I sell the things you need to be
I'm the smiling face on your T.V.
Oh, I'm the cult of personality
I exploit you still you love me?
I told you one and one makes three
Oh, I'm the cult of
personality
“Cult of personality” (Living
Colour)
“Todo o mal do mundo vem de
nos importarmos uns com os outros,
Quer para fazer bem, quer para
fazer mal.”
Fernando
Pessoa (Alberto Caeiro)
Semana
que passou a Tati deixou um post em seu Facebook convidando às pessoas para que deixassem perguntas que seriam, oportunamente, respondidas em vídeo. Ela não me
disse, mas a conhecendo como conheço, sei que tal proposta tem, como finalidade
precípua, oferecer um pouco mais de atenção e contato com os assinantes do
canal, vez que o tempo anda exíguo para atender a comentários e afins. Até
aí, tudo bem. Louvável.
Mas não
foi com tanta surpresa que percebi uma grande parcela de perguntas de cunho
pessoal, quiçá intrusivas e o pior, largadas com absoluto tom de normalidade. Perguntas
que só deveriam ser feitas a amigos antigos, a familiares próximos, ou proferidas por fiscais do Imposto de Renda.
Não penso
que essa falta de “Simancol” seja responsabilidade única de quem faz as
perguntas. Existe um contexto cada vez mais abrangente de ode ao improfícuo e
ao desnecessário em nossas relações sociais. E essa “culpa” precisa ser
repartida.
Não são
raras as vezes em que atores, músicos, celebridades ou pseudo celebridades, dão
azo à intromissão em suas vidas particulares. Incentivam o contato
impertinente, as sugestões descabidas, as propostas deletérias. Por interesse e
conveniência. Menos raros ainda, são os momentos, em que cansados da intromissão
que outrora cultivaram, se tornam arredios ou se vitimizam justamente pelo "excesso de
exposição".
Eu
compreendo que estamos carentes de exemplos, de modelos. Nossos políticos são
os piores, nossos jogadores – antigo orgulho nacional oriundo de conquistas que
pretensamente nos redimiriam de nossas fraquezas – são, via de regra,
analfabetos funcionais. Nossa música ganha cada vez mais repercussão pelas rimas
fáceis, escatológicas, pela qualidade duvidosa. Nossos educadores, cientistas,
pesquisadores, mal são lembrados.
Os
programas de auditório calcificam apedeutas nas telas, glorificam asininos
bombados, espalham que leitura e erudição é absolutamente secundária em um
universo que santifica o dinheiro e a fama, ao arrepio do conhecimento e do
estudo.
Não me entendam
mal, cada um é livre para gostar do que quiser, desde que não encha o saco do outro.
Podem ouvir “Lepo Lepo” o dia inteiro. Sério. O dia inteiro. Os ouvidos não são
os meus. Mas o que quero discutir e trazer à balha é: não seria mais produtivo se analisar o porquê do sucesso de tais excrescências antes de exaltá-las? Não é melhor isso à anestesia ou hipnose sonora? Pensar acerca do fenômeno da fama vulgar e suas consequências em si. De seu real valor, se é que existe algum. Se existe, de fato, talento por trás da propaganda?
Não seria
mais interessante, para todos, quando houvesse uma oportunidade, perguntar
sobre a obra da pessoa a quem se admira - seja ela quem for – do que se
perquerir qual foi o café da manhã por ela degustado? Ou onde o "ídolo" vive, ou quando acorda, ou
se prefere Claro a Tim? A crase sanguínea do ponto que agora levanto é:
QUE PORRA INTERESSA ISSO?! O QUE IMPORTA A VIDA DA PESSOA EM SI?! POR QUE QUERER SABER SOBRE O QUE NÃO TEM NENHUMA RELEVÂNCIA FORA DA MEDIOCRIDADE DO COTIDIANO?!
A rotina
de vida da pessoa, suas abluções diárias, só interessam a ela e com quem ela escolhe para dividir sua intimidade. Tenha juízo, tenha noção, seja crescidinho. Não ajude a fomentar uma geraçãozinha de "stalkers", que acredita que é seu direito saber tudo sobre seu objeto de afeto. Que parvos que são, já se julgam "miguxos" desde sempre. Que já podem sentar na janela, só porque curtem. Vamos amadurecer, por obséquio?
“Ah, mas fulaninho é pessoa pública”. Sim, se esse fulaninho deu margem a esse tipo de inserção em seu cotidiano, ele que se foda. De verde e amarelo. Mas será que são todos iguais? Sério? Sejamos justos.
“Ah, mas fulaninho é pessoa pública”. Sim, se esse fulaninho deu margem a esse tipo de inserção em seu cotidiano, ele que se foda. De verde e amarelo. Mas será que são todos iguais? Sério? Sejamos justos.
Acho
natural que se pergunte a um burrico qualquer, desses paridos às dúzias por realities
shows e vendidos a preço de ouro por tvs coalhadas de LIXO, quantas abdominais
ele faz por dia. Que se questione o quanto de silicone foi posto para encher os seios de mulheres
vazias que “abundam” em revistas publicadas para gente com Q.I. de dois
dígitos. Afinal, o que mais se poderia indagar? O quê sairia dali? Não se vai esperar
que esse pessoal seja capaz de dividir o átomo, não é mesmo? Mas realmente, está todo mundo
na mesma cesta? Ou apenas é interessante que se ponha todo mundo na mesma cesta? Interessante para quem? Quem está enchendo o reto de dinheiro enquanto se induz a população a fazer as perguntas erradas? Na dúvida, nivela por baixo.
E aliás,
quem curte o que é fácil, tem mais é que pastar mesmo, me desculpe. Já perdi as
esperanças faz tempo. Quer consumir bosta e ainda rir com com os dentes sujos, “suit
yourself”. Aos coprófagos, minhas sinceras estimas de "bon voyage". Mas por outro lado, se você pertence ao lado bom da força e fecha
com o certo, vamos botar a cuca para funcionar. Vamos ampliar nossa curiosidade, nossa fome POR IDEIAS!
O meme já urra, pertinente: “pare de fazer pessoas estúpidas famosas”! E eu completo, “e pare
de cuidar da vida dos outros”. Sim, é valioso se preocupar com o bem estar do
próximo, o que é diferente. Mas se for o caso. Ou você acha que se “preocupar” com o outro é
diminuir a velocidade quando você vê um acidente na estrada? Isso não é
preocupação, é morbidez. Preocupação é parar para retirar o ferido das
ferragens.
Gente,
foda-se a Marquezine. Sério. Foda-se a Marquezine! E que junto com ela vá o
Neymar, o Bieber, a Selena, a Anitta, o gol em impedimento repetido 47 vezes, a
Carolina Dieckman, o vencedor do BBB (ainda existe essa porra, né?) e o Sertanejo
Universitário. F-O-D-A-S-E! Foda-se o castelo e a banheira de Caras e o Paulo
Coelho dentro dela. Quando mencionarem essa galera, finja que não ouviu e salve uma criança na África. Você não é gado e o que eles te oferecem é pasto. Simples assim.
Quero
saber da obra. Do trabalho. Das ideias. São boas? Relevantes? Por quê são? Sim, por
quê o são? Por quê vendem ou por quê são boas? E não me venha com relativismo.
Existem coisas ruins e coisas boas independentemente da minha ou da sua
opinião. Paremos com a hipocrisia que justifica o conforto. Ou alguém aí acha que o nazismo foi bom? Tá, faz o seguinte, deixa o Serenata de Amor e come o Caribe da próxima vez.
Essa
volta toda, meus caros amigos, foi só para deixar claro que, por vezes,
perdemos genuínas oportunidades de amealhar cultura, conhecimento, ao
abdicarmos das perguntas ou questionamentos produtivos em detrimento da pobreza
intelectual e da “palhaçadinha” infantilóide da fofoquinha viciada de fundo quintal. Fofoca não é "informação". Fofoca é lixo. Te dizem que é importante, mas não é.
Admiro
inúmeras pessoas. A abissal maioria delas já morreu faz muito tempo. Mas imagino
que se houvesse a incrível oportunidade de perguntar a algum desses incríveis seres humanos como eles chegaram a certas conclusões a respeito de determinados assuntos, como foi o processo
criativo empregado, quais foram as influências que os levaram a serem o que foram,
não enterraria esse momento querendo saber se preferem ovo frito ou cozido.
Pegaram a maldade? Então…é isso, caramba!
Por mais
que nossa curiosidade, resultado de admiração (em alguns casos é patologia
mesmo, não se engane), seja compreensível, é possível e importante domá-la por
um bem maior. E tal bem reside na direção ao conhecimento, na verdadeira ajuda
para sua vida que uma pessoa a quem você curte, pode compartilhar pelo que
construiu com talento e inteligência.
Sendo
assim, quando for o caso, se a oportunidade surgir, faça cinco, dez, vinte
perguntas. Mas TODAS elas sobre as ideias que tais pessoas que você admira,
tiveram. Sobre a fagulha criativa, sobre a benção intelectual, sobre suas
motivações no caminho do saber, sobre o norte no amealho da sapiência.
Esqueça o infrutífero, o supérfluo, deixe de ser bobo. Se for para não caminhar para frente, é melhor
chupar um picolé, comer um brigadeiro, olhar para o céu despretensiosamente a
fim de tentar prever a chuva que talvez venha. Tudo isso vale mais do que saber
qual é a marca do carro novo do garoto propaganda da vez.
Ei, senhor Umberto
Eco...tinteiro ou esferográfica? Grato.
CLAP. CLAP, CLAP, CLAP, CLAP...
ResponderExcluirÉ isso!
\o/
Sei lá, as pessoas e essa necessidade de fiscalizar tudo e a todos ao redor. Tanta coisa pra se preocupar com a própria vida... tantas ideias para serem compartilhadas.
ResponderExcluirEu não entendo, juro que não.
Postei um comentário no YouTube falando que não achava normal a pessoa questionar onde a Tatiana mora, por exemplo . Logo alguém respondeu que era normal querer saber tudo sobre a pessoa que admira. Nem me dei ao trabalho de responder, porque a geração atual foi criada venerando famosos e bisbilhotando suas vidas. Seu texto é excelente, mas estas pessoas acreditam que querer saber da vida pessoal de outras pessoas é mais que normal e não há argumentos que as convença do contrário. É um erro de criação, estas pessoas cresceram acreditando que a exposição da intimidade é legal.
ResponderExcluirMais do que normal, saber tudo sobre as vidas dos outros agora parece que virou um "direito", que se você não compartilha da evasão de privacidade você:
Excluir1) È métida e se acha melhor do que todo mundo;
2) É um solitário patético que não tem amigo nenhum;
3) È uma pessoa excêntrica estranha que vai morrer sozinho.
Concordo, concordo e concordo!
ResponderExcluirAliás, estou procurando algum texto aqui que eu discorde um pouco...rs
Sabe, tenho estado triste por ver como as pessoas estão tão... tão... "banheira de Caras" ultimamente.
Mas, são blogs como esse aqui que me indicam esperança. Obrigada! :)
Verificar que existe espaço para o conhecimento, a arte, a cultura; isso me permite viver e não somente sobreviver.
Qualquer coisa que vocês escrevam ou falem, independente se eu concordo ou não, já ganhou minha atenção e minha estima.
Até mais!
http://resenhasdalu.blogspot.com.br/
Sei que o texto é sério, muito sério. Mas não pude deixar de achar certa graça, porque é pura verdade. E como você bem exemplificou, no caso da Tati isso incomodou tanto a ela quanto a você. Joga isso pro mundo. Que interessa a vida pessoal de fulano? Vou um pouco mais fundo, o que me interessa a opção sexual de alguém, com quem ela saiu, o que a famosa do momento está comendo?
ResponderExcluirA parte do seu texto sobre o que perguntaria pros seus ídolos mortos, me fez lembrar sobre biografias. O fato de eu não gostar muito de ler. Porque pra mim, dependendo da biografia, vai falar muito sobre a vida pessoal do autor. E isso não me interessa. Acho a pessoa incrível por suas ideias, não pelo que ela faz no pessoal. Não digo que não quero saber nada do autor. Quero, mas existe um limite. Por exemplo, gostei de saber que o tolkien era perfeccionista e quase nao terminou de escrever O Senhor dos Anéis, porque nunca dava-se por satisfeito.
Só espero que toda essa situação não desmotive totalmente o que vocês dois fazem aqui. Vídeos sobre livros, musicas, séries e textos. Existem pessoas que ficam no automático, que só dão patadas. Mas repito é muito bom poder ver na internet coisas boas. Bons textos e vídeos legais. Muita gente gosta e admira o que vocês fazem.
Ah sim, só pra completar : Entendedores entenderão sobre Humberto Eco. incrível texto!
Pois é, Fernanda. Temos muitos problemas, mas talvez o maior seja a mentalidade que impera. Se tornou normal e até louvável o culto à personalidade com seus desdobramentos. Algo totalmente inútil quando não maléfico. Conhecer o autor, em minha opinião, só interessa se ajudar a compreender o seu método criativo e suas influências. Saber o que a mãe dele fazia no almoço de domingo não é relevante.
ExcluirEstamos meio cansados sim. Faz tempo. Acho que qualquer um ficaria. Mas, por outro lado, existe um recado a ser dado, opiniões a serem expostas. Isso pesa.
Grande abç.
Show!!!!
ResponderExcluirÓtimo texto! Mas o mais triste é saber que quem realmente precisava lê-lo para se tocar um pouco do quão ignóbil está sendo, primeiro verá que o texto é grande e desistirá de ler.
ResponderExcluirObrigada por esse texto. Muito obrigada mesmo!!!!!!!
ResponderExcluirSó um comentário a fazer: você e a Tati são excelentes!!!
ResponderExcluir:)
ExcluirDigno!
ResponderExcluirVocês (Tati e Hpcharles) são tão inteligentes e admiráveis que realmente dá vontade de saber o que vcs comem e onde vivem, pq será que é no mesmo planeta/ país que o meu? o país do lepo-lepo e das rimas fáceis como vc citou rsrs. Nos ensinem a ser como vcs!!! Juro que estou tentando melhorar meu nível de conhecimento e fugir disso tudo que vc descreveu acima mas as vezes é tão difícil. É lepo-lepo nas rádios e nos sons dos carros, é BBB na TV, etc... estamos inseridos num mar de baboseiras que já está tão enraizado para a maioria das pessoas que quando alguém chega e diz: pera aí, eu não curto isso!! parece que essa pessoa veio de outro lugar do universo. Admiro muito seus textos. Quando crescer quero ser como vcs! Abçs
ResponderExcluirInfelizmente as pessoas que merecem esse "tapa na cara" não conseguiria ler até a terceira linha, seria demais para elas. O teor da conversa junto com seu grau de seriedade seria uma faca aniquilando seus neurônios (se existirem obviamente). Como sempre, ótimo texto.
ResponderExcluirExcelente texto, e ainda melhorou meu dicionário -)
ResponderExcluirum amigo meu adora seu blog e me indicou 02 textos.
isso é bacana, esse boca a boca.
Acredito que atitudes como estas aos poucos vão se espalhando, e conversas como "cara, como você conseguiu chegar a essa conclusão?" vão aumentando. sou otimista.
E uma coisa bem bacana que você falou no outro texto, não é uma questão de certo e errado, quem curte celebridades, vai la curtir, não preciso ficar policiando, alias, não preciso nem saber que tal pessoa existe. este é o maior respeito que posso ter por ela, deixá-la ser e fazer o que quiser, e assim ela tem seu espaço e eu o meu.
Apesar de ter nascido no começo dessa geração e estar nela hoje, sendo ainda jovem, sou considerada por outrem uma "estranha" em meio a tudo isso, apesar de ainda não chegar aonde quero: além de toda a superficialidade que impera, mas sim ir mais além no pouco tempo que temos por aqui, investindo-o nos poucos mas verdadeiros, no profundo mas verdadeiro, apesar do esforço inicial para "pegar o ritmo".
ResponderExcluirO homem sempre se aproveitou do próximo para se sobressair segundo seus interesses. É de sua natureza, e sua história mostra isso. Se antes se usava a escravidão desumana do trabalho (física), hoje o que é escravizada é a mente. Um exemplo que ilustra a realidade: qual o motivo de se não produzirem músicas e cantores de qualidade nos dias de hoje? Simplesmente, se procura uma figura de aparência em primeiro lugar, criam um certo "status" de sucesso, de modo de viver, de admiração, enfim... Se canta ou compõe bem não vem ao caso, já que a preocupação primordial é a configuração de uma figura que as pessoas QUEREM SER mas NUNCA SERÃO por motivos óbvios que prefiro não citar, para não ser chamado de preconceituoso. Daí vem esse interesse, obsessão, o ato de idolatrar. Mas para os verdadeiros interessados(e não me refiro aos cantores, atores, jogadores, celebridades,pois se deixam de ser interessantes são descartados facilmente), isso rende, mas rende MUITO. A dominação de gente poderosa e inteligente(por isso a futilidade, o irrelevante, a intenção de deixar a massa ainda mais burra) é o que está em jogo. É bom ou ruim? Depende pra quem. E custo a acreditar mudará alguma coisa de verdade.
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