The Impossible (por Hpcharles)




No dia 26 de dezembro de 2004, um tsunami de proporções devastadoras varreu a costa oeste da Sumatra, na Indonésia. Uma família qualquer teve a infelicidade de escolher um idílico “resort” naquela região, para passar suas desejadas férias de fim de ano. Big Mistake.

O diretor Juan Antonio Bayona e sua equipe entenderam que, a história real dessa família que foi colhida impiedosamente pela onda assassina, merecia ser contada. Fez bem.

O filme tem alguns méritos. Em primeiro lugar consegue passar ao espectador o susto, a impotência e o desespero dos protagonistas face à tragédia iminente. As cenas iniciais da mãe (Naomi Watts) e do primogênito (Tom Holland), são de tirar o fôlego. Quase somos afogados junto com os atores. De certa maneira, mesmo na cadeira, buscamos oxigênio, nos preocupamos com os dejetos contundentes e tentamos vislumbrar algo para nos agarrarmos, nem que seja o braço da poltrona.


Em segundo lugar, o filme aborda com precisão e sem ser piegas (e isto deve ter sido tentador para o diretor), a solidariedade humana ao lidar com a catástrofe apresentada. Não há recursos em um primeiro momento. Tudo precisa ser improvisado, dividido, racionado.

Por mais que a ajuda internacional organizada viesse a aparecer alguns dias depois, foi a incrível propensão que alguns espetaculares seres humanos tem de, no momento em que a merda bate no ventilador, compreender que ela suja a todos, e então pressentir que é preciso dar a mão, que salvou a pátria. Afinal, amanhã pode ser conosco e, mesmo que inconscientemente, trocamos de posição.


Nota para uma comovente cena onde uma criança, quase um bebê, faz um carinho eivado de poesia na protagonista, na copa de uma árvore. Ali fica consignada a pureza inerente às crianças. Pureza esta que ainda não foi vilipendiada por nós adultos, no trabalho no qual parecemos ser imbatíveis. O de “fuder-lhes” as cabecinhas.

A parte final do filme cuida da tentativa desesperada da família em comento, de obter notícias uns dos outros, para poder enfim, se reunir novamente. A história basicamente é essa e acho que vale a pena ser vista, sem maiores expectativas.

Para mim, ao ver o filme na sequência de alguns textos sobre ateísmo, ficou mais uma lição. A de que na hora em que a humanidade precisa, só pode contar com ela mesma.

Me recordo claramente dessa tragédia. Muitos religiosos se apressaram em dizer que o hediondo incidente teria sido uma punição divina por conta da mistura religiosa da região, onde muitos acreditam em espíritos(apesar de não serem maioria). Outros disseram que essa "hecatombe" seria um teste divino e que faria as pessoas se unirem. O quão estúpido e cruel isso pode ser?

Dezenas de milhares de pessoas morreram instantaneamente. Outros milhares de crianças, algumas centenas ainda de colo, foram arrancadas dos braços de seus pais e sugadas para as àguas ascendentes.


Se alguma ajuda veio, foi do homem. Foi ele quem retirou os corpos putrefatos e esverdeados do mar. Foi ele quem proveu a comida e a medicação. Nenhuma mão metafísica freou a onda homicida. Mesmo quando seus filhos escalavam o topo das árvores em busca de abrigo, quiçá de mais um salvador “gole” de ar, deus, em sua onipotência, permaneceu inerte, como sempre o fez. Eis algo para ser aprendido.

Mas esse pequeno texto não foi uma resenha, percebam, foi só uma dica...ou duas.

9 comentários:

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    1. Advirto que não é um filme fácil de ser visto. Pode bater uma tristeza. Mas acho que vale...

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  2. Ótima resenha e ótimo filme. Você consegue sentir todo o desespero daquelas pessoas e eu, que nunca fui melosa, comecei a chorar logo no começo.
    É um filme extremamente humano, mexe com seus sentimentos de uma forma muito profunda, seja de sofrimento ou de caridade.

    E, já que você falou em Deus, acho que a história dessa família prova Sua existência e não o contrário. Mas, ei! Cada um acredita no que acha certo, né?

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    1. Sim, é um filme que nos emociona muito. Mas fiquei tocado pela apoio da humanidade em relação àquela tragédia, não sei onde podemos enxergar deus ali. Como expliquei, se alguma ajuda apareceu, foi dos homens. Por isso penso exatamente o oposto de vc. Como compreender a teodiceia face a uma situação onde milhares de crianças pereceram. Como conciliar um deus bom e onipotente com sua inércia. Pq, se é bom e caridoso, não freou a onda? Como relevar a famosa adução de Epicuro face a este acontecimento? A alternativa é óbvia...deus não ajuda, pq não pode. E não pode pq não existe. Simples assim.
      Quanto a acreditar, não acho que seja uma escolha. Não acreditamos em algo pq "escolhemos". Acreditamos pq, de alguma forma, faz sentido para nós.
      1abç.

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    2. Tem razão, também não acho que seja questão de escolha. Acho, inclusive, uma perda de tempo tentar convencer outra pessoa de algo que não faz o menor sentido para ela.

      Só queria esclarecer porque, para mim, essa história prova a existência divina. Fenômenos naturais acontecem. Fato. Deus não vai simplesmente pará-los, seria interferir no funcionamento do Universo e eu (não a igreja, eu) acho que isso invalida o sentido das coisas.

      Deus age de forma silenciosa, através dos homens. É exatamente esse apoio da comunidade, tão destacado no texto, que evidencia sua existência.

      Mas não quero criar uma discussão ou algo do tipo, é que faltou explicar isso no outro comentário. =)

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    3. Sim Priscila, mas a questão não é tentar convencer alguém de algo. Até pq quando alguém acredita sem bons motivos para fazê-lo, sem provas ou evidências para que o faça, já abandonou a razão faz tempo e está entregue apenas à emotividade.

      No mais, se essa história "prova" a existência divina para vc (não sei como poderia), então ou deus não se importa, ou não é onipotente ou esse deus é um ser deplorável e absolutamente imoral. Não há outra alternativa. Se é deus, é bom, todo poderoso e pode impedir que milhares de crianças morram e mesmo assim não o faz, para mim é um assassino por omissão, um genocida da pior estirpe. É claro que existe uma alternativa muito mais elegante, muito mais plausível. A de que não exista.

      Aliás, gostaria de saber como vc SABE que deus age através dos homens? Note que não perguntei no que vc acredita, perguntei como vc sabe, já que fez uma afirmação.

      O apoio da comunidade Priscila só demosntra a bondade das pessoas e não de deus. Deus nunca apareceu na história. Vilipendiar o esforço e o sangue despendido pela humanidade para ajudar ao próximo e atribuí-lo a deus, não me parece apropriado, não é mesmo? Tente dizer aos médicos que trabalharam durante semanas sem parar, que foi deus que salvou as vítimas. E os milhares que pereceram não foi deus que os matou? Que peso é esse? O quão, irônico, paradoxal e sem sentido é isso?

      E fique descansada, não há "discussão", apenas uma troca de argumentos. Isso é saudável quando há honestidade intelectual e flexibilidade face ao melhor argumento.

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    4. Eu não SEI que Deus age através dos homens, eu falei o que penso e acredito. Como já tinha deixado claro no contexto que era minha opinião, não vi necessidade de, mais uma vez, dizer "eu acho".

      E sim, estou entregue à emotividade. Não posso comprovar que Deus existe, da mesma você que você não pode me provar o contrário. No entanto, ambos sabemos que existem coisas no mundo inexplicáveis do ponto de vista humano, coisas que simplesmente acontecem, como a morte.

      EU prefiro acreditar em algo maior, algo divino por trás de tudo.

      Sobre esse "ser deplorável e absolutamente imoral" que você fala, não sei se é crueldade tirar "crianças inocentes" de um mundo cheio de maldade como o nosso. Afinal, acreditar em Deus significa, no meu caso, acreditar em vida após a morte - não acho que Deus causou uma catástrofe para tirar ninguém do mundo, não acho que Deus causou nada.

      Posso estar errada? Posso sim, mas não dá pra ignorar o que sinto. Acreditar em um ser superior pode ser apenas uma escapatória para todos os problemas do mundo, como também pode não ser. E, já que a razão não pode me mostrar a verdade, eu sigo a emoção por enquanto.

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    5. Rs, a diferença Priscila é que o ônus de qualquer prova recai sobre a afirmação. Eu não posso provar a inexistência de deus assim como não posso provar a inexistência do Curupira. E outra, vc diz que não sabe se deus existe, apenas acha? Tem dúvidas de que ele exista? Mas então não entendi sua frase: "acho que a história dessa família prova Sua existência". Vc disse que acha, mas acha que "prova". Ué, se prova qual é a sua dúvida a respeito da existência desse ser? Tá confuso.

      E me desculpe Priscila, mas aqui vc foi muito mal: "não sei se é crueldade tirar "crianças inocentes" de um mundo cheio de maldade como o nosso."
      Que legal, né? Realmente não há nada de errado em milhares de crianças serem afogadas. Deve ser muito bom mesmo. PQP.
      Esse é um dos problemas que mais me incomoda com a fé. Através dela tudo pode ser justificado e desculpado, até mesmo a morte de crianças inocentes por um suposto deus inerte e inescrutável. Se ele não cabe na lógica, mesmo a pior tragédia deve se adaptar à crença a fim de endossa-la
      Só gostaria de dizer que seu comentário foi um dos mais cruéis que já li em 4 anos, desde que comecei a estudar o assunto mais a fundo. Gostaria de saber se vc manteria esse pensamento se fosse um filho seu que tivesse perecido ali. Gostaria de saber se vc veria bondade divina quando seu corpo fosse resgatado do mar.

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  3. Olá! Assisti ao filme hoje. As impressões são inúmeras, a começar pelo terror inicial com a vinda da primeira onda. Eu que moro numa cidade litorânea, ver uma cena dessa assusta e muito! Depois, os destroços, a falta de assistência adequada, o desespero em busca dos familiares e a impotência do ser humano diante dos fenômenos naturais. Apesar disso, fiquei estarrecida ao final do filme: eles, indo embora no avião, para o conforto, enquanto milhares ficaram à sua própria sorte. Isso me lembrou o furacão Katrina, em Nova Orleans, em 2005, e a população negra sofrendo com a inércia do poder público; o terremoto do Haiti, em 2010; as chuvas na região serrana do estado do Rio de Janeiro, em 2011; entre tantos exemplos. Os fenômenos naturais aconteceram... alguns mandaram ajuda humanitária... os governos prometeram reconstruir... mas a população local permaneceu abandonada.

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