsáveis por sua subsistência.
"O jovem senhor de terras, como ele havia escrito para a tia, tinha definido regras de conduta
em relação à sua propriedade, e toda a sua vida e seus afazeres estavam distribuídos em horas, dias e meses. O domingo era destinado a ouvir reclamações e pedidos dos servos domésticos e dos mujiques, a visitar os camponeses pobres da propriedade e a lhes prestar ajuda."
(p.515)
"Já faz mais de um ano que procuro a felicidade neste caminho, e o que encontrei? Na verdade às vezes sinto que posso ficar satisfeito comigo mesmo; mas é uma espécie de satisfação seca, racional. MAs não, no fundo estou insatisfeito comigo mesmo! Estou insatisfeito porque aqui não conheci a felicidade, mas eu desejo ardentemente, a felicidade. Não experimentei os prazeres e até me distanciei de tudo o que dá prazer. Para quê? Por que? A quem isso traz alívio? A tia escreveu a verdade, quando disse que é mais fácil encontrar a felicidade para si do que dá-la aos outros?
Por acaso meus mujiques ficaram mais ricos? Adquiriram educação ou se desenvolveram moralmente? Nem um pouco. Nada melhorou para eles, e para mim, a cada dia fico mais penoso. Se eu visse algum suceso em meus projetos, se eu visse gratidão..."
(p. 581)
Onde encontrar Manhã de um senhor de terras: Contos Completos de Tolstói