CONTO #2: O pé da múmia (Théophile Gautier)


          Publicado em 1840, O Pé da Múmia (Le Pied de momie) conta a história de um rapaz que resolve entrar em uma loja de curiosidades (antiguidades, e etc...) a fim de comprar um peso de papel.
Porque ele é diferentão, e "não suporta as bugigangas de bronze vendidas em papelarias e invariavelmente encontradas sobre todas as escrivaninhas". Pois bem. O que ele resolve comprar para ser seu peso de papel único e exclusivo? Obviamente. Um pé de múmia. Mas não se trata de um pé de múmia de porcelana, cerâmica, ou coisa que o valha. Não. Trata-se, literalmente, de um Pé. De. Múmia. Dá pra ver a "pele", as unhas e tudo. Ato contínuo, o rapaz vai para casa, instala sua raridade sobre seus papéis e vai para a balada com os amigos. De volta, tarde da noite, provavelmente de cara cheia, ele dorme. E acorda no meio da noite com o som de alguém andando pelo seu apartamento - em um pé só.
E por aí vai o conto, com direito a passagem pelo Egito. É um conto fantástico, visto que ultrapassa as barreiras do real, mas está longe de ser um conto assustador, veja bem. É narrado em primeira pessoa pelo jovem que compra o pé da múmia, que é uma criatura com um humor peculiar, digamos:

"Você sem dúvida já deve ter espiado, por trás dos vidros, alguma dessas lojas, que se tornaram numerosas depois que virou moda comprar móveis antigos e que o mais insignificante corretor
acha que precisa ter seu "quarto Idade Média.
Era um lugar a meio caminho entre ferro-velho, loja de tapeceiro, laboratório de alquimista e
ateliê de pintor. Nesses antros misteriosos, onde as persianas filtram uma prudente meia-luz, o que há de mais notoriamente antigo é a poeira."
(p.9)

          Este conto faz parte de uma coletânea de histórias de terror direcionada para o público infanto-juvenil, e é o único que não está na íntegra no livro*:

                                 
* note a importância de se ler a página da ficha catalográfica dos livros...

          Fico só imaginando o quê, afinal de contas, foi considerado pelos editores trechos que precisaram ser suprimidos para adequar o texto aos leitores em formação... Sempre penso que essa leniência toda para com os "leitores em formação", além de desnecessária, forma leitores preguiçosos... Mas, enfim, it's one woman's opinion.

Divertido.

Onde encontrar O pé da Múmia: MEDO - Histórias de Terror

9 comentários:

  1. wooow! fiquei baita interessada nesse livro e acabei de colocar na minha lista de desejos da amazon! :)

    ResponderExcluir
  2. Parece ser muito interessante. Mas só o conto, diga-se - e não de passagem. Essa mania de querer adequar o texto é, sem nenhuma prudência, de FODER!! Eu, que sou um desses "leitores em formação" leio esse trecho mais ou menos como "Alguns trechos do conto "O pé da múmia" foram suprimidos de sua versão original porque você é burro. Se fode aí lendo uma coisa que o autor não escreveu. Seu burro"

    Lastimável...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. HAHAHAHA! Exato! Bota o pessoal pra ler Crepúsculo que todo mundo entende, né? E vende a beça. Lixo de narrativa vendida como verdade. Parabéns, Daniel, por não comprar o discurso asinino que é vendido para enganar parvos e conformistas.

      Excluir
  3. Você é maravilhosa, Tati! Adorei! Já quero! Minha wishlist na amazon só aumenta!

    ResponderExcluir
  4. Boa noite!

    Confesso que seu jeito descontraído de resenhar esse livro, despertar em mim a vontade de lê-lo.
    Adicionando a minha TBR em 3, 2, 1...

    ResponderExcluir
  5. Não aguentei a curiosidade e encontrei o conto. Realmente, muito legal! Adorei!

    ResponderExcluir
  6. Vou procurar esse livro para comparar com o original, mas é compreensível se é para um público infanto-juvenil, e principalmente se vai ser lido na escola ou por indicação de professores, não dá pra por a molecada pra ler um Henry Miller por exemplo, sem cortar trechos.A Clarice Lispector fez isso com os contos de Poe, na Ediouro. E ficou bom, um Poe mais suave para as crianças e jovens lerem.Se bem que quando eu era criança e adolescente, detestava a literatura infanto-juvenil, eu queria ler coisas de adultos.Eu peguei uma época em que nas bancas havia sacos plásticos envolvendo livros e revistas mais adultas e ainda havia uma tarja escrita "desaconselhável para menores de 18 anos".Naturalmente quem mais comprava esses livros eram crianças e adolescentes escondidos dos pais e professores.Mas isso foi na época em que se comprava nas bancas com o troco dos pães, edições feitas de papel jornal e capa mais barata, hoje é tudo muito caro. O Júlio Emílio Braz é um dos autores que escreve bem para o público infanto-juvenil.Daqui a pouco vão me chamar de reaça e conservador, mas nem ligo. Quem tem filho pequeno sabe que na hora da gente ir comprar livros, eles escolhes os de adulto, mas a gente compra os infanto-juvenis mais "suaves" e sem cenas picantes, terroríficas demais ou palavrões.

    ResponderExcluir
  7. Eu devia ter meus 8 ou 9 anos quando li essa história, num livro de capa dura de uma coleção na estante do meu pai.
    Procurando pelo nome na internet, vim parar aqui.
    Posso dizer que é uma historia muito boa.
    Indico pra quem gosta de boa leitura.

    ResponderExcluir

<< >>