Publicado em 1855 junto com outros dois contos (Sebastopol em dezembro, e Sebastopol em maio), Sebastopol em agosto de 1855 é o último conto dessa trilogia na qual Tolstói compartilha com o leitor suas experiências como soldado durante o cerco de Sebastopol, uma cidade da Crimeia. Um mês depois, o combate em Sebastopol chegaria ao fim.
Aqui, Toltói nos conta a história desses dois irmãos que se reencontram a caminho de Sebastopol (que nenhum dos dois sabe exatamente onde fica), onde servirão. Durante esse encontro, conhecemos um pouco sua história familiar, entendemos seu relacionamento, inclusive ficamos sabendo o que o irmão mais novo esperava que acontecesse na guerra junto com seu irmão; um dos momentos mais interessantes do conto, aliás, em que ele imagina as atitudes heroicas que teria em batalha, e como morreria heroicamente após vingar a morte do irmão mais velho que tombaria em campo. Mal sabe ele...
Trata-se de um conto longo (quase 100 páginas), o que me leva a questionar se o critério para escolha dos contos dessa coletânea foi o de realmente separar contos e novelas e publicar somente os primeiros. Para mim, não só este como os demais contos de Sebastopol estariam mais para novela, mas, enfim...
"O oficial tinha sido ferido no dia 10 de maio por um estilhaço na cabeça, que continuava enfaixada, e agora, sentindo-se perfeitamente curado, havia uma semana, voltava do hospital para o regimento, que devia estar por ali - mas podia estar em Sebastopol, em Siévernaia ou em Inkerman, até agora ele não tinha conseguido saber ao certo."
(p.248)
"Os jovens oficiais, como concluiu logo ao primeiro olhar, tinham acabado de sair da escola de cadetes lhe agradaram, sobretudo porque o fizeram lembrar que o irmão, que também terminara a escola de cadetes, dali a alguns dias seria incorporado a uma das baterias de Sebastopol."
(p. 256)
"(...) Como não sente dentro de si as forças do mérito interior para inspirar respeito, o superior, por instinto, teme a proximidade dos subordinados e tenta, mediante manifestações exteriores de importância, afastar de si toda crítica. Os subordinados, vendo apenas esse lado exterior, ofensivo para eles, já não esperam, não raro injustamente, nada de bom por parte do superior."
(p. 300)
No dia seguinte, talvez no mesmo dia, todas essas pessoas seguirão com alegria e orgulho ao encontro da morte e morrerão com firmeza e tranquilidade; mas o único consolo da vida naquelas condições, que causam horror até à mais fria imaginação, na ausência de tudo que é humano e sem esperança de alguma saída, o único consolo é o esquecimento, a aniquilação da consciência. No fundo da alma de cada um, repousa aquela centelha nobre que faz dele um herói; mas essa centelha se cansa de arder com força - chega o minuto fatal e então, ela se inflama e ilumina os grandes feitos."
(p.306)
Onde encontrar Sebastopol em agosto de 1855: Contos Completos Liev Tolstói
Tati, sobre a classificação do texto ser tida como conto ou novela é um tanto complicada mesmo. Estou lendo o terceiro ainda (estou na metade), portanto falo pelo segundo; nessa mesma edição, no final do Sebastopol em maio, o autor/narrador fala estar terminando uma novela. Único motivo que veja para os dois contos estarem nessa edição é para deixar a trilogia completa, já que o primeiro é, de fato, um conto.
ResponderExcluir"O herói de fato de minha novela, a quem amo com todas as forças da alma, o qual me empenhei em reconstituir em toda a sua beleza, e que sempre foi, é e será belo - é a verdade" - Sebastopol em maio
No mais, edição belíssimo, trabalho excelente da finada Cosac e excelente contos. E por enquanto estou com você, Memórias de um marcador de pontos de bilhar é, talvez, o meu favorito também. Abraços :)