Sobre Prêmios, Papéis e Peitinhos (por Hpcharles)




Finalmente segue o meu texto sobre o tema proposto aqui no blog. Lembrando que o da Tati virá em seguida.

Primeiramente agradeço aos comentários, que serviram acima de tudo para mostrar que realmente há pouco consenso sobre o assunto. Vou me referir a eles em algumas oportunidades.

É mister que entendam que tentarei ser o mais pragmático possível em responder às questões que elaboramos. Se cedermos a mão à subjetividade, “in casu” ela irá se apropriar do braço. Bora dar o papo reto então.

Para que vocês pensem a respeito, vou recordar o que certa vez disse a musa do cinema francês Catherine Deneuve, que aduziu que a grande vantagem que a fama lhe trouxera foi a de trabalhar com o diretor que lhe apetecesse. Em outras palavras, ela não corria mais atrás de roteiros e sim de diretores. Na esteira desse pensamento filmou com Roman Polanski, Lars von Trier, François Truffaut, Claude Lelouch e Mario Monicelli.

A questão é, será que em seu intuito de gravar com esses caras Deneuve colocaria cláusulas restritivas de nudez, exigiria dublês ou o uso de CGI? Pode até ser, mas acho improvável.

A relação com um diretor desse quilate é de CONFIANÇA. E vice-versa. Me parece que Trier, por exemplo, sequer cogitaria trabalhar com alguém que não se dispusesse a fazer a cena que fosse, em atendimento à obra em si.

Nesse diapasão, é cristalino que certos pudores ou limitações causam a rejeição ou desconsideração de certos atores para determinados papéis, além daquelas tradicionais e justificadas, como idade e "physique du rôle". E por esse motivo, entre outros, alguns deles ficaram muito famosos mas não obtiveram grande reconhecimento em sua profissão.

Vejam bem, não estou afirmando que o fato de fazerem uma cena de nudez ou sexo os catapultaria ao estrelato ou lhes daria o condão de se tornarem grandes atores apenas porque toparam fazer tal cena, mas sim dizendo que, a recusa pode lhes custar papéis e oportunidades. Mais que isso, pode lhes estigmatizar como sendo um “tipo de ator ou atriz”, que serve apenas para determinado papel.

Vamos dar alguns exemplos? Citarei algumas “atrizes” porque acho que a pressão é bem mais forte sobre elas. Meg Ryan, Mandy Moore, Jennifer Garner, Keri Russel, Jennifer Aniston, Courtney Cox e poderia citar mais tantas. Atentem que, não escrevi que eram grandes atrizes, mas sim que, em determinado momento, poderiam se arriscar em papéis mais ousados, em virtude do sucesso e fama que conquistaram na tv ou no cinema.

Basta pensar com um pouco de frieza e verão que são atrizes que ganharam dinheiro, são celebridades, tem alguma influência, mas não fizeram nada de realmente relevante no cinema. A não ser que se contabilize as tradicionais comédias românticas e series televisivas como destaque.

Outras estão indo pelo mesmo caminho. Rachel Bilson, Kristen Bell, Zoey Deschanel, Elisha Cuthbert, Alexis Bledel. Tem nome feito no meio, mas alguém lembra delas a não ser para fazer papéis adocicados ou que não ofereçam riscos?

A própria Kristen Stewart, que não é lá grande coisa, já percebeu e saltou fora do esqueminha. Poderia ter ficado remansosa como a “namoradinha” do Edward. Dinheiro não ia faltar. Ponto para ela.

Posso estar equivocado, admito, mas rola uma zona de conforto. Depois há que se correr atrás quando os anos passam. Tem gente que está fazendo isso agora, como a Mary Elizabeth Winsted em “Smashed”, onde não faz nudez, mas se despe do papel de “bonitinha” para gravar o filme inteiro bêbada e sem maquiagem. Teve a também a Shiry Appleby em “Girls”. A Emmy Rossum no bacana Shameless. Até a fraquíssima Alexis Bledel, fez uma graça em Mad Men. Para ela aquele pouco já foi um avanço, acreditem.

Talvez o grande barato de ser ator seja poder viver papéis totalmente distintos em sua carreira e, se eu fosse um, veria como um pesadelo a possibilidade de ser estigmatizado como um profissional que só é lembrado para fazer um tipo de papel.

Tem alguns que percebem isso tarde e se fodem, como foi o caso da Meg Ryan no péssimo “In The Cut”. Porra, por que quando estava “por cima da carne seca” não chegou para o seu “Ari Gold” particular e disse: “chega de fazer coisas do tipo Sleepless In Seattle!" Me parece de meridiana clareza que existe um momento em que é preciso decidir se o que se deseja é ser ator ou apenas celebridade. 

O Henrique Montes que é ator, postou um comentário deixando claro que para certos diretores se você não está disposto a fazer nu, esqueça trabalhar com eles. E acho que é por aí. Vale a pena  limitar sua carreira por isso? Você é ator, ora bolas!

Me parece que a questão é clara: não quer fazer nu ou cena de sexo ok, mas você poderá ser punido por isso um dia. Perdendo papéis ou sendo colocado para escanteio por bons diretores.

No que tange ao uso de dublês e CGI, vou ser incisivo. É patético! Acho que se o que vemos são dublês ou computação gráfica, ou seja, se o que vemos são falsos atores ou falsos corpos, deveríamos poder pagar o ingresso com dinheiro falso também. Daqueles de Banco Imobiliário. Chumbo trocado não dói, não é mesmo?

Quanto aos prêmios é uma questão difícil. Não sabemos até que ponto existe pressão na escolha ou indicação de certos atores em detrimento de outros. Talvez seja mais uma questão de consequência. Pode ser que o reconhecimento de um ator que se “arrisca” menos seja mais difícil, por isso tenha menos oferta de papéis em bons filmes com bons diretores e assim tenha menos possibilidade de ganhar prêmios relevantes.

É fato que vivemos em uma época de filmes PG-13, o que é um saco. Aí a questão é financeira. Quanto mais restrição um filme leva, menos público ele amealha. É muito adolescente que consome e que fica barrado. E como sabemos…"money talks, bullshit walks".

Existe também uma questão cultural, principalmente nos EUA, nação pudica e falsa moralista da porra. Quem já morou lá sabe. Muita gente se drogando, muita gente enchendo os cornos e na hora em que aparece um mamilo na tela, toma de censura e de dizer que é indecência. E salve a HBO!!!!

A Rebeca Riga comentou nos lembrando que no cinema europeu essa questão parece superada. Pelo menos as coisas por lá não envolvem tanta discussão, a nudez é tratada com absoluta naturalidade. É interessante pensar nisso. No quoeficiente cultural a ser considerado.

É claro que existe a nudez forçada, desnecessária, improfícua, apelativa. Mas essa não se discute, né? Se o cara é um ator que já tem sua estrada, não vai querer queimar um cartucho por nada. Penso que faz bem em recusar.

Agora, se ele confia no sujeito por trás da câmera e se vê como peça importante da obra, por que não? Vai vender laranja então, ué? Não foi isso que você escolheu? Deixo claro que me refiro a gente que PODE de fato se dar ao luxo de rejeitar trabalho. Não quero entrar aqui em uma discussão moral ou social específica.

O Luan Lobo citou o “Anticristo”, que é um filme que possui uma cena de sexo pesadíssima e ele tem razão quando aduz que ela “passou longe da vulgaridade”. Vi uma entrevista onde a Charlotte Gainsbourg falou sobre isso e disse que o Trier é capaz de levá-la a fazer qualquer cena, tal a confiança que possui nele.

A Kirsten Dunst queria trabalhar com o sujeito, né? Teve que mostar o peitinho. Mas e daí? Fez o fodástico Melancholia, não valeu? Não é melhor do que “As Apimentadas”? E olha que ela é uma atriz que poderia tranquilamente fazer papéis confortáveis. Tem nome e a aparência para isso.

Enfim, a discussão é essa e vai longe. A Rosângela que fez curso de teatro deixou um breve comentário afirmando que “a nudez faz parte da profissão do ator” e que a questão “não deve ser levada para o lado moral ou imoral”. Não poderia estar mais certa…

O FbRC CrazyMan também largou um comentário dizendo que “acha que a Zoey Deschanel não toparia”. Ele já sabe o que eu penso, é claro. Será que ela acorda? É um bom exemplo.

Independente da discussão, o importante para quem curte cinema é ver bons filmes. Com atores se entregando, fazendo papéis desafiadores em estórias cativantes. Com ou sem nudez, quero é ficar preso na cadeira, envolvido pela narrativa, emocionado com a interpretação. Os peitinhos são apenas um detalhe. Um agradável detalhe, mas não mais que isso.

6 comentários:

  1. É uma daquelas discussões que dão pano para manga mesmo.

    Você colocou uma opinião que eu vejo também, esse tipo de cena quando não é forçada, desnecessária... etc, não causa nenhum problema de verdade.

    Gosto dessa ideia da nudez sendo tratada mais naturalmente em determinadas partes do mundo, mas não vou criticar um ator , ou achar menos dele/dela por recusar esse tipo de papel, claro que essa pessoa vai ter de arcar com consequências desse tipo de escolhas, mas eu não a mandaria "ir vender laranja então", rs.

    A cena do Anticristo, foram os próprios atores? Pensava que eram dubles.

    Abraços

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É, o que quis dizer com isso é que se a cena impende a nudez e ela não é descontextualizada, fútil ou apelativa, talvez seja o caso da pessoa repensar a profissão que escolheu. Vender laranja é uma possibilidade. Lá ele não terá que tirar a roupa. Mas pode fazer qualquer outra coisa. Só acho que ator ele não pode ser. Concordo com a menina que estudou teatro e comentou que isso FAZ PARTE da profissão. Simples assim.

      A cena do Anticristo foram os próprios atores(até onde eu sei, nunca ouvi o contrário). Achei um puta comprometimento. Existe uma entrevista da Juliette Binoche onde ela fala sobre uma cena de afogamento que teve que fazer que foi sinistra. Talvez seja uma coisa ainda pior e para mim ultrapassa os limites, mas achei interessante. Em um cinema cada vez mais cheio de merda com o politicamente correto e com pudores, acho essa discussão interessante.

      1abç.

      Excluir
  2. Gostei do posicionamento. Prefiro cenas de nudez ao estilo do Anticristo (ou Irreversível, ou A pele que habito), não gosto das cenas em que só é mostrado o prazer sexual, acho chato mesmo, até desnecessário, sou meio esquisita. rs
    Nesses casos, não vejo nenhum engrandecimento profissional para a carreira do ator, ele só vai ter interpretado cenas que não me encantam.

    ResponderExcluir
  3. É nos detalhes que se encontram as diferenças,Dependendo do contexto um peitinho pode se tornar um grande detalhe,Ou não.

    ResponderExcluir
  4. Ahoy, HP!

    Posicionamento e temática interessantíssima como sempre ;}. No aguardo do outro lado da sua moeda fazer seu comentário pessoal, haha!

    Abraço! o/

    ResponderExcluir
  5. concordo , com vc beijos
    livro-azul.blogspot.com.br
    (por favor me siga lá no meu blog , :))

    ResponderExcluir

<< >>