Meus
caros, se tem uma coisa ultrajante, que irrita até as pontas dos cabelos, é a
desonestidade intelectual. Some-se a isso a burrice desmedida ou a ignorância irrefreável e temos o inferno.
No entanto, ao que tudo indica, a preguiça de pensar e o pouco apreço pelo
melhor contraditório, são tão frequentes quanto os vitupérios que normalmente
acompanham tais comportamentos.
Não
sei se a cultura do Google, que deveria facilitar a bagaça, por via oblíqua,
contribuiu para piorar a malsinada fuzarca. O fato é que mesmo com respostas e
conhecimento ao alcance de poucos cliques, as pessoas parecem ter ficado mais
preguiçosas. E, a meu ver, a preguiça intelectual é a pior. Melhor um gordinho sagaz do que uma azêmola malhada.
Dito
isso, é de bom alvitre ressaltar que o uso da palavra "FALÁCIA" é tão frequente quanto a
sua utilização como artimanha em discussões ou debates, sejam elas em redes
sociais ou nos meios acadêmicos. E a verdade
é que isso faz pouca diferença. O raciocínio capenga é sempre nocivo,
contraproducente.
Em
que pese ouvirmos o termo com extrema assiduidade, me parece razoável
afirmar que poucos se importam em verificar seu significado. Basta ficar
apertado que a solução é gritar: “isso é uma falácia!”
Mas
será que é?
Falácia
é um argumento que carece de consistência lógica. Nem sempre é fácil reconhecê-la, mas tenha em mente que a conclusão de um argumento deve decorrer
de suas premissas. Se assim não o for, tal argumento não deve orientar uma conclusão
por invalidade, inconsistência, infundamentação ou simplesmente por não
contribuir com o deslinde da questão. As falácias involuntárias, quase sempre
oriundas de ignorância, são chamadas de “paralogismos”. As que visam enganar,
persuadir, normalmente prolatadas por idiotas da pior espécie, vez que optam por
“jogar sujo” ao dar o braço a torcer, declinando da oportunidade de aprender ou
aprimorar o diálogo, são conhecidas como “sofismas”.
Muito ainda poderia ser dito sobre falácias, o que impenderia um texto bem
mais extenso, minucioso e apropriado para o assunto. Não é o caso e nem o farei. Escrevi os parágrafos acima como ensejo para atacar 3 falácias específicas que
encontramos com estupenda constância em nosso dia a dia, principalmente nas
redes sociais. Resta dizer que muitas outras existem, mas abordarei as que mais me deixam puto. Disso não há dúvida. Nesse processo, tentarei ser o mais simples, primário e direto possível,
visto que o blog abriga informalidade, não possuindo quaisquer viés acadêmico. Não é seu fito ou direção.
A
primeira é a chamada “falácia do espantalho” ou do “homem de palha”. Essa é
foda, meus amiguinhos. Quem sabe do que estou falando reconhece que, ao se deparar com uma no
meio de uma discussão, a vontade é de dar um soco nas fuças, encerrando o certame precocemente. É ou não é? Mas
não o façam porque ela não é tão difícil de se desconstituir. Calma.
A
falácia do espantalho ocorre quando a refutação ou contraditório não atinge o
argumento original, mas sim outro criado justamente para ser atacado em seu
lugar, dando a impressão de coerência ou vitória. Ela distorce o real argumento para apresentar uma versão deficiente da ideia. É quando se investe contra o
que “não foi dito”, ao invés do que foi dito. Vamos lá, quem é casado ou namora
faz tempo entendeu exatamente a maldita.
Brincadeiras
fora, o “homem de palha” é extremamente desagradável porque “altera ou coloca palavras
que não foram ditas”, em boca alheia. E gente, isso é desagradável bagario. Meu conselho para quando isso se tornar
frequente é abdicar do debate. Não há propósito nenhum em se insistir.
Acreditem.
A
segunda falácia que quero abordar é a chamada “red herring” ou Falácia da
Diversão ou ainda, Ignoratio Elenchi. Igualmente fastidiosa, é uma falácia
ainda mais fácil de ser percebida e destruída.
No
caso da “red herring”, um ponto superveniente e desconexo ao debate original é
trazido à baila a fim de desviar a atenção da discussão primária, para então, gerar conclusão distinta.
Novamente...quem está em relação longa faz tempo, conhece bem. Sabe quando você
está discutindo se o melhor seria comprar um produto ou outro e, depois de
elencados os atributos de ambos - o que determinaria a melhor direção a se seguir - a
lógica parece favorecer a SUA escolha? E sabe quando seguido a isso brota de forma repentina e
violenta um “argumento” totalmente alienígena ao assunto? "- Você prefere
esse só porque o fulaninho do seu trabalho tem um”. Duas palavras: Red Herring
Notem que a discussão foi retirada do
produto e direcionada ao fato de que o desgraçado do fulaninho do trabalho tem um. É cristalino que o
fato do fulaninho infeliz ter o mesmo produto não contribui para a valoração em
comento. Não agrega qualidade ou defeito ao produto e, portanto não pode servir
de argumento para a conclusão. É mero desvio do assunto. Coisa de quem está perdendo. Bom, a menos que seja
esse mesmo exato produto que tenha determinado que a Angelina Jolie se
apaixonasse pelo Brad Pitt. Aí é um puta argumento e um puta produto. Maldita
geladeira!
Se
faz mister lembrar que a Red Herring se distingue da falácia do Homem de Palha
porque na última o argumento é deformado e, só então, atacado.
Por
fim vamos abordar a famosa Falácia do Apelo à Autoridade, ou Magister Dixit.
Igualmente nojenta e imbecil, tal falácia consiste em utilizar o apenas o nome, palavra
ou credencial de alguma “autoridade” para validar o argumento. Em síntese
apertada, é o caso do “é verdade, porque fulaninho que é pica das galáxias disse”, “é o correto porque
sicrano tem doutorado no assunto”, “beltrano é professor em Oxford, logo ele
está certo”. Ocorre muito também na primeira pessoa. "Eu estou correto, me graduei em Sorbonne, sou amigo do Neymar e esse ano vou ficar no camarote da Brahma". É a famosa "carteirada". Mesmíssima merda. Para ficar cristalino: é o argumento que deve sustentar a credencial e não o contrário.
Sendo assim, não é preciso ser brilhante para perceber que o que
importa para uma boa conclusão é o argumento de quem possui o título, à revelia do título em si. Pelo motivo simples de que a "autoridade" pode possuir
credenciais excepcionais e, ainda assim, estar flagrantemente equivocada. Acontece todos os dias. Super normal. Afinal, desde quando diploma garante
razão?
Por
favor, compreendam que, isso absolutamente não quer dizer que
argumentos calcados na autoridade de especialistas em determinado assunto
sejam necessariamente falácias. A falácia "in casu" consiste em utilizar a credibilidade
de determinada pessoa como fator suficiente para se chegar a uma conclusão.
Fácil de entender, não? Pelo que se tem visto na Internet...não.
E aí? O que "abunda"? Preguiça? A ignorância ou a desonestidade intelectual? Tudo junto? Desonestidade
fundamentada em orgulho vagabundo, com uma pitada talvez, de invejinha juvenil de quem faz e consegue e outra de
“pelasaquismo" inelutável? É provável que um pouco de cada coisa.
A
verdade é que no exato instante em que abandonamos o ponto nodal do argumento, mirando desvios, apelando a embromações e enganos, perdemos o sentido da
própria discussão em si. Melhor ir comer um brigadeiro, tomar uma breja e entregar a produção intelectual para quem de fato a almeja.
Então
que tal, quando decidirmos por engatar qualquer tipo de conversa minimamente
relevante, tentarmos nos ater ao que importa (premissas, argumentos, conclusão), deixando de lado a comezinha covardia e mesquinharia sentimental que acomete a abissal maioria dos
seres humanos para assuntos mais propícios a ela. Saiu um BBB novo, assina aquela porra e pronto. Ninguém precisa saber.
Existem momentos em que é melhor silenciar a pena, embatucar a voz. É condão dos sábios escolher como e quando se manifestar. “É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota, do que falar e acabar com a dúvida”. E sabe como eu sei que isso está certo? Foi Einstein quem disse. Tá, eu sei que foi Lincoln, mas seu eu disser que foi Einstein, fica mais legal ainda. Ninguém contesta. Ou contesta?
Existem momentos em que é melhor silenciar a pena, embatucar a voz. É condão dos sábios escolher como e quando se manifestar. “É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota, do que falar e acabar com a dúvida”. E sabe como eu sei que isso está certo? Foi Einstein quem disse. Tá, eu sei que foi Lincoln, mas seu eu disser que foi Einstein, fica mais legal ainda. Ninguém contesta. Ou contesta?
Olá, obrigado por nos brindar com mais um texto sagaz e pertinente, que traz uma análise sui generis da "intelectualidade" nos dias atuais.
ResponderExcluir:)
ExcluirEstava esperando este texto, sabia que sairia mais cedo ou mais tarde. Sua análise é incrível.
ResponderExcluirRs! Tá ligado, né William? Abçs...
ExcluirMe identifiquei com sua raiva. Infelizmente, não por causa da internet, mas das pessoas ao meu redor mesmo. Por muito tempo encontrando essas pessoas no colégio, no trabalho, na faculdade... E o pior é que elas ainda acham que sabem discutir! Então me tachavam de pessoa que não briga, que não debate ¬¬ Debater com esses tipos que jeito?! Enfim, consegui um emprego melhor e a maior felicidade é não ter que "argumentar" com esse tipo de novo. Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirAcho que esse foi o texto com o qual mais me identifiquei. Durante as últimas eleições eram constantes os argumentos do tipo "homem de palha", depois de um ponto optei por simplesmente não discutir mais ou não expor minhas opiniões.
ResponderExcluirParabéns pelo texto! Muito bem escrito e vale a pena ser lido.
HP, eu parei por um tempo de comentar em post, videos, pra evitar esse tipo de pessoa. Deixei de comentar em posts sobre política/religião, onde sempre aparecem homens de palha até na puta que pariu. É muito bacana discutir sobre um livro com outras pessoas, por exemplo, mas sempre vem o carinha vomitar a opinião dele e acabar com a diversão. "Não sei o que leigos querem falando sobre livros na internet", sim, eu já vi isso escrito por ai. O fato é o seguinte: eles querem falar, pensam que sabem falar, mas não sabem porra nenhum. Estão ali pra tentar incomodar.
ResponderExcluirObrigado por esse texto excelente. Abraço!
Acho que este link complementa e ilustra o que você disse aqui no post.
ResponderExcluirhttps://bookofbadarguments.com/pt-br/
Oq vc acha sobre a coleção percy jackson??
ResponderExcluirNão li e não pretendo. Mas acho que a Tati fez um vídeo sobre a coleção. ;)
ExcluirHp seus TEXTOS me tiraram de um MUNDO obscuro
ResponderExcluironde a ignorância FAZIA seu reinado A UNS 2 ANOS atrás
OBRIGADO pelo seu brilhantes Textos