Pandeiro e Ziriguidum (por Hpcharles)







  

Como se não bastassem todos os impostos, anuidades, seguro de carro e o calor desgraçado que massacra impiedosamente o sudeste no início do ano, temos algo que, a meu ver, é muito, mas muito pior. É amiguinhos, lembra da Lei de Murphy? Pois é, quando achamos que uma coisa não pode piorar, ela vai e piora.

Conhecido como a “maior festa popular do mundo”, propagandeado por muitos como a maior representação e orgulho da cultura nacional, em fevereiro temos o nosso “CARNAVAL”. Por onde começo? Tá difícil. Vamos daqui: “NOSSO É O CARALHO!”

Sempre odiei essa porra. Ele nunca me representou. Nunca foi meu. Não me recordo de ter passado procuração a passistas, colocado gasolina em trio elétrico e nem ajudado a construir carro alegórico. Não vejo desfile de escola de samba, não conheço samba enredo de nenhuma agremiação, não uso a rua como banheiro público.

Mas parece que o carnaval passa uma ideia de que quase tudo é permitido e foda-se quem está do lado. Que se dane o ouvido alheio. É a alforria da melhor educação e do limite para com o direito do outro. Antes que me aporrinhem, não estou me referindo aqui a qualquer tipo de moralismo.

Se pseudo atrizes querem desfilar nuas, se os bailes costumam fazer inveja a Calígula, se a TFP vai fazer mais uma manifestaçãozinha de merda para gritar que o mundo está perdido, eu não estou nem aí. Só não acho correto que me obriguem a participar. Não me peçam para achar tudo bonito. Não me cobrem bençãos, alardeando que esse ano haverá algo diferente ou inovador, algo que já não tenha visto pelo menos umas trinta vezes. E achado ruim todas elas.

Vejam bem, as pessoas tem todo o direito de achar a Cláudia Leite sensacional, de pensar que a Beija-Flor é a oitava maravilha do mundo, de acreditar que axé é música de verdade. Isso é problema deles. A questão é que, por via oblíqua, a menos que me retire para algum lugar inóspito, sou obrigado a comungar com a “brejeirice” imbecil, apaludir a malemolência no pé, achar que a Velha Guarda da Portela e a melhor coisa que o Brasil já produziu depois de Paulo Coelho. Ei gente, por falar no maior escritor que estas terras varonis já vislumbraram depois do Zé Sarney, será que o"mago" poderia, pelo menos dessa vez, fazer chover um pouquinho? Apenas para diminuir o ritmo e o mormaço no afoxé.

Mas me digam, porque acharia legal ver gente dirigindo bêbada em proporção cinco vezes maior do que o normal(número de acidentes é sempre absurdo) e escutar carros de som até de madrugada? E as ruas que ficam irremediavelmente imundas, as praias que se transformam em campings?

Não vou tirar meu corpo fora não. Já “brinquei” Carnaval nos primeiros anos de faculdade. Fui para Salvador, Conceição da Barra, Iriri, Morro de São Paulo e “adjacências”. Corri o circuito da sacanagem, dos beijos insípidos, da estultice disfarçada de diversão, da cerveja no gargalo e do whisky duvidoso.


Se serviu para algo? Sim. Serviu para descobrir que posso ter tudo isso sem o acréscimo da música ruim e de ter de pagar mais caro por isso. Não é para mim, definitivamente. Mas como disse, para quem gosta, “suit yourself”. Nesse processo, "data venia",  por obséquio, encarecidamente, não me digam que esse Carnaval é cultura, ok?


Faz muito tempo que aquele Carnaval tradicional, desposado do precípuo fito de lucro hodierno, ficou para trás. Aquele Carnaval de bairro, onde as pessoas realmente iam para se divertir e relaxar ao invés de pisar em cacos de vidro e vômito, brigar e sentir cheiro de urina dos outros. Não vamos confundir as coisas e não usemos a festa popular de outrora, como álibi para as excrescências perpetuadas pela Globo e emissoras “miguxas”.

E não, além de não ser moralista como disse(só existem falsos moralistas como alertava Nelson Rodrigues), também não sou saudosista. A questão aqui é que, parece que as regras sociais de convívio e algumas leis menores, ficam esquecidas durante essa época do ano.  Isso traz consequências. E a abissal maioria delas, não é boa.

Mas ok, se não me encherem o saco, tá “sussa”. Conheço gente que pega aquele encarte que vem no jornal com os espaços para dar notas aos quesitos do desfile e passa a noite acordado votando, como se fosse um jurado de verdade. Aqui vou me abster de fazer um comentário. Seria por demais escatológico. Ainda assim, bato palmas para o maluco dançar. Para mim é preciso ter um parafuso a menos para fazer isso e ainda comemorar, mas não atrapalha meus queridos filmes e minha sacrossanta leitura.



Isso sim é a coisa boa do Carnaval. Tirar os dias para ler mais, ver mais filmes. Tudo isso com um bom par de fones nos ouvidos, é claro. Fora isso, na minha opinião, não sobra nada.

Como dizia o famoso samba enredo da Mangueira de 1986, “tem xinxim e acarajé, tamborim e samba no pé”. O quão “jenial” é isso, né? Parece que de lá para cá, o que era ruim ficou pior. Daniela Mercury fez “iscola” e outras “musas” apareceram. A Sapucaí se tornou o destino de turistas e de celebridades muito bem pagas para lá estar. Representação de cultura “my ass”. Apenas mais do mesmo e toma de imposto em nossas bundas.

Mas quem sou eu, afinal de contas? Não tenho samba no pé. Não gosto de cerveja quente. Não curto gente espremida e suada na rua. Dispenso música ruim. Não vou atrás do trio elétrico. Meus polegares opositores não ficaram maiores por tanto bater no tamborim. A conclusão é bem simples. Ou sou ruim da cabeça ou doente do pé.



26 comentários:

  1. Compartilho plenamente contigo!
    Você colocou em palavras exatamente o que sinto quando janeiro chega, até porque, no Brasil, depois da meia noite do dia 31/12, tudo gira em torno do carnaval.

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  2. Eu mudaria o ditado para... "quem gosta de samba tem merda na cabeça ou pensa com o pé"

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  3. Concordo com cada ponto e vírgula. No fim das contas, o Carnaval só traz de bom aqueles dias a mais para fazer o que realmente interessa. Adiantar trabalhos ou simplesmente relaxar. E ficar mais contente com a aproximação da Páscoa e a ideia de me permitir empanturrar de chocolate. =)

    Bjs
    Livro Lab

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    1. Pois é, pelo menos isso. Serve para colocar a leitura e as séries em dia. Não vejo mais nada de bom. Mas se o cara acha legal o "quebra tuuuuuudo" e o "mãozinha para o allllltoooo". Então ótimo. É só respeitar o direito dos outros de não querer essa merda às duas da manhã. Mas isso é pedir muito

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  4. Quando eu era mais jovem, e não costumava pensar com a cabeça que abriga a mente, Até que gostava de me iludir olhando corpos "esculturais", Hoje que uso realmente o órgão pensante, vejo o quão estupido fui em deixar me levar por partes não pensantes do corpo.

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    1. Pois é, o tempo passa, a idade chega e os paradigmas mudam. Com o tempo percebemos coisas que não percebíamos, tudo absolutamente natural.

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  5. "Tudo isso com um bom par de fones de ouvido, é claro" disse tudo!

    Acho que tenho uma visão parecida com a sua nisso, sempre detestei essa muvuca disfarçada de festa, mas nunca pela visão religiosa; pela visão higiênica talvez? rs.

    Sera que toda santa comemoração publica tinha de virar a festa da urina na rua ? Já vi um grupo na paulista (literalmente no meio da avenida) "brincando" de tentar acertar o outro, isso foi em festa bem menor que o carnaval, imagina atrás de trio elétrico.

    Fico pensando se isso tudo não é pela quantidade de pessoas no país que aumentou tanto desde o tempo que essas festas começaram.

    Gostei do texto! Abraços.

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    1. Valeu Filipe. As pessoas não parecem entender, que o direito delas de aproveitar seu Carnaval do jeito que desejar(seja até no meio do urinol), deveria ser limitado pelo mesmo direito que as pessoas tem de NÃO desejarem participar. A questão é que isso fica muito difícil. Dependendo de onde vc mora, é IMPOSSÍVEL. Existem idosos que são furtados de seus sonos, existem doentes em hospitais que são obrigados a ouvir a música asnática até as cinco da manhã. Existem outros que precisam dormir pq trabalham cedo. Pareco que as algumas pessoas se ofenderam com o texto e isso é normal. O curioso é que essas mesmas pessoas parecem se esquecer a mesma prerrogativa que os garante de desfrutar suas festas é a mesma que garante a outros de não desfrutá-las e mais, de dizer o pq de não querer participar. O nome disso é liberdade de expressão. 1 abç.

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  6. As pessoas, claro, tem direito de gostar de coisas diferentes. Porém, é muito triste quando alguém aproveita seu publico cativo para expressar suas opiniões de maneira tão grosseira, como feito nesse referido texto. Parece aquela distinção feita por Machado, e relembrada por Suassuna entre o Brasil Oficial e o Brasil Real. Parece que estamos divididos entre aqueles que podem fazer refugio em alguma área serrana ou em Paris, se divertir com “coisas boas”, e aqueles coitados que só tem “o bar e o candomblé pra se tomar a benção”. Não basta dizer que não gosta, tem dizer que é feio, que fede...

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    1. Tem toda a razão. Daqui pra frente, não daremos mais nossa opinião no nosso espaço. Seremos politicamente corretos e só faremos posts que sejam do seu agrado. Posso começar a enviar os textos pro seu e-mail antes de postá-los pra sabermos se está de acordo? Ou será que você não prefere abrir seu prórpio blog e postar lá o que você bem entender enquanto nós ficamos aqui, postando o que bem entendemos?

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    2. Sim, na sua opinião o texto pode ser grosseiro. Particularmente penso que o grosseiro, é mistificar a imbecilidade e torna-la virtude. Grosseiro é glorificar os apedeutas, é ludibriar o povo com lixo acessível. É fingir que o que existe hoje é Carnaval, quando o que de fato encontramos é a exploração da ignorância alheia. O que é grosseiro é jogar lixo nas ruas, transforma-las em banheiros públicos a revelia das normas de convivência social. Grosseiro é não compreender que o seu direito termina exatamente onde começa o dos outros. Grosseiro é vilipendiar a cultura, a confundindo o subproduto vendido para anestesiar a mente de incautos. Isso é bem mais grosseiro do que o texto. E me desculpe, por dizer que o que é feio e que fede de fato o é. Quando for bonito e cheiroso, tenha certeza que direi. Mas não é o caso.

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    3. Elitista na sua bunda. Elitismo é o seu de achar que o povo tem que consumir merda e ficar feliz com isso. Elitismo é achar que apenas porque algo é "popular" é automaticamente bom, ao custo da verdadeira cultura. Vc sonha com um Brasil melhor? Não tá parecendo. Para mim, vc avaliza a sub-cultura, o Carnaval da Rede Globo e da música néscia. Vc não quer um Brasill melhor, vc é apenas condescendente. Não percebe de forma juvenil que, ao bater palmas para o que em outros países é visto como chacota e ridículo, se torna vc sim o elitista.
      Para vc, o povo deve merecer assistir Faustão e ser anestesiado com um gole de cachaça, enquanto a política pública o estupra e a mídia lhe enfia purpurina goela abaixo. Que beleza, né? Como dizia Renato Russo, "vamos bater palmas para a estupidez humana".
      Acredite, vc não sonha com um Brasil melhor. Apenas acha que sonha.
      Bom Carnaval para você também. Só por favor, nesse processo, tenha a gentileza de abaixar o som após às 22. Existe lei para isso. E ó, cuidado...não vá urinar na rua, ok? A legislação não fica suspensa por conta de "tradição". Seja na serra ou em qualquer outro lugar, afinal como diria Daniela, "aê, aê, aê, aê....quebra tuuuuuuddooooo!

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    4. Não basta dizer que não gosta, tem que dizer que é feio, que fede...
      ué, e não é isso mesmo? rs.

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    5. Rs, é como eu sempre digo Geyse, nesse país não se pode dizer que o que é uma merda, é uma merda. Só serve se for babação de ovo. É lamentável...

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  7. Texto perfeito, HP! Apenas acrescentaria que é esse incentivo velado ao turismo sexual que reforça a nossa imagem de "puteiro do mundo" ou de selvagens. Mas até entendo... se dependesse da "música" e da "cultura", não teria 1 gringo que viria ver essa merda...

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    1. Cara, sabe que eu deveria ter abordado esse ponto que vc ressaltou. Realmente foi muito bem lembrado. O que vem de gente aproveitar o turismo sexual nessa época do ano é impressionante. Na verdade, afirmo sem margem para dúvidas, pq já estive fora várias vezes, que sempre que fui perguntado por estrangeiros, acerca do Carnaval no Brasil, foi na direção de saberem sobre isso mesmo. Se o tamanho da indústria do sexo e seu aumento no Carnaval, é real. Mas fazer o quê? Tem muita gente que acha que não podemos criticar a "cultura carnavalesca"...

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  8. Adorei o texto, e esse ano será melhor pois o prefeito da minha cidade teve misericórdia de quem não gosta de carnaval e passou e verba para a saúde q ta precária aqui em Petrópolis, não votei no cara mas sentí firmeza

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    1. Pois é, de vez em quando alguém acerta e faz o que deve, ao invés de "jogar para a torcida". 1 abç.

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  9. kkkk interessante, falou tudo que eu queria dizer. Enquanto todo mundo se diverte no carnaval, se é que posso chamar aquilo de diversão né, eu vou é estudar pro vestibular, isso sim vai acrescentar algo a minha vida. beijos :D

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  10. CERTÍSSIMO! Enquanto as pessoas ficam bêbadas e poluem as ruas, escutam musicas horríveis, fazem coisas muito piores. Temos que aturá-los! E se comentarmos alguma coisa, dizem que o que estão fazendo é cultura e tradição! Tradição não é ouvir esses pagodes, é muito diferente.

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  11. Também tinha (e tenho) a mesma impressão do Carnaval da Bahia e do Rio, mas conheci algo que totalmente diferente. Trata-se de Olinda. Em Olinda a música é boa, não paga-se horrores por um abadá ou desfile. Brinca-se como antigamente, com familiares e amigos. Obviamente há os que se excedem, mas não é em toda parte. Sai-se de fantasia ou com a roupa que quiser. Usa-se máscara ou bebe-se cerveja. É democrático e não é permitida a inserção de músicas ou ritmos de outros estados. Eu mesma não gosto muito de Carnaval, mas acho bonita a alegria do povo, a diversidade de pessoas, o colorido das ruas. Quem sabe um dia você não dá uma chance?

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    1. Então Cristiane, eu não conheço mas pelo que vc descreveu, me parece um Carnaval bem mais tradicional e inclusivo. Mas no dia em que vc vier ao RJ, SP ou Salvador, me diga aquilo se parece com o Carnaval de Olinda. Aqui é bloco do "Ronaldinho", do "Romário"...todos ligados "à cultura nacional", rs. Existem até os tradicionais, mas infelizmente a bagunça e a imundice que deixam,é exagerada até para uma comemoração pública. Note que são vários dias. Moro em um andar muito alto e parece que a música toca dentro da sala, mesmo de madrugada. Teria muito mais para dizer do que disse no texto. Coisas que presenciei e quem conhece, sabe exatamente do que estou falando. Mas e bom saber que em algum lugar do Brasil, ainda existe Carnaval de verdade, onde a tradição é ditada pela real cultura popular e não aquela imposta pela mídia, redes de televisão e cervejarias. 1 abç.

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  12. HP,gostei muito da sua critica, moro em Salvador e não suporto carnaval, concordo com tudo que voce disse, durantes esses dias em que a cidade não funciona quase nada, até as agencias dos correios onde queria postar um livro para um usuario do skoob e não pude, somente quando terminar essa festa louca... a unica coisa que vale é que durante esse periodo faço o que vc mencionou, leio meus livros, e assisto filmes e series, isso na minha opinião é o melhor recesso que eu poderia ter.
    abs,

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  13. No carnaval ninguém é de ninguém, ou todo mundo é de todo mundo.
    Tempo de sujeira, bebedeira e prostituição!
    Péssimo para a imagem do país! Alías, a imagem lá fora já é uma merda mesmo, tudo aqui acaba em pizza ou putaria (em todos os sentidos).
    Muito bom seu texto!

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