Rejeição e Sorvete (por Hpcharles)





Sempre achei que existem dois sentimentos realmente superestimados. O Ciúme e a rejeição. Ambos são destrutivos, vagabundos e, quase sempre...estúpidos. Na abissal maioria das vezes, se referem ao que não existe ou a hiperbolismos desvairados, criados por nossas fodidas cabecinhas.

Mas esse texto vai cuidar apenas da rejeição. Se desejarem, me lembrem mais à frente, e escreverei sobre o irmão bastardo. E favor não confundirem a rejeição comezinha, infantil, pedestre, com o sentimento de perda. Esse sim, em minha humilde opinião, o mais grave e complexo sentimento a se lidar nessa vida bandida.

Pense comigo. Mas tente ser pragmático, ok? Você consegue. Suponhamos que você vá a uma sorveteria e a atendente lhe diga que só existem dois tipos de sabores no momento: baunilha e morango. Você tem que escolher um e escolhe o de baunilha, por exemplo. Será que isso quer dizer que NINGUÉM quererá o de morango? É claro que não.

Mas o quão isso é diferente do que ocorre na rejeição? “Mas que reducionismo absurdo, HP!” Reducionismo “my ass”! É EXATAMENTE isso.

Calma, CALMA! Não me joguem os tomates ainda!

Em suas cabeças vocês já devem estar pensando, “esse filho da puta nunca deve ter sido rejeitado para ver como dói!” Really?!?! Sério mesmo?! Gente, até a Angelina Jolie e o Brad Pitt já passaram por isso em algum momento. Tá, péssimo exemplo. Mas fora do Olimpo, isso já aconteceu com todos, em algum dia de merda. E se não aconteceu, vai acontecer. Sorry about that.

Cumpre ressaltar que a rejeição não acontece apenas necessariamente nas relações “sexo-afetivas”. Mas “in casu”, estou me referindo especificamente a elas. É evidente que as rejeições de cunho familiar e profissional, podem possuir outro condão mais sério e que requer muito mais atenção, vez que, via de regra, impendem consequências funestas.

No entanto, no que tange à rejeição mais simples e ordinária do tipo “não quero ficar com você”, me desculpem, mas já superei esse tipo de bobagem faz tempo. Claro que o fiz depois que entendi o processo imbecil de autopiedade a que, desnecessariamente, nos impomos. Me dou dez minutos para digerir esse sentimento. Nem nove e nem onze. Após isso,  ele está morto dentro de mim. É só isso? Sim. A vida é curta para despendermos tempo com bobagens e, acima de tudo, com o incontrolável.

“Tá, você é fodão e come vidro moído também, né?” Não gente, só não me esqueço que existe outro prisma a ser considerado nessa seara. Te pergunto: e quantos(as) VOCÊ já rejeitou?! “Ah, mas aí não conta”. Não conta é o caralho! Quer dizer que no dos outros é refresco? Que tal racionalizar quando se trata de você também? É justamente isso o que faço.

Me recordo de pessoas que EU rejeitei e imediatamente vislumbro que o pobrezinho do rejeitado, por vezes, não passa de um egoísta, com aquele papo de “porque ela não me quer?” Lembre que você, em algum momento, também já disse que não queria tal sabor. E faça isso quando alguém te comunicar que prefere morango a baunilha. Ou somos melhores do que os outros? 

Não me entendam mal, isso é uma atitude a ser desenvolvida com o tempo. Mas, nos frigir dos ovos, a rejeição é um processo de escolha onde o rejeitado inventa uma falsa dicotomia e imagina que o fato - uma escolha específica em si - o condena de tal feita, que nunca mais será escolhido. Nonsense total.

Mais uma vez vou lembrar que a perda e a rejeição são coisas diferentes, apesar de, em certas oportunidades andarem conexas. Os não realizados planos futuros, se existiram, as expectativas que foram interrompidas (não as imaginárias que PENSAMOS ser reais), são sentimentos adultos que necessitam de cuidados e de luto. Mas são perdas. Existe uma diferença que é tênue, mas ao mesmo tempo, enorme.

Me desculpe, aquele flerte com a garota idealizada e que foi desintegrado, aquele implacável “toco” na balada, daquela “mina” que só agora você teve coragem para chamar na “chincha”, aquele “não” juvenil recebido, deve ser superado com a mesma velocidade com que você desejou que o outro o fizesse com aquela rejeição que você ofereceu, em outra oportunidade. Seja justo. Tirando a gordura e o draminha, é o que tem para o dia. Olá coerência!

Me recordo de, certa vez, tarde da noite, ter sido acordado com o interfone tocando insistentemente - o que me fez acordar assustado e puto - por conta de um amigo que tinha levado um pé na bunda.

Ao subir para confidenciar sua “história triste”, aduziu aquele mimimi de que “nunca mais encontraria ninguém igual a ela”, “que ele era uma merda”, “que a vida é injusta”, e eu lá ouvindo...“ZZZZZZZZZZ”.

Claro que como bom amigo que sou, o mandei tomar no cu por ter me acordado às duas da matina e não estar com, pelo menos, alguma hemorragia interna que justificasse tal ato hediondo.

Sentei, olhei para a fuça transtornada de meu camarada e ofereci uma dose do meu psicanalista de gaveta, de alcunha Jack Daniel`s. Isso na esperança que o álcool e o malte lhe fizesse “grow a pair”. Depois de ouvir por alguns minutos uma chorumela digna de revista Capricho, torci logo a faca. É para isso que servem os amigos. Ou não?

Disse então: vem cá “Justin”, quando você ficou com ela, por acaso você estava deitado debaixo da ponte, ela passou, te achou bonitinho e te levou para casa para saciar a lascívia? Não, né? Você a conquistou. Então vai conquistar outra".

E continuou a lamúria. “Mas ela é a mulher da minha vida”, disse o Pete Wentz depois da gripe. Filhão, FAÇA da pessoa que está com você, a pessoa da sua vida e toca o bonde. E quantas você já rejeitou, “modafucka”?! Não me recordo de você vir me aporrinhar quando pôs fim a algum relacionamento. Pois é...

E minha Via Crucis continua. “Será que ela está ficando ou transando com outro?” Nunca entendi esse tipo de pergunta, acho pura punheta mental, sem tirar nem por. O quê isso importa? Que diferença faz? Sei, uma pitada de masoquismo não faz mal a ninguém, não é mesmo? PELA SAQUISMO!

Mas cumpro meu papel abençoado e respondo educadamente como o grande “miguxo” que sou. “Tá dando gostoso, ou então não tarda”. Ah, ficaram com pena?! Claro, não foram vocês a serem acordados de madrugada, véspera de dia de trabalho. Payback is a bitch.

Eu só sei que após o quarto “shot” de whisky, Lance Bass já estava sussa (chupa essa, Freud). Alguns dias depois o reencontrei feliz e faceiro, fingindo que nada havia acontecido. E realmente nada aconteceu. Aquilo era uma ilusão. Não havia grande coisa ali. Não houve perda, apenas rejeição.

Mas fica o recado e a dica. Se algum dia sua vida parecer pior porque alguém só gosta de sorvete de baunilha, saiba que, ao virar da esquina, existe uma enorme sorveteria que vende vários sabores. Lá existem pessoas que estão loucas por um sorvete de morango. Entre na loja, compre um sabor qualquer que lhe seja interessante e seja feliz. Menos drama e mais ação.

Mas simples assim? Sim, simples assim. A complicação é você quem cria, por mais que não enxergue isso.

Bom, na pior das hipóteses, por perto deve haver algum lugar que venda Jack Daniel`s. É só por precaução, sabe?


18 comentários:

  1. HP, acho você foda!
    Seus textos são simples e vai parecer ridículo, mas pra mim são como um tipo de terapia. (Sem puxação de saco)
    Você podia escrever um livro?

    Esses dias descobri que a Zoey Deschannel além de atriz, é cantora e me lembrei daquele seu texto.. Já ouviu a música dela? O que achou?
    Achei suas músicas bem legais.

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    1. Rs, obrigado Cláudio. O livro sairá.

      Ué, no texto sobre a Zoey eu falo sobre a música dela. Vê lá. Acho fraca também como cantora. Música medíocre, sem ser péssima. Belle e Sebastian wannabe.

      1abç.

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    2. Bom, mal posso esperar pelo livro!

      Não me lembro de você ter falado da música dela, mas vou dar uma olhada de novo.

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  2. Uhuu texto novo, já estava com saudade. Adorei o texto, faz o outro falando sobre o "irmão" dele rsrs.
    É sério do seu livro? OMG,não acredito, serei a primeira a comprar.
    mas, já tem um assunto especifico para o livro?
    Você escreve muito bem, isso é fruto de uma grande bagagem de leitura não é? Me diz o segredo pra escrever tão bem rsrs.
    bjão.

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    1. Rs, obrigado Geyse. Farei um texto sobre ciúme sim, pode deixar.

      Sim, já existe assunto específico, mas é segredo, rs.

      Acredito que não é possível desenvolver a escrita sem antes desenvolver a leitura. A leitura fornece elementos que são imprescindíveis à qualquer um que deseje escrever com o mínimo de pertinência. A leitura é a base de tudo, inclusive da cidadania.

      Mas sim, estudei em um colégio muito rígido quando criança (Colégio de São Bento) e a leitura era obrigatória e intensa. Meus pais também são professores de português e literatura, o que aumentou ainda mais a cobrança e a responsabilidade pela escrita.

      Grande abç!

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  3. Adoro de paixão a forma como você escreve.
    Me faz rir, refletir, concordar ou discordar... você é massa demais!
    Abração e por favor continue escrevendo!!!!^^

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  4. O Bred levou o fora lá daquela do friends lembra?? eles eram casados... (rs)
    Valeu o texto bem escrito!!
    Eu tb estou sendo mais prática com assuntos do coração... ;)
    Abç ae

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  5. Adorei sua reflexão, eu sou jornalista e gosto de seguir seu blog. Minhas sinceras parabenizações pelas demais abordagens, resultou em um trabalho muito bom. Very Well


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  6. Texto bacana mas não se cabe a todo mundo. Sou cadeirante e nunca tive "essa parte da vida", por não estar dentro do padrão de escolha dos homens. Toda a não concretização de uma vida amorosa até hoje, me fez ver com o passar do tempo, que pessoas "normais" confundem rejeição com questão de gosto pessoal e atração.

    Esperando o texto sobre ciúme.
    Abraço

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    1. Olá Gabi, me desculpe mas rejeição possui EXATAMENTE relação com gosto pessoal e preferência. Mas o texto se remete mais ao rejeitado do que a quem rejeita. Não há que se confundir preconceito com preferência. Mas esse discernimento impende em MATURIDADE.
      Te digo sem nenhuma hipocrisia. Hoje, se não fosse casado e feliz, teria, sem sombra de dúvidas, uma relação com uma cadeirante. Mas não teria com uma pessoa que fumasse, por exemplo(preferência). Teria relação com uma cadeirante inteligente e divertida, mas não teria com uma cadeirante mau caráter, por exemplo(não há preconceito, mas há preferência). Sacou a diferença?


      Rs, farei um texto sobre ciúmes, pode deixar.

      1abç.

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    2. HpCharles, depois do que escrevi aqui fiquei pensando muitos dias até sobre quantas vezes eu posso ter rejeitado alguém sem perceber. E tens razão, rejeição e gosto é uma tênue, mas tem lá suas diferenças, e isso que torna a coisa engraçada pra mim atualmente. Agora vou ali ler e comentar o texto sobre ciúmes.

      Abraço.

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  7. Ei garoto! Muita bacana seu texto... claro que durante a leitura lembrei de quando fui "injustamente" rejeitada e agi exatamente igual ao seu amigo hahah! E também lembrei dos momentos em que rejeitei... e digo mais: lembrar que posteriormente rejeitei quem um dia me rejeitou foi a melhor sensação que seu texto me trouxe!! Vingança?? Não, imagina!! rsrs Abraço prá vc! Isa - LidoLendo.

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    1. Rs, pois é...a vida dá voltas. E quem já viveu um pouco sabe que as mulheres e os elefantes não esquecem nunca. KKKKK!!!

      1 abç.

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  8. Excelente texto. Gostei da reflexão.

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  9. Texto excelente! =) Esse sentimento de rejeição no final de relacionamentos e posterior autocomiseração é tão comum, que revela o quanto somos egocêntricos...

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  10. Desculpe o comentário tardio mas meu deus que texto foda!! Abriu meus olhos de tal maneira! Tava precisando de algo cético e prático no momento :)

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