Publicado pela primeira vez em 1974, O pirotécnico Zacarias é um conto difícil de se classificar: fantástico? De mistério? Estranho? A saber: O autor aqui nos conta a história de um morto-vivo. Em primeira pessoa. Sim, o narrador morreu, e é ele quem nos conta suas mazelas.
Logo no início, o narrador nos conta sobre a estranheza que sua "morte" (ou não) anda causando aos seus conhecidos, visto que alguns ainda acham que ele está vivo (uma vez que "o morto tinha apenas alguma semelhança comigo", diz o narrador); ora, se esse que anda e fala é parecido com o suposto morto, logo, ele não morreu.
Mas, ele morreu. É verdade. E a gente até sabe como aconteceu. No meio da noite, foi atropelado por um carro dirigido por um jovem que levava seus amigos para a farra. Enquanto eles confabulam o que fazer com o morto (jogá-lo de um precipício? levá-lo para um cemitério?), o morto resolve participar dessa decisão, claro. Como não? Um dos jovens desmaia, e os outros resolvem emprestar as roupas dele para o morto, e levá-lo, também à farra.
E é assim que essa história se desenrola; o morto fazendo amizade com quem o matou (?), indo para a farra, e vivendo sua vida sem que os outros saibam que ele morreu (?).
Bizarro define. Mas é divertidíssimo.
Aproveito para agradecer novamente à Gléssia pelo livro! \o/
"Discutiram em seguida outras soluções e, por fim, consideraram que me lançar ao precipício,
um fundo precipício, que margeava a estrada, limpar o chão manchado de sangue,
lavar cuidadosamente o carro, quando chegassem a casa, seria o alvitre mais adequado
ao caso e o que melhor conviria a possíveis complicações com a polícia, sempre ávida de achar
mistério onde nada existe de misterioso.
Mas aquele seria um dos poucos desfechos que não me interessavam. Ficar jogado
em um buraco, no meio de pedras e ervas, tornava-se para mim uma ideia insuportável. E ainda:
o meu corpo poderia, ao rolar pelo barranco abaixo, ficar escondido entre a vegetação,
terra e pedregulho. Se tal acontecesse, jamais seria descoberto no seu improvisado túmulo
e o meu nome não ocuparia as manchetes dos jornais."
(p. 17)
Onde encontrar O Pirotécnico Zacarias: Obra completa, Murilo Rubião
PS: esse conto vai além do seu plot; há de se prestar atenção, por exemplo, ao fato de o morto-vivo ser um pirotécnico; a questão da explosão de cores no momento de sua "passagem"; a cor branca sendo mencionada em diversos momentos no conto, e por aí vai.
Oi Tati,
ResponderExcluirQue alegria ver que você leu um conto do Murilo! Espero que você possa ler outros contos dele futuramente. ;)
Gléssia
Louca pra ler!
ResponderExcluirmayara.com.br
ResponderExcluirestou lendo juntamente o livro Obra completa e estou me surpreendendo muito com a escrita do Murilo Rubiao e a forma como ele escreve seus contos, cada um deles, este o Pirotecnico Zacarias de inicio achei bem estranho depois que parei para refletir e agora lendo esse post cheguei a conclusão que gostei bem mais do que o esperado do conto
ResponderExcluirhttps://biahhysilva.wordpress.com/
O Rubião é um grande mestre. Muito bom vê-lo por aqui.
ResponderExcluirA minha conclusão ao terminar de ler o conto foi que o morto que ganhou o necrológio no jornal matutino da cidade foi na verdade o coitado do Jorginho (amigo tímido dos farristas) que deve ter enfartado e não apenas sofrido um simples desmaio quando o "morto" começou a falar. Mas ao mesmo tempo tem tantas outras possibilidades que ficar só no estranhamento talvez seja melhor
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