“Warriors, come out to play-yay!!!!” (por Hpcharles)




Será que o produtor Lawrence Gordon imaginava o estardalhaço que causaria quando comprou, com dinheiro de seu próprio bolso, os direitos sobre um livro velho e sem capa que achou em um sebo? Acho difícil.

Warriors, os Selvagens da Noite, é um filme daqueles que podemos colocar na categoria de “legal bagaraio”. A bagaça traz todo o clima da Nova York do fim dos anos 70 e te joga no meio do Bronx, onde a porrada come. Uma Big Apple dominada por gangs e dividida em territórios rigorosamente delimitados.

Como se não bastasse, o filme é recheado de curiosidades e histórias que marcaram sua produção e exibição nos cinemas. Muitos dos peculiares acontecimentos que envolveram está película, contribuíram para torná-lo um clássico do gênero e ser adorado por pessoas de todas as idades e gerações.

Virou vídeo game e suas “quotes” mais famosas são repetidas até hoje, 30 anos depois. Os dvds e blu-rays do filme vendem direto, camisetas temáticas ainda são usadas e posters enfeitam a parede de velhos e novos fãs. Até o falecido presidente Ronald Reagan curtia a parada.


Em síntese apertada, The Warriors conta a Via Crucis de uma irrelevante “turf gang” de Coney Island na desperada tentativa de retornar a seus domínios, após um infeliz incidente no Bronx onde, em uma enorme reunião, se encontrava toda bandidagem da cidade. Em tal “piquenique” lhes fora falsamente imputado o assassinato de Cyrus, líder dos temidos “Riffs”.  

Uma ordem de “procura-se” foi emitida e a partir dali, cada metro até chegar em seu território teria que ser conquistado na base do canivete, de tacos de baseball e de Coquetéis Molotov. Não há desafogo, vale cotovelada no gogó e dedo no olho.

Nessa distopia, o futuro de Nova York seria bem às feições do Zé Pequeno. Tinha que fechar com o movimento, senão ia para a vala. A Katniss ali não se criava. Eu garanto. Ia se foder com arco e flecha e tudo. A música é responsabilidade da “Radio DJ”, que cuida do "clima" mas também atualiza a estória quadro a quadro. Façam as contas: New York, fim dos anos 70, cabelo Black Power, calça boca de sino, soul no escutador de pandeiro e porrada comendo. O quê há para não se gostar?

Mesmo assim The Warriors foi destruído pela crítica. E cagou um quilo para ela. Já o público...bom, o público adorou. A rapaziada que "fecha com o certo" comprou o barulho e transformou o filme em fenômeno. Mesmo nas filmagens, que duraram apenas sessenta dias e ocorreram em 95% das vezes à noite, os fãs já ficavam até as três da matina assistindo a gravação das cenas, sob o frio congelante. O curioso é que os caminhões da produção eram guardados por REAIS integrantes da gang The Mongrels, que recebiam U$500 pela “flanelagem”. "E aí chefia? Deixa com a gente que tá sussa."


Mas não teve jeito, inúmeros equipamentos foram destruídos por brigas durante um lunch break. Vários membros da equipe de filmagem foram ameaçados de morte por não terem convidado algumas gangs locais em detrimento a outras. A violência tomou contas de salas de cinema e muita gente pediu que o filme fosse banido.

Notem que a violência em NY naqueles tempos era real, o que contribuiu deveras para a mística que rondava o filme. Em uma cena envolvendo a gang chamada “The Orfans”, a filmagem teve que ser interrompida devido a uma perseguição policial. A gang de Coney Island "The Homicides" não permitiu que ninguém da produção usasse suas cores enquanto filmava em sua área, o que foi prontamente atendido, diga-se de passagem.

Reza a lenda que Frank Marshall, o produtor executivo (sim, aquele mesmo, o Big Shot), teria contratado um verdadeiro líder de quadrilha para o papel de Cyrus, mas que misteriosamente ele teria desaparecido e nunca mais fora visto. Michael Beck, o ator principal desmente, mas a dúvida permanece até hoje, o que só fez aumentar a idolatria pelo interessante filme de Walter Hill. O mesmo que dirigiu 48 horas e produziu Alien, o 8o Passageiro.

As cenas de ação de Warriors também foram super festejadas à época, principalmente a luta campal com os “Baseball Furies”, que aliás, é uma referência a uma gang real do início da década de 70 chamada “Second Base”. A dica é passada no filme quando a rádio que narra e acompanha os desafortunados jovens de Coney Island solta a letra de que os Warriors have “...made it past Second Base”.

De fato “Warriors” se apropriou do mais famoso trabalho de Xenophon, chamado Anabasis. O livro descreve a jornada dos “Dez Mil”, onde um exército grego de mercenários comandados por Cyrus (lembram do nome do chefe dos Riffs?), em sua luta com os Persas, se vê tragicamente isolado atrás das linhas inimigas. Hill e sua equipe adaptaram o alfarrábio o catapultando para a NY do fim da década de 70. E o fizeram de forma distinta e marcante. Não se esqueçam é claro, do nome dado ao mais valentão do grupo: Ajax. Vulgo, "pai do Dexter".


A verdade é que quem viu The Warriors dificilmente esquece. Eu assisti a primeira vez muito jovem, ainda em fitas VHS, e sempre me lembrava do filme. Comprei em dvd e depois, quando pude, o blu-ray com a versão do diretor (que acho pior). E posso acrescentar que só o fato de escrever a respeito, já me deixa com vontade de ver a parada pela enésima vez.

Não esperem a Capela Sistina. Aliás, na boa...não esperem nada. Vejam sem pretensão e por certo se divertirão. Para os mais novos que nunca assistiram os “Selvagens da Noite”, pode até passar uma impressão de filme de Sessão da Tarde. Mas eu asseguro que se assim for, é tudo o que a Sessão da Tarde sempre quisera ser um dia e nunca conseguiu. Um filme que marcou época, com momentos e frases sensacionais, sem a porra da Lessie ou daquela leoa vesga do inferno, a Elsa. Ou vocês acham que ouviriam algo do quilate de “I'll shove that bat up your ass and turn you into a Popsicle” em um filmezinho mequetrefe qualquer? Só lembrando que a citação acima é ranqueada em décimo segundo lugar no “UGO's Top 50 Tough Guy Lines” e está entre as “50 Greatest Baseball Lines Ever”.


The Warriors é assim. Diferente. Nostálgico. Cool. Um filme para lembrar com os amigos depois de tomar umas cervejas. Você vai torcer e se solaridarizar com a rapaziada "bicho-solto" de Coney Island em seu longo retorno suicida para casa. Eu recomendo com força. 

Mas o mais legal em The Warriors é brincar de achar o Wally com o Samuel Jackson. E aí? Quem se habilita? Eu pago uma Coca-Cola.

CAN YOU DIG IT?!?!






6 comentários:

  1. Que massa cara relembrar este filme, Não sei se você viveu isto quando novo HP, Mas eu vivi, Esta parada de gangues tinha aqui na minha cidade também, Moro em uma cidade que não é uma grande metrópole, Na época a porrada comia frouxo por aqui, Muito dez brother!

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  2. Ei garoto!! Eu AMO esse filme!! Tbm assisti bem nova, na época do VHS de locadora e depois achei um DVD tosco de 12,90 no balaio das Lojas Americanas e claro que comprei!! Faz um bom tempo que não assisto, mas a sua justa homenagem me deixou com gostinho de quero mais!! Muito legal mesmo!! Bjo da ISA - LidoLendo.

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    1. Fala ISA! Também não aguentei e vi de novo, rs! Mas diz aí...acho a Amy Huck na versão nova da Profecia? Me diz com quem parece então...
      http://www.aveleyman.com/ActorCredit.aspx?ActorID=45621

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