"Mas que torturas infernais padece o homem que, amando, duvida, e, suspeitando, adora."
William Shakespeare em "Otelo""O que está cercado pela chama do ciúme acaba, como o escorpião, por voltar contra si mesmo o seu agulhão envenenado" Friedrich Nietzsche em "Assim falou Zaratustra"
Depois
de falar da “rejeição”, chegou a vez dele. E odeio esse cara. Então vai voar
caco, estejam avisados. O texto é para adultos e o papo é reto. Quem entende
que o ciúme é a lenha da fogueira, a cereja do bolo, a azeitona da empada na
relação, pode parar aqui. Deve existir um blog falando sobre a Selena Gomez e o
Justin Bieber em algum lugar.
Meus
caros, se tem um sentimento burro, desprezível, filho da puta e superestimado,
é a porra do ciúme. Desculpem o meu francês,
mas é isso mesmo. Não tiro uma vírgula.
Eu
sei que tem gente que curte. Tem gente que acha “bonitinho”. Tem um pessoal que
diz que sem ciúme não existe amor. Pode até ser, o que duvido, mas o que SEI é
que tem muita gente com a cabeça escangalhada. Fato que, mais ou menos, explica
essa deturpação.
Vou
deixar claro uma vez mais, só para que minha posição fique absolutamente
cristalina. Ciúme é uma MERDA! QUALQUER tipo de ciúme! Um sentimento estúpido que, na
abissal maioria das vezes é destrutivo e, via de regra, esconde outras coisas
por trás dele.
Ciúme
não é amor. É insegurança. Afirmar que ciúme é bonitinho é o mesmo que bater
palmas para acidente de trânsito. E dar um condão de virtude para o ciumento,
seja ele(a) quem for, o colocando como alguém amoroso ou sensível porque sente
ciúmes é, nada menos, do que glamourizar o que é pernicioso.
Cumpre
fazer um adendo, no entanto. A meu ver existem dois tipos de ciúme. Ambos
maléficos. Mas apenas um é justificável, ou para ser mais preciso, compreensível.
Existe
o ciúme que tem fundamento no possível. Exemplo: ciúme de uma ex-namorada(o),
que por vezes ainda perambula pela nova relação, seja com telefonemas, e-mails ou
algo similar. Ciúme de um colega de trabalho, talvez inconveniente ou intrusivo,
que está presente no dia a dia. Enfim, cada um que pense na maldade que
quiser. Me refiro a algo que não
existe, porém que seja palpável. Que possua meio de se realizar de
alguma forma. Que seja tateável, quiçá discutível.
Esse
tipo de ciúme ainda se entende e, quando vem a se tornar um aborrecimento, vale
uma conversa, para tranquilizar quem se sente ameaçado. Aliás, essa é a
palavra. Ameaça.
A
ameaça tem que estar fora do campo da ficção. E aí entra o segundo tipo de
ciúme: o risível. Por mais ridículo que seja, existem pessoas que tem ciúme da
atriz de tv, da revistinha “de mulher pelada”, da pornografia de internet. O
quão patético é isso?
Além
de se sentirem ameaçadas pelo intangível, se rebaixam ao nível daquilo que nada
significa. Eu pergunto: o que é a droga da Angelina Jolie na sua relação? O que
é o Brad Pitt em relação ao seu namoro? Cacete! Porra nenhuma! Eles tem o
mesmo peso do que a Cuca, do que o Saci. Eles não existem fora das telas! Ou
será que o ciumento acha que algum dia aquela atriz pornô da Europa Oriental vai tocar a campainha e dizer que pegou um avião para transar com o seu marido?
Quanta bobagem. Quanta insegurança. Quanta imaginação.
O
ciúme é uma merda. Assim como o depressivo suga a afetividade, o ciumento suga a
“felicidade”. Podem reparar, o ciumento é um coitado que não pode ver o
parceiro feliz a não ser em função dele. Se a relação sair da caixinha que construiu
para colocar seu objeto de desejo, o ciumento precisa fazer algo. Como
um jardineiro sentimental, tem de podar a felicidade do outro.
No
fundo, ele próprio acha que não é suficiente e, como todo inseguro, vai
procurar, fora de si, uma desculpa para destruir o que não acredita que mereça.
É evidente que nem sempre ele faz isso de forma consciente. Mas o ciumento
mesmo, aquele miserável, vai criar algo que o possibilite vestir a sua capa de
infelicidade. Conseguiram pegar a sutileza da parada?
Por
vezes esse ciúme alienígena encontra raízes no passado. Em uma relação onde
havia infidelidade, onde as coisas eram turvas. Às vezes ele é oriundo de
exemplos na família. Pai ou mãe que traíram e acontece uma transferência, uma
confusão. Não é raro ouvirmos dizer que "nenhum homem presta e que toda
mulher é puta”. Que estultice! Ora, se VOCÊ não presta ou se VOCÊ se considera
puta, não me coloque e nem aos outros, que sequer conhece, na mesma cesta, por obséquio. Grato! Não traga os esqueletos de seu armário para sua nova cama. Não é justo.
Isso
me lembra de uma conhecida, muito ciumenta, que justificava o próprio ciúme,
aduzindo que, pelo fato de saber ser capaz de trair, não confiava em ninguém.
Que bonito, gente! Bom, pelo menos a despeito do quão fodida estava a sua cuca,
foi honesta em sua loucura. Sempre desconfiei dos moralistas. Será que devemos
desconfiar dos ciumentos? Será que existe um tipo de confissão no ciúme? Deixo
isso para os psicanalistas.
Mas
HP, e quando realmente houver uma traição (odeio essa palavra), quando de fato
houver uma “ameaça”? É simples. Existirão indícios. Evidências. E por favor, evidências
são as que se podem evidenciar, não aquelas dentro da mente do Norman
Bates. Evidência é diferente de esquizofrenia.
Nunca
fui ciumento, graças a Zeus. Não está em mim essa merda. Pelo menos "essa" merda. E
muitas vezes já fui tachado de frio por isso. Muitas vezes já ouvi que não
gostava. Muitas vezes fui criticado por acreditar no caráter de quem estava
comigo e confiar que não seria trocado com facilidade. It`s a fucked up world.
Acreditem,
já vi relações com enorme potencial serem destruídas por esse sentimento
menor. Vi rapazes que genuinamente amavam suas namoradas e esposas apaixonadas
por seus maridos, que sucumbiram pelo que nunca existiu. Não pelo que existiu.
O
ciúme mina. Corrói. Os árabes possuem um ditado que diz: “nunca canse quem
gosta de você”. E o ciúme faz isso. Ele vai quebrando o cristal, pois o
companheiro, quando inocente, vive a se desculpar pelo que não fez. Quem já
esteve nessa posição sabe o quão injusto e revoltante é isso.
Tenho
um amigo, também advogado, que há algum tempo me confidenciou que iria passar
a adotar uma atitude canalha, após anos aguentando o ciúme. Disse que nunca
tinha traído mas que iria começar a fazê-lo, porque sempre pagou por isso
mesmo. Já que seria acusado de qualquer maneira, pelo menos o seria com
justiça.
Claro
que a solução é estúpida e covarde. Claro que a culpa é dos dois. Claro que
existe uma relação simbiótica de sadismo aí. Mas porra, trair porque vai se
foder do mesmo jeito? Emenda pior do que o soneto?
O
exemplo, no entanto, foi apenas para mostrar em que ponto as coisas podem
chegar no reino da Dinamarca. E isso acontece porque existe uma patologia contida nesse comportamento.
Alguém muito inseguro e alguém que acha legal essa insegurança. Que a incentiva
de alguma forma e não corta aquela porcaria, logo quando bota a cabeça para
fora.
Me
digam que nunca ouviram o famoso, “ah, eu adoro quando ele(a) demonstra ciúme”.
Fuck! Vá se tratar! Que tal se preocupar com a vida real? Será que não
existe nada mais importante do que ficar procurando pelo em ovo?! Ó, se quiser
tem umas contas aqui sobrando. Vai?!
O
importante é que se saiba que tanto aquele “ciuminho” bonitinho, adornado pelas
comédias românticas, como aquele ciúme infernal, psicótico, não são positivos,
por mais que digam ou se pense o contrário. E como sei? Porque ele não constrói
nada. Não articula nada. Ciúme não é demonstração de afeto, isso é lenda
urbana. Ciúme é sinal de insegurança.
Se o
sinal de ciúme acender dentro de você, segure sua onda e pelo menos tente usar
alguns minutos de razão para vislumbrar se existem FATOS que corroborem as
acusações ou discussões que virão na esteira daquele sentimento. SEPARE A
ILUSÃO DA REALIDADE! Isso é possível, é só querer.
E
por fim entenda que se alguém está contigo despendendo tempo, fazendo planos,
investindo vida, você deve valer alguma coisa, não? Pelo menos é o que faço.
Acredito que tenho valor e que minha relação, que foi construída com zelo e
com esforço, não será trocada ou jogada fora por pouco.
E se
acontecer o pior? Se acontecer eu avaliei errado quem estava comigo. Paciência.
É a vida. Mas enquanto isso não ocorre, não vou inventar motivos para estragar
o que tenho. Não vou boicotar a mim e a minha história com alguém de que gosto. Não vou procurar monstros dentro do armário, dentro de “Facebooks”
ou de caixa de e-mails. Sou adulto e pressuponho que estou me relacionando com
outro adulto. Deve ser o bastante. Se não for, não há nada a fazer.