CONTO #9: O Caso do Sr. Valdemar (Edgar Allan Poe)



          Publicado em 1845, O caso do Sr Valdemar, ou O estranho caso do Sr. Valdemar, ou ainda A verdade no caso do Sr. Valdemar - depende da edição/tradução que você tiver em mãos - (The facts in the case of M. Valdemar), conta a história desse estranho "médico" que pratica o mesmerismo. Um tipo de hipnose com "magnetismo curativo", considerado uma grande fraude do século XVIII. Mas quem está contando? É um conto de Poe, é realismo fantástico. E ele pode. Enfim, temos esse doutor, especialista em mesmerismo, que logo no início do conto deixa claro o fato de essa prática ainda estar em estudo e, mesmo assim, já obter excelentes resultados. Ocorre que, ainda falta tentar usá-la de uma maneira singular. A saber: no ato da morte. Será possível conversar com um falecido após sua desencarnação, visto que o corpo e a alma estarão hipnotizados, ou seja, a mercê do hipnotizador? É este o experimento a ser feito com o consentimento do Sr. Valdemar, que já está nas últimas desde o início do conto.
          Neste conto temos Poe arabesco, grotesco, bem gore, mesmo. É um dos contos mais Zé do Caixão que escreveu. Daqueles em que, para você aí, amigo, que assim como eu também tem reações físicas a determinadas leituras, vai se pegar segurando a respiração para não sentir o cheiro descrito, ou semicerrando os olhos quando certas coisas grotescas, de verdade, aparecerem na história.

"Em duas ou três ocasiões, eu o fizera dormir com pouco esforço, mas ficara desapontado
quanto aos outros resultados que sua particular constituição me levava a prever.
Em período algum sua vontade ficava inteira ou positivamente submetida à minha influência e, no que toca a clarividência, nada eu podia realizar com ele que me servisse de base. Atribuí sempre meu insucesso, nesse ponto, ao seu precário estado de saúde.
Certos meses, antes de conhecê-lo, seus médicos o haviam declarado tísico, sem qualquer dúvida. E, na verdade, tinha ele o hábito de falar sobre a aproximação de seu fim como de uma questão que não devia ser lastimada nem se podia evitar."
(p. 224)

"- Sr. Valdemar... - disse eu - está adormecido?
Ele não deu resposta, mas percebi um tremor em torno dos lábios e por isso fui levado a repetir a pergunta várias vezes. A terceira repetição, todo seu corpo se agitou em um leve calafrio; as pestanas abriram-se, permitindo que se visse a faixa branca do olho; os lábios moveram-se lentamente e dentre eles, num sussurro, brotaram as palavras:
- Sim,... estou adormecido agora. Não me desperte! Deixe-me morrer assim!
Apalpei-lhe então os membros e achei-os tão rijos como dentes: o baço direito obedecia ainda à direção de minha mão. Interroguei de novo o magnetizado:
- Sente ainda dor no peito, Sr. Valdemar?
A resposta agora foi imediata, mas ainda menos audível do que antes:
- Dor nenhuma... Estou morrendo!"
(p. 228)

"Suponho que ninguém do grupo ali presente estava desacostumado aos horrores dos leitos mortuários; mas tão inconcebivelmente horrenda era a aparência do Sr. Valdemar naquele instante que houve um geral recuo das proximidades da cama."
(p. 229)

Absolutamente bizarro.

Onde encontrar O caso do Sr. Valdemar: Contos de Imaginação e Mistério (essa edição de Contos de Terror, de Mistério e de Morte é dos anos 90, portanto, difícil de encontrar)

Um comentário:

  1. olá Tati, este maravilhoso conto também está disponível no livro: Antologia da literatura fantástica que contém também um conto fantástico do Borges que eu te recomendo.

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