O Demonologista (A.K.A Trollado pelo Capeta) - por Hpcharles

“Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira.” - (João 8:44)

E lá fui eu, ansioso por encontrar algo que finalmente chegue perto de O Exorcista, investindo na mesma ilusão acolhida pelo cinema e pela literatura faz décadas, me imbuindo na quimera de encontrar uma história do Canhoto tão legalzona como a da menina que vomitava sopa de ervilhas. Eu sei, a culpa é minha. E a vontade de ser feliz era tão grande que eu mesmo violei, em nome do sonho, uma regra que dificilmente quebro: “não confie no hype!"

Meus caros, se Andrew Pyper possui algum mérito em seu livro, é o de nos ensinar que a Bíblia realmente está desatualizada. O escritor então, em um momento de genialidade,  transforma o “Pai da Mentira” em um troll corriqueiro. Tipo aquele que entra em seu canal de Youtube de forma rotineira e escreve comentários e pedidos sem o menor sentido. Só para te aporrinhar e te deixar com um “WTF” na ponta da língua. Pois é…está aí, em síntese apertadíssima, o resumo do vilão de O Demonologista.

Mas como disse antes, a culpa é minha. É que foi fácil ficar atraído pela edição bacanuda da Darkside, com capa dura aveludada, lombada imitando envelhecimento, letras em alto-relevo. Coisa do demônio, se me permitem o péssimo mas oportuno trocadilho. E parou por aí. Nas trezentas e poucas páginas em que a história é contada, nada chega nem perto de merecer o esmero empregado na edição.

Basicamente o livro conta a desventura de um professor do Departamento de Inglês da prestigiosa Universidade de Columbia que, por ser especialista em mitologia e narrativa religiosa judaico-cristã, com trabalho acadêmico reconhecido por Paraíso Perdido, é “escolhido” pelo Capiroto para ser alvo de suas investidas. Interessante? Está bonito até aí? Pois é, mas o gigantesco, o colossal problema do livro, está no desenvolvimento dessa ideia.

Desde o início o autor falha em proporcionar verossimilhança à trama, abusando de apelos emocionais fúteis e acriançados. A vida pessoal do protagonista é desinteressante, cansativa e usada, em inúmeras oportunidades, como muleta para a capitalizar a narrativa. Os poucos momentos de tensão que o livro consegue criar, como por exemplo o primeiro encontro com o Coisa Ruim em Veneza, se perdem no meio de devaneios pessoais desnecessários e “chororôs” familiares. O rapto que amarra o catedrático aos acontecimentos, criando a teia dramática, logo esgota o leitor ao contrário de instigá-lo. Para se ter uma ideia dos recursos apelativos usados, nos é revelado, bem no início, que um ativo personagem tem câncer. Ocorrre que, tal moléstia, ao longo de todo o livro, não interferirá em nada nos fatos narrados e sofridos por ele. E tanto não interferirá que ele come fast food, transa (tenta), dirige por horas e horas a fio e por fim morre em LUTA CORPORAL. Enfim, uma pessoa saudável não faria melhor. Para que então a inserção de algo tão nefasto logo no começo da narrativa? Será que o autor percebeu que sua história em si não era dramática o suficiente? Por favor…

No entanto, não se pode dizer que esses detalhes incidentais sejam o nó górdio que torna o livro ruim. O que o faz péssimo é a falta de empatia que o leitor tem com os protagonistas somados à pobreza lógica, a fragilidade de sentido entre os acontecimentos descritos ao longo da narrativa. O professor em comento é uma pessoa fraca, sem carisma e com pouquíssimo elã para enfrentar uma entidade sobrenatural, supostamente onisciente e super-poderosa. E a entidade, que é onisciente e super-poderosa, também é…como direi…enfadonha a dar com o pau. Senhores, o demônio, que ao longo dos séculos sempre foi retratado como um sedutor, como dotado de inteligência e astúcia incomparável, como um perfeito estrategista, nesse livro não passa de um troll. Sua maior maldade nesse livro parece ser impor ao infeliz professor, ao longo da história inteira, entediantes e intermináveis viagens de carro sem justificativa suficiente. Lógico que o malfadado protagonista compra um Mustang para cumprir sua tarefa, o que só serve para acentuar sua crise de meia idade e torná-lo mais caricato ainda. Enquanto fica comendo comida de estrada e fugindo de um “matador do Vaticano” (quer clichê, então toma!), o desgraçado se depara com fenômenos sobrenaturais inseridos de forma claudicante, vazia, os fazendo prescindíveis por defeito de nexo. Em um livro que se propõe a narrar uma batalha do bem contra o mal, o mínimo que se espera é uma antítese bem construída, com lógica firme e coerência cristalina.

O leitor, coitado, cansa dessa road trip sem sentido, e ansiando por ser poupado desse inferno de livro (trocadilho infame n.2) mal se dá conta quando se pega torcendo pelo demônio, desejando que o Tinhoso leve, logo e de vez, o infeliz professor.

Cumpre ressaltar que apesar das inúmeras citações a Milton, tais remissões não ajudam à criação de uma lógica teológica consistente. O bolo não dá liga e as soluções encontradas pelo autor beiram o risível. Para se ter noção ao que me refiro, em determinado momento, o chatonildo do professor pega um taxi e o motorista, que é brevemente possuído (qualquer um parece poder ser possuído a qualquer tempo sem maiores explicações ou dificuldades - #assimficafacil), muda o destino da corrida para o famoso Edifício Dakota em NY. Como o taxista o deixou na esquina norte do edifício, o professor então tem a extraordinária intuição de que deve se dirigir ao estado de Dakota do Norte. Repare a “brilhante” saída inventada pelo autor para dar continuidade à trama. E só para ficar claro, com todo o respeito…é como se a porra do Diabo o tivesse enviado para o Piauí. Essas deduções e advinhações inconsistentes e pateticamente infantis, dignas dos bons tempos dos jogos do programa do Sílvio Santos, permeiam todo o livro, com o protagonista sendo estabalhoadamente empurado para cima e para baixo dentro dos Estados Unidos.

Meus caros, há muito pouco a se aproveitar nesse livro. Confesso que ao ler nos jornais e na Internet algumas notas sobre O Demonologista, fiquei atraído pela possibilidade de que uma boa história de horror houvesse sido criada. Mas não há nada. Os diálogos entre o protagonista e a entidade carecem de profundidade, de inteligência e até de coerência Bíblica, em se tratando de uma entidade ligada ao cristianismo. O autor conseguiu a peripécia de tornar o Demônio uma figura sem atrativos e criou como contraponto um “herói” sem viço, anêmico, sem virilidade, incapaz de gerar identificação ao leitor.

No entanto, se você comprou um exemplar de O Demonologista buscando apenas algum tipo de história de horror trivial, não se desepere. A encontrará. Ao terminar de ler, você certamente se recordará assustado o quanto pagou pela edição e se assombrará ao lembrar do tempo que foi jogado fora e que poderia ter sido empregado fazendo algo melhor, como por exemplo...ler um bom livro. E por fim sentirá aquele característico frio na nuca ao elocubrar se você só leu essa bobagem até o final porque gastou dinheiro, porque é masoquista, ou se foi o Demônio que te fez ler. É isso. Só pode. Foi ele. Maldito troll do inferno!




O Demonologista (The Demonologist)
Andrew Pyper
2015

A fileira de carrinhos (por Hpcharles)




Existem fases em que dormimos menos. O sono quica e te estraga não só para o dia seguinte, mas para a vida. Ficamos irritadiços, nos tornamos injustos e o café amarga. Mas os sonhos, pelo menos comigo, se tornam mais vívidos, significativos, mensageiros. Semana passada tive um sonho desses.
Me vi bem criança, ainda sem culpas ou arrependimentos, sem ter sido visitado pela política ou pela religião. Estava feliz. Sentado no chão de sinteco polido, montava uma longa fileira de carrinhos de metal. O sol entrava por uma fresta da janela não alcançada pela cortina colorida, aquecia a mim e clareava todo o recinto. Eu sorria mas ao mesmo tempo era meticuloso, obstinado em deixar a carreata retilínea. Ao notar um pequeno desvio de um dos carrinhos, me punha logo a ajeitá-lo, implacavelmente. Por vezes tentava usar o rodapé como parâmetro, mas não confiava em sua exatidão. Para aquela tarefa, só confiava em mim.
E ficava assim por muito tempo. Como se aquilo fosse imprescindível. Como se os mini para-choques dos mini veículos, necessitassem ser colados precisamente, um atrás do outro, de maneira peremptória e plena. O prumo era mais importante do que os carros, mais relevante do que a brincadeira, mais valioso do que eu. Era o que sabia naquele instante, naquele sonho.
No entanto, em determinado momento, de sobressalto, sem avisar ao sonhador, solto um riso divertido e dou um tapa nos “matchboxes”, desmanchando irremediavelmente todo o árduo trabalho que tivera. Após isso, me levanto e saio do quartinho como se aquilo tudo não tivesse sentido qualquer. Como se todo aquele esforço espartano para alinhar a fileira fosse inócuo, improfícuo, inútil em qualquer finalidade.
Acordo então e, novamente infestado de insônia, passo a deslindar a experiência que tive, buscando-lhe significado ou razão. Penso nos carros como momentos de minha vida e em como tentei ajustá-la, assim como fiz com a fileira. Me recordo de como tentava não deixar espaço entre os carrinhos, a fim de que se encaixassem de forma mais eficaz. Lembro dos momentos de minha existência em que o alinhamento parecia exato e o comboio era como uma hoste de vassalos rigidamente exigidos por suseranos para, depois, descobrir que não era. E que houve um desfile de carros alegóricos. Fantasias. E que a realidade é que a linha estava toda enviesada. E que minha vida também estava enviesada e eu não percebia. Apesar de, constantemente, tentar alinhá-la. Assim como não entendia como eu, quando criança quimera, fui capaz de desfazer tudo o que construí com apenas um tapa. Sem considerar que isso acontece todos os dias na vida de tantas pessoas.
O que saberia aquele garoto que eu, muito mais vivido, muito mais adulto, muito mais versado, não poderia saber? Me ergo da cama e me dirijo até a cozinha para beber um copo de água. Sento alguns instantes à mesa da sala e de repente tudo parece fazer sentido. Entendo tudo.
Descubro o que percebeu o menino ao destruir a fileira e que o homem não era capaz de desvendar. E não apenas isso, sabia o porquê. O sonhador não entendia o sonho porque não se cuidava de sapiência, mas de pureza. A perda da inocência, corolário nefasto de se viver a vida, é que passamos a enxergar algumas coisas e ficar cego à outras. Deixamos de confiar, de acreditar. Primeiro nos outros e depois paramos de confiar em nós mesmos, inúmeras vezes.
Nos concentramos em aparar arestas, em contornar crises, nos prendemos ao último carro da fileira, quando existem outros tantos mais à frente, mais atuais, que compõem a frota e que também foram importantes para que toda a linha, enfim, consignasse determinada figura. E então transformamos a caravana em cáfila, por dinheiro, e depois em cortejo fúnebre, por morbidez, ao invés de apenas brincar com os carrinhos. No final não vemos mais a fileira como ela é. Vemos a fileira, mais névoa. Vemos a fileira, mais as vicissitudes. Vemos apenas as vicissitudes. 
O que o pequeno menino sentado no quarto descobriu antes de mim, porque olhava e via, e depois fez questão de se esquecer para poder sobreviver, é que não fazia sentido ficar mexendo nos carrinhos. Mesmo em sua brincadeira soube que era perda de tempo, pois a linha nunca ficaria perfeita para ele. E não ficaria porque constatou que não é a fileira de carrinhos que fica torta. O que fica torta, na verdade, é a vida.

E então dormi para o menino poder voltar a brincar.

Diários de Leitura #3: Hans Cartorp causando no sanatório...

Rio de Janeiro,11 de junho, 6:30

Acordar antes das 7:00 é muito difícil...

Resolvi retomar a leitura daquele trambolh..., digo, livro incível, chamado
"A montanha mágica" , do Thomas Mann.

É. Aquele mesmo.
Que eu comecei a ler no mês passado.
Foi tirado da minha latinha de livros por ler (ou TBR, como preferir...)

Por motivo de força maior (aka uma matéria na Folha de SP dizendo que eu faria vídeos para os vídeos do vestibular...), resolvi ler os livros da lista de leitura obrigatória da FUVEST; e, atendendo a pedidos do pessoal que acompanha os vídeos, acabei incrementando a lista com os livros da UNICAMP (já me corrigiram, que o certo é dizer "vestibular da COMVEST"; preciso corrigir isso nos vídeos...
Na minha época a gente dizia "vestibular da unicamp", mesmo ;)

De modo que, a leitura da Montanha ficou em stand by.
Com muita dor no coração, porque, olha. Senhor Livrão, viu?

Portanto, cacei uma capinha protetora de livros que comportasse o calhamaço, e levei Hans Castorp para passear, hoje, na ecobag.

11:00

Não consegui ler muita coisa de manhã.
Vinte páginas, e olhe lá.
Vejamos se a tarde será mais produtiva.

16:00

Comi um açaí.
Achei legal compartilhar.

17:30

Hans Castorp está causando no sanatório.
E eu fiz mais um mini vlog:


19:00
enquanto os pimpolhos faziam prova, aproveitei para ler mais algumas páginas...
´Tá lá o Hans Castorp mandando cartão de get well soon (fique boa logo) para uma garota X do sanatório.
Não, ele não a conhece.
Mas resolveu mandar o cartão e flores só pra ver o que acontece.
Porque ele acha que ela vai morrer e ele precisa fazer alguma coisa.
Quero nem ver no que vai dar essas tramoias de Hans Castorp...
23:00
Não li nada quando cheguei em casa.
Amanhã tenho aula cedinho, e uma pilha gigantesca de provas para corrigir.
Ou seja.
Vou ficar um tempo sem saber o que mais Hans Castorp vai aprontar na montanha.
Saldão do dia:
35 páginas.

Ninguém vai ficar com Mary (por Hpcharles)


"The politically correct crowd is tolerant of all viewpoints, except those they disagree with."
Bobby Jindal

"I am greatly misunderstood by politically correct idiots."
Brigitte Bardot


Meus caros, está cada vez mais difícil dizer qualquer coisa que não seja na direção exclusiva da mais vulgar babação de ovo. A crítica negativa que frequentemente se mostra como a mais produtiva - vez que catapulta quem presta ao apuro - está sendo defenestrada sem dó nem piedade.

Tudo porque foi se criando ao longo do tempo uma geração de bebezões ultra sensíveis que, alimentados por mammys com leite Ninho servido em tijelinhas multicoloridas, não suportam serem contrariados em seus gostos e atitudes. É compreensível. Tais párvulos que provavelmente se comportavam como minúsculos déspotas do lar, césares em seus núcleos familiares, precisam agora, expandir seus impérios. Nesse diapasão, mal lhes cabe o pequeno teclado, ansiosos que são pelo infinito internético.

Atabalhoados e irascíveis, acreditam soberanamente que a vagabunda cultura que ajudaram a implementar e que basicamente consiste em alardear que se sentem ofendidos por desigualdade e forma de discurso, geraria, em vilões sinceros mas desbocados, a expectativa ou obrigação de ligarem a mínima para o espinho que entrou em seus pezinhos delicados. Mas não gera. Não dá certo. Funciona apenas com os paumolescentes, os acabadiços e com os xodós da vovó. Na verdade, a outra parcela, aquela despudorada - na qual me incluo - , caga um quilo para esse tipo de mentalidade trivial, eivada de obsceno passadismo.

Como afirmei, apesar de não dar a mínima para esse tipo de manifestação no sentido intelectual da bagaça, ou seja, não me desvio do que pretendo dizer para agradar a ignorância e a sensibilidade de cristal alheia, já que ainda não resido na Coreia do Norte, é razoável consignar que o M.O. desses pascácios “seiláquenzinhos” enche os colhões de qualquer um que seja um pouco mais esclarecido.

Sim, porque para eles tudo é pessoal. A porra do autor que os caras curtem pode morar no Alasca no meio do gelo e levar seus livrinhos aos correios para serem despachados para a editora usando trenós puxados por um par de huskies, mas para eles é como se fosse o tio querido que conta piadas sem graça nos feriados. É íntimo, brother pacas! Feliz em seu iglu, ele não está nem aí para os capiaus, que como rábulas desengonçados, insistem em lhe defender com a própria vida e alma, mesmo que ele nunca tenha pedido por isso. Nem de longe. Mas sabe como é, né?

A regra é que só se pode ou se deve dizer que é bom, caso contrário o apropriado é calar silente. Se alegar que é gordo, feio, fedido, bolorento, meio barro, meio tijolo, como um tradicionalíssimo cagalhão matinal, não vale. Mesmo que seja e que você explique porque é com toda a paciência, assim como se explicaria àquela sobrinha de 5 anos de idade que ainda tem sua capacidade cognitiva limitada e adora brincar com cubinhos lógicos.

Esse LIXO comportamental é o pai do debate asnático, do respeito não conquistado, de tudo aquilo que não foi dito quando poderia ou deveria ter sido. E é essa merda que parece receber cada vez mais adubo nas redes sociais. Gente com pouco o que fazer e que parece direcionar o tempo – que tem de sobra – para ser a diretriz moral do mundo, se prestando ao desserviço de determinar o quê ou como, eu ou você, podemos avaliar algo. Mesmo que o façamos em nosso canal/página/site, o caralho que for. Mesmo que tenhamos lido muito mais sobre o assunto do que a pessoa, que preguiçosa (invariavelmente o é), não tenha sequer se dado ao trabalho de dar um “Google”.

Pois é assim que caminha a porra da humanidade. Um batalhão de nenéns precocemente desmamados, chorões sem o picolé, que urgem por encaixotar as opiniões, as nivelando por baixo, ou chutando pra escanteio. Que bosta. Vai ver é a fralda que fica suja em cada contradita digitada.

Parvos, se arrepiam com qualquer “xingamentozinho”, mas não percebem que a opressão educada que apregoam é cem vezes mais ofensiva e irritante. Tem que ser o time deles e jogar no esquema que escolheram. "Mas eu usei com "TODO O RESPEITO" na frase e fui ofendido". Sim, porque para esses príncipes, ao que tudo indica, a cortesia espúria impermeabilizaria a ofensa. Ora, vão se foder. Mas vão...por favor.

Quantos desses viram ou riram a valer com as comédias sem limites dos irmãos Farrelly? Será que foram lá bombardeá-los por conta da graça com retardados, anões e cia? O que seria de filmes como “Quem vai ficar com Mary” e “Eu, Eu mesmo e Irene”, com essa trupe de pândegos involuntários que infesta o mundo virtual?

Podem gostar do que há de pior, de mais estúpido, do que é mais pobre esteticamente, das rimas vomitadas por ignaros, do humor previsível, dos livros que não deveriam ter sido escritos, da mesmice coloridinha, do estupro da arte por editoras, estúdios, progaganda e comércio, mas, ainda assim, temos que dosar nossas críticas pelo medidor deles. Melhor isso do que a verdade certificada, embasada, bem argumentada. O discurso é pífio, mas a tolerância deve restar lá, no pedestal de marfim. Não importa o preço. Tudo para o cagão ficar bem. Quer um cafuné, bebê?

Maldita condescendência covarde e improdutiva!

Afirmo sem pudor ou medo de errar que já passei do limite algumas vezes e já vi muitos outros passarem também. Mas me recordo justamente "desses outros", estivessem certos ou errados. Foi com eles que acordei, que me motivei, que percebi que deveria aprender mais. Com aqueles que não me deram desculpas esfarrapadas, que não passaram a mão na cabeça, que romperam com a hipocrisia, que caminharam em outra direção, ao arrepio da manada.

Destarte, se desejam morrer abraçados com a mediocridade de tal comportamento, se almejam como meta o óbvio, se optam por viver a vida inteira sem embates intelectuais, fingindo que está tudo bem e utilizando a palavra “respeito” como escudo de areia, ótimo. Mas, nesse processo, por obséquio, tentem não cagar regras para quem não quer morrer afogado, abraçado com a bigorna.

Não é por nada, não. É só porque é chato e cansativo pra caralho. E também porque é burrice. Sempre existirá alguém que não irá ligar a mínima para a sua sensibilidade perfunctória, alienada, imberbe. E não, não escrevi esse texto porque me preocupo com aqueles que vivem na segurança de seus condomínios politicamente corretos. Me preocupo é comigo mesmo. Sim, porque quando a bolha estoura e o padrão a ser adotado é o restritivo, inclusive legalmente, ninguém pode dizer é nada. Aí você vai chorar. Justamente porque estão tentando cercear aquilo que VOCÊ pode dizer ou não. Porque alguém, em algum lugar, está trabalhando para determinar o que é correto ou não a ser reproduzido. Porque estão tentando impor padrão a você, como você agora faz com os outros.

Como é fácil perceber, a minha preocupação é totalmente egoísta. Eu genuinamente quero que você se foda com a cultura da indulgência gratuita e leve junto a sua enfadonha glamourização do mimimi. Isso foi ofensivo o suficiente para você? Pois fique feliz...ainda há espaço para a ofensa.

E então Einstein disse... (por Hpcharles)


Meus caros, se tem uma coisa ultrajante, que irrita até as pontas dos cabelos, é a desonestidade intelectual. Some-se a isso a burrice desmedida ou a ignorância irrefreável e temos o inferno. No entanto, ao que tudo indica, a preguiça de pensar e o pouco apreço pelo melhor contraditório, são tão frequentes quanto os vitupérios que normalmente acompanham tais comportamentos.
Não sei se a cultura do Google, que deveria facilitar a bagaça, por via oblíqua, contribuiu para piorar a malsinada fuzarca. O fato é que mesmo com respostas e conhecimento ao alcance de poucos cliques, as pessoas parecem ter ficado mais preguiçosas. E, a meu ver, a preguiça intelectual é a pior. Melhor um gordinho sagaz do que uma azêmola malhada.
Dito isso, é de bom alvitre ressaltar que o uso da palavra "FALÁCIA" é tão frequente quanto a sua utilização como artimanha em discussões ou debates, sejam elas em redes sociais ou nos meios acadêmicos. E a verdade é que isso faz pouca diferença. O raciocínio capenga é sempre nocivo, contraproducente.
Em que pese ouvirmos o termo com extrema assiduidade, me parece razoável afirmar que poucos se importam em verificar seu significado. Basta ficar apertado que a solução é gritar: “isso é uma falácia!”
Mas será que é?
Falácia é um argumento que carece de consistência lógica. Nem sempre é fácil reconhecê-la, mas tenha em mente que a conclusão de um argumento deve decorrer de suas premissas. Se assim não o for, tal argumento não deve orientar uma conclusão por invalidade, inconsistência, infundamentação ou simplesmente por não contribuir com o deslinde da questão. As falácias involuntárias, quase sempre oriundas de ignorância, são chamadas de “paralogismos”. As que visam enganar, persuadir, normalmente prolatadas por idiotas da pior espécie, vez que optam por “jogar sujo” ao dar o braço a torcer, declinando da oportunidade de aprender ou aprimorar o diálogo, são conhecidas como “sofismas”.
Muito ainda poderia ser dito sobre falácias, o que impenderia um texto bem mais extenso, minucioso e apropriado para o assunto. Não é o caso e nem o farei. Escrevi os parágrafos acima como ensejo para atacar 3 falácias específicas que encontramos com estupenda constância em nosso dia a dia, principalmente nas redes sociais. Resta dizer que muitas outras existem, mas abordarei as que mais me deixam puto. Disso não há dúvida. Nesse processo, tentarei ser o mais simples, primário e direto possível, visto que o blog abriga informalidade, não possuindo quaisquer viés acadêmico. Não é seu fito ou direção.
A primeira é a chamada “falácia do espantalho” ou do “homem de palha”. Essa é foda, meus amiguinhos. Quem sabe do que estou falando reconhece que, ao se deparar com uma no meio de uma discussão, a vontade é de dar um soco nas fuças, encerrando o certame precocemente. É ou não é? Mas não o façam porque ela não é tão difícil de se desconstituir. Calma.
A falácia do espantalho ocorre quando a refutação ou contraditório não atinge o argumento original, mas sim outro criado justamente para ser atacado em seu lugar, dando a impressão de coerência ou vitória. Ela distorce o real argumento para apresentar uma versão deficiente da ideia. É quando se investe contra o que “não foi dito”, ao invés do que foi dito. Vamos lá, quem é casado ou namora faz tempo entendeu exatamente a maldita.
Brincadeiras fora, o “homem de palha” é extremamente desagradável porque “altera ou coloca palavras que não foram ditas”, em boca alheia. E gente, isso é desagradável bagario. Meu conselho para quando isso se tornar frequente é abdicar do debate. Não há propósito nenhum em se insistir. Acreditem.
A segunda falácia que quero abordar é a chamada “red herring” ou Falácia da Diversão ou ainda, Ignoratio Elenchi. Igualmente fastidiosa, é uma falácia ainda mais fácil de ser percebida e destruída.
No caso da “red herring”, um ponto superveniente e desconexo ao debate original é trazido à baila a fim de desviar a atenção da discussão primária, para então, gerar conclusão distinta. Novamente...quem está em relação longa faz tempo, conhece bem. Sabe quando você está discutindo se o melhor seria comprar um produto ou outro e, depois de elencados os atributos de ambos - o que determinaria a melhor direção a se seguir - a lógica parece favorecer a SUA escolha? E sabe quando seguido a isso brota de forma repentina e violenta um “argumento” totalmente alienígena ao assunto? "- Você prefere esse só porque o fulaninho do seu trabalho tem um”. Duas palavras: Red Herring
Notem que a discussão foi retirada do produto e direcionada ao fato de que o desgraçado do fulaninho do trabalho tem um. É cristalino que o fato do fulaninho infeliz ter o mesmo produto não contribui para a valoração em comento. Não agrega qualidade ou defeito ao produto e, portanto não pode servir de argumento para a conclusão. É mero desvio do assunto. Coisa de quem está perdendo. Bom, a menos que seja esse mesmo exato produto que tenha determinado que a Angelina Jolie se apaixonasse pelo Brad Pitt. Aí é um puta argumento e um puta produto. Maldita geladeira!
Se faz mister lembrar que a Red Herring se distingue da falácia do Homem de Palha porque na última o argumento é deformado e, só então, atacado.
Por fim vamos abordar a famosa Falácia do Apelo à Autoridade, ou Magister Dixit. Igualmente nojenta e imbecil, tal falácia consiste em utilizar o apenas o nome, palavra ou credencial de alguma “autoridade” para validar o argumento. Em síntese apertada, é o caso do “é verdade, porque fulaninho que é pica das galáxias disse”, “é o correto porque sicrano tem doutorado no assunto”, “beltrano é professor em Oxford, logo ele está certo”. Ocorre muito também na primeira pessoa. "Eu estou correto, me graduei em Sorbonne, sou amigo do Neymar e esse ano vou ficar no camarote da Brahma". É a famosa "carteirada". Mesmíssima merda. Para ficar cristalino: é o argumento que deve sustentar a credencial e não o contrário.
Sendo assim, não é preciso ser brilhante para perceber que o que importa para uma boa conclusão é o argumento de quem possui o título, à revelia do título em si. Pelo motivo simples de que a "autoridade" pode possuir credenciais excepcionais e, ainda assim, estar flagrantemente equivocada. Acontece todos os dias. Super normal. Afinal, desde quando diploma garante razão?
Por favor, compreendam que, isso absolutamente não quer dizer que argumentos calcados na autoridade de especialistas em determinado assunto sejam necessariamente falácias. A falácia "in casu" consiste em utilizar a credibilidade de determinada pessoa como fator suficiente para se chegar a uma conclusão. Fácil de entender, não? Pelo que se tem visto na Internet...não.
E aí? O que "abunda"? Preguiça? A ignorância ou a desonestidade intelectual? Tudo junto? Desonestidade fundamentada em orgulho vagabundo, com uma pitada talvez, de invejinha juvenil de quem faz e consegue e outra de “pelasaquismo" inelutável? É provável que um pouco de cada coisa.
A verdade é que no exato instante em que abandonamos o ponto nodal do argumento, mirando desvios, apelando a embromações e enganos, perdemos o sentido da própria discussão em si. Melhor ir comer um brigadeiro, tomar uma breja e entregar a produção intelectual para quem de fato a almeja.
Então que tal, quando decidirmos por engatar qualquer tipo de conversa minimamente relevante, tentarmos nos ater ao que importa (premissas, argumentos, conclusão), deixando de lado a comezinha covardia e mesquinharia sentimental que acomete a abissal maioria dos seres humanos para assuntos mais propícios a ela. Saiu um BBB novo, assina aquela porra e pronto. Ninguém precisa saber.

Existem momentos em que é melhor silenciar a pena, embatucar a voz. É condão dos sábios escolher como e quando se manifestar. “É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota, do que falar e acabar com a dúvida”. E sabe como eu sei que isso está certo? Foi Einstein quem disse. Tá, eu sei que foi Lincoln, mas seu eu disser que foi Einstein, fica mais legal ainda. Ninguém contesta. Ou contesta?
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