Sim, meus caros, eu sei que "não é fácil de pegar com a mão". Eu sei que as decepções
são difíceis de suplantar, amargas para engolir, demoram a ser esquecidas. Mas
não há remédio, não existe outra alternativa. Em algum momento, se você não tem
intenção de passar o resto da sua existência sozinho, precisa arriscar.
É
claro que um cínico qualquer perguntaria o porquê. Alegaria que está bem assim,
que seu dia a dia melhorou após o divórcio, término do namoro ou do pé na bunda
que deu ou levou. Pode até ser, não tenho a pretensão de conhecer a todos e suas razões. Mas uma coisa eu sei. A vida é um fardo muito pesado
para se levar sozinho.
A
solidão é uma questão filosófica difícil de ser tratada. “Chegamos aqui sozinhos
e vamos embora sozinhos”, diz o velho chavão. Mas tirando a masturbação
intelectual, penso que o que realmente importa nessa abordagem específica, é o
que fazemos nesse ínterim.
Deixemos
um pouco de lado então as questões religiosas ou metafísicas e cuidemos daquilo
que sabemos com certeza: que temos uma vida para viver e que seria útil
escolher bem com quem vamos dividi-la. Comungar dores, risos, contas, angústias,
cama, prazer e perdas. Sim, porque para dividir vitórias não vai faltar
companhia, “trust me on this”.
Eu
concordo com o “melhor só do que mal acompanhado”, e quem não concorda é porque
ou nunca esteve mal acompanhado ou o mais provável, que não tenha se dado conta disso na ocasião. Mas daí a
levar essa máxima como projeto de vida, acho complicado. Em algum momento você
vai precisar de troca, mesmo que seja o motherfucker mais legal do
planeta.
“É necessário gostar de si antes. Tem que se gostar sozinho”. Ahãm, e daí Osvaldo
Montenegro? Por que uma coisa exclui a outra? Você tem que se sentir bem
consigo, ser boa companhia para si mesmo, estando só ou acompanhado. Se tu és
um pé no saco, e nem você se suporta, por que diabos alguém mais haveria de
fazê-lo?
Existem
exceções, evidentemente. Os ermitões, os misantropos de último nível, alguns
religiosos que decidiram por entregar suas almas na busca do que está além
dessa “vidinha trivial e patética”. Mas de boa, isso não é o convencional. Lá
no fundo todo mundo deseja alguém para lhe fazer uma canjinha quando bate
aquela gripe safada e inadvertida. Ok, alguém que pelo menos pegue a aspirina já tá
valendo. Vamos ser humildes.
O
problema é que essa “busca” parece estar sendo mal feita pelo que se vê, lê e
ouve, hodiernamente. É reclamação em cima de reclamação. É um tal de “homens
não prestam e mulheres são putas”. Mas me digam, se nêgo não consegue nem usar
o Google apropriadamente, ou encontrar o outro pé de meia que caiu embaixo da
cama, como esperar que ache um parceiro decente? Não, não é fácil. Mas há oferta
e há demanda, garanto. Ainda assim é
complicado, não nego.
E é
complicado por vários motivos. Porque às vezes estabelecemos parâmetros
ilusórios, porque não colocamos na equação nossas próprias características,
porque somos teimosos e temos a tendência a repetir erros em nossas escolhas.
Ah Freud, se deixassem você cheirava até o recamier,
mas nessa você deu uma bola dentro.
Alguém
discute a mania vagabunda que temos de nos focar em modelos que criamos dentro
da nossa cabeça, inclusive no que tange a relacionamentos? Somos influenciados
pela mídia, pela família, pelos amigos, pela religião, pela revista Caras. Não
é raro que após algum tempo, percebamos que estamos ao lado de alguém que nada
tem a ver conosco. Sim, já lhe ocorreu aquela situação onde, após terem se passados aqueles primeiros dias
mágicos, você olha para o lado e solta um estrondoso “what the fuck”?! Pois é.
Foda. E aí você vai culpar a quem, bonitão? Ao outro, é lógico. A culpa nunca é
nossa, que somos perfeitos e quebramos o coco sem arrebentar a sapucaia.
“Ah,
mas os opostos se atraem”. Na sua bunda, que se atraem! Não se você buscar algo
duradouro. Tente ficar com uma pessoa que gosta de saltar de paraquedas,
enquanto você é daqueles que prefere ficar vendo filmes embaixo das cobertas. É
óbvio que existem exceções, mas a verdade é que, a longo prazo, mesmo cedendo porque no início tudo é lindo, daqui a alguns meses ou anos, o seu
temperamento, preferências, ou gosto pessoal, vai pesar na balança como um hipopótamo fêmea,
grávida de 12 meses. Seja adulto, por obséquio.
Se
você acha que mesmo sendo uma nerd dos infernos, vai ser legalzão, ano após
ano, sentar no meio da torcida do Taubaté e ficar vendo seu amado ogro comer
hot-dog frio e beber cerveja quente, pode acordar e descer da sua abóbora,
Cinderela. Isso só acontece nos contos de fada. Consideremos que você acredite que o sexo é transcendental, inigualável e que o cara tenha um “pipi” igual ao do Kid Bengala. Ainda assim, quanto tempo do dia você gasta com sexo, mesmo? Sim, porque aqui
na terra, o dia tem 24 horas.
O
que quero dizer, e que se fodam se acham arrogância da minha parte é que, se querem
alguém mesmo, de fato, pra valer, de verdade, a sério, sem palhaçadinha, tentem uma pessoa que
possua algo em comum convosco. Por favor. Por mim, vai? Tô pedindo com
educação. Na moral!
E se for para brincar, HP? Bom, aí é contigo e por mim você pode pegar até o mendigo na feira, problema seu. Mas estou me referindo a algo estável, a projeto de vida. Tem diferença aí, não tem? Pois é. Ou "todas as pessoas que passaram em sua vida, levaram um pouco de você"? Fuck! É você de novo, Osvaldo Montenegro?
Não
é novidade que a convivência, a repetição impetrada pela mesmice inelutável do mundo, é terrível para o romantismo. Os
problemas causados pela imbecilidade humana, a falta de dinheiro, a fome na África, seu time caindo para a segunda
divisão, tudo isso é de uma paumolescência atroz, mas
porra...vamos ajudar um pouco ao destino.
Se
você é caseira, adora ler, gosta daquele friozinho e de beber um expresso ouvindo Artic
Monkeys, para quê foi se aconchegar ao lado do “rei da noite, só li Paulo
Coelho e adorei, tô na praia ao meio-dia bebendo cajuzinho e cantando “vou dar
um tapa na barata dela” do Só Pra Contrariar”? E depois vai reclamar para
as miguxas, que o bacana não era “aquilo que você pensava”? Ora, me mire e me
erre.
Vejam
bem meus amiguinhos, não estou dizendo que é inviável. Estou dizendo que é
improvável que funcione depois de algum tempo, quando os prazeres da carne
(ui!) já estiverem arrefecidos. Essa é a realidade. Lidem com isso. A vida não
é uma novela da Globo. Não há gente que brilha no sol fora da ficção. O
que há é a possibilidade de se encontrar alguém sussa, gente boa pacas e que vá
te botar um sorriso no rosto com frequência maior do que a habitual.
É
preciso haver troca, entendem? Admiração, compaixão, empatia e de preferência,
senso de humor. Sim, senso de humor. Me lembro que uma vez a Revista Playboy
fez uma pesquisa, no mundo inteiro, e perguntou qual seria a característica que
a mulher mais busca em um homem. Para a minha surpresa, a escolha não foi
dinheiro, beleza ou ser amigo do Neymar. Foi o senso de humor.
Viu,
seu quebrado, feio da porra, amigo do jornaleiro da esquina, você tem uma chance! Seja divertido,
criativo, gente boa. E você também “gatinha”, deixa o cara ver o jogo, entenda
que shopping não é para morar e que a carta da TPM só vale uma vez por mês. Não
seja uma “fucking biaaaatch”.
A
verdade é que em um mundo cada vez menor, há mais possibilidade de se encontrar
alguém. Isso é matemática. E ela não funciona apenas quando quer. Existem redes
sociais, sites de relacionamento, conversas por vídeo. Pare de chorar. A
boa notícia é que, ao contrário do que dizem as más línguas, tem gente
interessante aí fora, sim. Esqueça a letra torta e improdutiva que aquela sua amiga chata dos
infernos te deu. Ou aquele mimimi do seu amigo mau fodedor, piroca de pano. Tem um pessoal de bem
com a vida que quer encontrar você, que está aí carrancuda, sem vontade de
cantar uma bela canção.
Nem
todo mundo é filho da puta e nem todo mundo que foi filho da puta precisa
continuar a ser. Dicas? Simples. Seja receptivo, ouça mais do que fale, se for
o caso. Não tente ser o centro das atenções sempre. Se cuide, você não precisa
comer pão de queijo e cupcakes, todos os dias. Diga que sente falta sem
motivos, a não ser apenas por sentir falta. Se mostre presente. Se faça
imprescindível. Use desodorante.
Acredite,
existem mil fatores que dificultam uma relação, mas o maior deles pode ser você
mesmo. Se fez um acordo de exclusividade, de livre e espontânea vontade,
mantenha sua palavra. Não seja babaca. Não dê uma de malandro. Tá cheio de mané
que se acha malandro por aí.
Eu
sei, “mulheres são chatas, homens são bobos” e não abaixam a tampa do vaso. Mas
é a vida. E como disse lá no início, essa vida é um mostro difícil de ser
domesticado sozinho. Não há jeito. Não há atalhos. Macumba não funciona. Para
sair da inércia, você precisa arriscar. Como, quando, onde e com quem, é
problema seu. Só seu. Apesar de uma porrada de gente meter o bedelho na sua
história ao invés de viver a própria.
A
esses largue um foda-se porque o ganho ou custo, no final das contas, vai recair é sobre você. Bom, pelo menos deveria. Pensando bem, antes de
jogar os dados, vá correndo até o pai dos burros e dê uma olhada na palavra
“responsabilidade”. É queridão e queridona, arriscar é diferente de ser porra
louca, “cappice”?
Sendo
assim, não se esqueça de que para fazer a viagem e retirar o prêmio, é preciso
comprar o bilhete antes. Se ganhar, e aí vai um grande “SE”, entenda que
ao contrário do que dizem as teorias de conspiração, você pode ter seus
momentos de felicidade irrestrita, de sorrisos incontidos e de afeto genuíno.
Se o
esforço vale a pena? É óbvio que vale.
Muito bom!!! Só não sei se há ainda homens cultos, que gostam de ler e têm boa conversa no mundo....acho que estão em extinção! Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirTexto perfeito como sempre. Parabéns. Pena a maioria das pessoas, não conseguem enxergar o que é preciso para os relacionamentos darem certo, e o que dá, milhares de divórcios por ano, e o amor virou algo banal, sem sentido, sempre falo que hoje em dia as pessoas dizem mais eu te amo do que bom dia. Fazer o que né, a vida é assim.
ResponderExcluirPorra, HP! Assim você me quebra as pernas, camarada!
ResponderExcluirObrigada! Obrigada pelo tapa na cara, pelo texto sensacionalmente bem escrito e pelos sorrisos constantes que vejo no rosto de uma amiga que amo muito. ;)
Vou procurar o tal bilhete pra comprar. No máximo, vou perder tempo, mas né... "temos todo o tempo do mundo". ;)
Abraço, fio!
Muito foda o texto, cara! Parabéns.
ResponderExcluirO problema é que a maioria das pessoas quer alguém rápido, não importa quem. Depois que já atulizou o status na rede social para "está em um relacionamento sério" e de colocar foto do casal no perfil é que alguém se preocupa em começar a conhecer aquela pessoinha que está ao seu lado na foto. Há uma urgência em gritar para os quatro cantos do mundo que não está só. Uma urgência que vem antes do seu prórpio bem estar. O bem estar do outro, então, isso vem em último lugar. Quando o corpo cria resistência aos três hormônios iniciais vem o "“what the fuck”?!" que você mencionou.
ResponderExcluirE eu não sei lidar com isso. Não tenho que lidar com isso. Também não sei lidar com a idéia de que aquele carinha legal, a quem vinha conhecendo há algum tempo, também é assim e, do nada, brota em sua timeline que ele "está em um relacionamento sério" com uma menina que ele acabou de conhecer no bar. Depois, aquele que eu não conheço tão bem, mas que está me paquerando há algum tempo, e que me pareceu interessante, e que eu aceitaria conhecê-lo melhor para, quem sabe, começar algo bacana... BAM!!!..."está em um relacionamento sério" com uma menina que ele conheceu há uma semana pelo Facebook.
Dizem que, se um homem fica amigo de uma mulher, qualquer possibilidade de envolvimento afetivo (e/ou sexual) é excluída dessa relação. Eu discordo! Para mim é mais interessante construir algo com um amigo, alguém que eu conheço melhor, do que com um estranho que conheci num bar ou numa rede social. A "Friendzone" para mim é a zona interessante, só que parece que para a maioria das pessoas não é assim que as coisas funcionam. Nem para aquelas que eu acho que já alcançaram alguma maturidade na vida...
Não sou assim. Não tenho que ser assim. Há 14 anos eu não tenho mais 17. Gosto de ir com calma. Alguns cafés e algumas conversas, algumas vezes. E, para mim, relacionamento sério é realmente sério, antes de postar isso para estranhos no Facebook, meus amigos mais próximos e minha família já conhecerão algo sobre essa pessoinha que está ao meu lado no sofá ou sobre quem eu falei pelo telefone. E minha foto do perfil continuará sendo a minha. Aceito, no máximo, um dos meus gatos ou o meu livro preferido. Facebook não é "conta conjunta"!
Muita gente me diz que estou sozinha porque eu quero, bem, talvez isso seja verdade, algumas vezes. Ficar sozinha sem querer é mais sofrido e recentemente algo me lembrou disso...
Um grande abraço!
Gostei muito dessa postagem!
Disse tudo. Vou encaminhar para todas amigas reclamonas!
ResponderExcluirAuto estima resolve muita coisa, quase tudo.
Parabénssss pelo texto claro e objetivo.
Bjo.
Camilla
HP, sempre me fazendo refletir. :)
ResponderExcluirQuero pessoas que pensem assim! Mas, onde buscá-las? Eis a questão! Pois, vivemos em um mundo que até ser caseiro, gostar de literatura, ficar em casa em vez de uma balada é brega. Sendo assim, acho que sou muito brega. rs
Maaas quando a pessoa estuda pra Medicina, como fica? Meus pais jogam a máxima que médico só tem vida amorosa depois dos 30 rs