Primeiro
foram os meus vinis, mas eu não liguei. Depois foram os cds, mas como precisava
de espaço, dei de ombros. Se foram então os dvds, afinal com o streaming,
baixo tudo em alta resolução e nem senti a perda. Agora vieram os e-readers...e
aí já era tarde. Será o Benedito que também irão meus livros?
Claro
que Martin Niemöller cuidava de assuntos mais sérios em seu famoso poema, mas a
verdade é que a digitalização parece irrefreável. Evidente que os cds, dvds e
livros sempre existirão. Sempre haverá “seres táteis”, fissurados por boxes e
disquinhos prateados e amantes do papel, com suas texturas e odores
característicos.
Para
a mim a história foi bem simples. Me desfiz das bolachas pretas realmente sem
dor(hoje sinto falta delas), porque o cd chegava com força, com um elã
tecnológico difícil de se recusar. Mais leve, mais resistente, menor. Entreguei
meus “Lps” sem pestanejar e cheguei a ter mais de dois mil e quinhentos cds,
posteriormente.
Como
sempre gostei de tecnologia, bem cedo passei para o Mac e para Ipod, com seus mp3. Foi uma consequência inevitável. Precisava de espaço e tive de optar entre a
coleção de dvds, que já botava a cabeça para fora, e a de cds, que poderia
armazenar em alguns gigabytes. Perderia as caixinhas e o manuseio com os
encartes, mas é a vida. Em todas as trocas existem perdas, mesmo que não as percebamos.
Passei anos de música para dentro do computador e lá fui eu, com a mala cheia,
para um sebo de discos em Copacabana. Lembro que o dono da loja chegou a
salivar ao ver a quantidade de cd`s difíceis de se conseguir e o melhor, em tão
bom estado de conservação. Paciência, todo mundo faz merda...
No que concerne a vídeos, achei interessante a ideia de fazer streaming de vídeos do meu Itunes. Resolvi experimentar e gostei. Com a adoção
do padrão de 1080p pela AppleTV(segundo os especialistas, próximo da qualidade
de imagem de um Blu-ray físico), a brincadeira ficou interessante.
Prático
demais. A pequena caixinha me possibilitou baixar filmes em High Definition e assistí-los
com enorme facilidade, ao clique de um botão. Os torrents específicos para o
aparelho estão se difundindo rapidamente e, se você não liga para os boxes, é o
mesmo que assistir a um Blu-ray sem ter que pagar por ele.
Não,
não pretendo me desfazer de minha amada coleçãozinha...por enquanto. Que tipo
de ser humano seria, se o fizesse? Mas que existem bons argumentos, existem.
Talvez aconteça o que dizem os estudiosos do assunto. Que no futuro, a mídia
física ficará restrita aos colecionadores. Me parece uma dedução simples e
acertada. Mas e quanto aos livros digitais?
A
Tati já havia me pedido um e-reader e, como não consegui cumprir o pedido no
aniversário, Papai Noel matou a charada. Antes que me crucifiquem, de
aniversário dei um box de Six Feet Under “espetaculoso”, que está em meu poder
agora e que fique claro para quem quiser ouvir: ela terá que lutar até a sua
última gota de sangue para resgatá-lo. “Bring it on beeatch!” Brincadeira, ele
está sendo bem cuidado.
Bom,
nos dirigimos ao meu grande concorrente em minha relação afetiva (a Livraria
Cultura), para adquirirmos o “demoninho”. Juro, por mais capiau que pareça,
nunca tinha visto um Kobo pessoalmente. Até porque a Tati, até bem pouco tempo,
não sabia se casaria ou se compraria uma bicicleta e só falava em Kindle. Essa
virada de casaca facilitou minha vida pra cacete, diga-se de passagem.
Abro
um parêntese para ressaltar o puta atendimento que tivemos na compra do
aparelhinho, o que me fez considerar a pertinência da bigamia de minha amada. Tá...admito. Fiquei fã da Livraria Cultura. Chupa essa manga Livraria da Travessa!
Gente,
a explicação que o vendedor nos deu faria o Forrest Gump manusear o Kobo com
destreza. Atualizou o aparelho e deixou o brinquedo de frente para o gol. Foi
só sair para o abraço.
“Mas
HP, para de enrolar e diz o que achou, porra!” Ok. Achei muuuuito interessante.
Cumpre ressaltar, a possibilidade de se ler alguns capítulos antes de
finalmente decidir por comprar o alfarrábio binário ou não. Viu pessoal que
comprou 50 Tons de Cinza e se fodeu de verde e amarelo?!?! Agora não só Jesus e
o Corpo de Bombeiros salvam, mas o Kobo também.
Para
mim pelo menos, as fontes ficaram cristalinas e o peso do novo “miguxo” da Tati
pareceu bem amigável. Bateria para mais de um mês(segundo o fabricante) e eu só
acredito............veeeeiiiinnnndoooo!!!!
Sim,
mas você pretende comprar um? Sinceramente? Não sei. Existe algo dentro de mim,
no que tange aos livros, que difere muito de minha relação com a música e com
os filmes. Algo romântico e conservador. Difícil explicar.
Toda
a vez em que considerei comprar um e-reader, me senti como se estivesse traindo
amigos de infância. Neurose pura, né? Ok, mas e o cheirinho? Ei, será que
alguém me diz se existe a previsão de lançarem um Kobo que exale um cheiro de
livro novo?
A
minha dúvida reside justamente no receio à adaptação e no desapego à tradição.
Sempre tratei os livros com uma grande pitada de reverência e uma pequena dose de
santidade. É claro que você ainda pode seguir o plano de comprar apenas os
livros físicos que mais te interessarem. Assim, tirando do caminho a
emotividade, se teria o melhor dos dois mundos.
Pois
é, mas pelo menos para mim que já vendi meus discos, me desfiz dos cd`s e estou
com um pé nos filmes digitais, sinto que preciso desenhar uma linha na areia.
Mesmo as putas tem seus limites. Pode parecer bobagem e provavelmente é, mas
esse bastião, por ora, ficará inviolado.
Ainda
me sinto dependente do corte de papel, do ácaro letrado, da dedicatória
encontrada no livro emprestado. Foi assim que comecei, ainda imberbe. Pelos
livros de folhas vivas. Mudos, eles me fizeram companhia quando não havia nenhuma. Sapientes,
me deixaram menos ignorante. Universais, me fizeram viajar sem mover um
músculo, a não ser o das pálpebras. Ainda não estou pronto para sair dessa
relação com a celulose. Já existe plástico demais à minha volta.
Vocês
sabem onde tem uma tomada por aí? Acabou a bateria do meu livro...
Esses leitores já chegaram com tudo e uma hora ou outra muita gente vai acabar aderindo. Mas isso não significa que terminará os livros no formato convencional, tem como os dois conviverem de forma harmônica, eu com os de papel e os modernets com os digitais.
ResponderExcluirÉ o que penso também. É impossível segurar a tecnologia. Uma hora ela te vence. Mas confesso que ainda não estou preparado para os livros digitais. Vou resistir enquanto puder, rs.
ExcluirGenial, expressou maravilhosamente bem o que muita gente sente com relação aos e-readers! Será que as estantes do pessoal não gritam por socorro?
ResponderExcluirPois é, se tiver que me desfazer dos livros vai ser foda...
ExcluirGanhei o Kindle de presente de Natal! Tudo isso devido a dores na coluna, por ficar carregando vários livro na mochila, entre eles o "Hitchcock/Truffaut" que é um tijolo. E-reader é incrível para quem passa o dia fora. Como eu!
ResponderExcluirNos casos em que vc citou, os e-readers possuem uma vantagem indiscutível. Quem sabe com o tempo, consiga me adaptar. 1abç
ExcluirTexto sensacional ! Sou amante dos livros de papel, mas no momento me rendi aos livros digitais (comprei um kindle) e confesso: estou adorando.. É inevitável essa migração para as mídias digitais, aos exemplos que você bem falou no texto. Tudo é questão de tempo...
ResponderExcluirPois é cara, concordo contigo. Sei que minha resistência é inócua. No fundo são duas experiências distintas. Tenho mesmo é que parar de bater pézinho. Vamos ver se mais para frente eu consigo usar um. 1 abç.
ExcluirBelo texto, cara!
ResponderExcluirValeu Anna, obrigado.
ExcluirEu acho o preço dos livros digitais muito caro em relação aos físicos. Me disseram que é só pegar pirata, mas quem disse que eu acho ebook dos livros que eu quero de forma gratuita?
ResponderExcluirPois é, acho que a Tati tb está tendo trabalho com isso...
Excluirdá pra achar MUITA coisa em inglês - em português é que é o problema :/
Excluirhttp://livrosdoexilado.org/
ExcluirRealmente tenho que admitir que é muito bom, e vale a pena. Porém, não troco por nada meus bons livros de papeis que sempre estarão ali, ao meu dispor, sem correr o risco de quebrar ou a bateria acabar rsrs. Não que eu não concorde, acho maravilhoso a tecnologia mais, por mais que existam muitos modos sofisticados, não seria capaz de abandonar meus pobres librinhos.. Claro que isso isso é de cada um, mais adoro o cheiro de livros, minhas pilhas de livros bagunçada no meu quarto, na estante. Isso, pode ter certeza são insubstituíveis. É uma coisa que vem e vai, bem típico da tecnologia, daqui a alguns anos já vão inventar algo acima dele. e antes que me chamem de velha,rsrs tenho 17 anos, e sinceramente, não me adapto facilmente a tanta tecnologia..
ResponderExcluirabraços :D
Bom, vou resistindo enquanto posso, rs.
ExcluirNão tenho problemas com livros digitais. Além de me poupar dinheiro com tanta porcaria sendo publicada, fico feliz por uma árvore a menos não ter sido assinada pra receber nada mais que "50 tons".... Por outro lado sou bibliófilo dois mais caxias, ainda vejo como uma heresia ler Pessoa, Dieckens, Dostoievski, Gogol, Thomas Mann e tantos 'amigos' de infância como Verne, Dumas e Agatha, enjaulados em plástico, longe do seus queridos ácaros e charmosos grãos de poeira, das irremediaveis manchinhas e rugas da idade.
ResponderExcluirPois é brother, mas eu chego lá. Quem sabe quando o "Kobo Glo" chegar em terras tupiniquins eu me anime. Por enquanto vou resistindo bravamente, rs.
ExcluirMesmo sem ter e-reader e/ou tablet, já faço isso, compro os livros físicos só q mais me interessam, por dois motivos: livros são caros né, e tenho pouco espaço. Mas compartilho do mesmo pensamento, adquirindo algo digital, continuarei a comprar livros físicos somente q mais me agradar. Belo post.
ResponderExcluirNo fundo eu sei que estou empurrando com a barriga mesmo. Como escrevi, a questão é mais romântica do que qualquer outra coisa. 1 abç
ExcluirÓtimo texto, cara! Ainda tenho uma resistenciazinha quanto aos livros digitais também. Não acho muito negócio comprar livros digitais até porque o preço destes normalmente não é mais do que R$ 10,00 mais baratos que os livros de papel mesmo, então ainda acho mais vantajoso se investir o dinheiro nos liiivros mesmo, mas acho interessante os e-readers principalmente por serem mais leves. Então fica a dúvida sobre o Kobo: se eu baixar livros em pdf (do piratebay, por exemplo), ele lê? Ou é preciso que o livro seja comprado para q ele fique no formato bonitinho apresentado no aparelho?
ResponderExcluirBrother, o que eu sei é que o Kobo é mais amigável para diferente tipos de arquivos. Esse foi o motivo preponderante pelo qual a Tati o preferiu ao Kindle (que só aceita os livros comprados na Amazon).
ExcluirSei que ela já baixou várias coisas em torrent e sei que ele lê pdf sim. Dependendo do arquivo ele fica perfeito, mas ela fará um video explicando melhor sobre esses detalhes.
1abç.
Thankz, vou esperar pelo vídeo :)
ExcluirOlá Charles, eu nem vi os comentários acima, e, se por algum motivo houver repetção mil desculpas...
ResponderExcluirLendo seu texto também pensei nessa "onda" do digital. Atualmente eu possuo um tablet, que pra leitura realmente é uma merda rs. Possuo muitos livros aqui em minha casa, e muitos deles ainda não violados... Também sou da geração do vinil, e percebo que existe essa barreira quanto ao livro, mas eu tenho certeza que para as próximas gerações o livro talvez nem seja algo tão importante, ao contrário do que é hoje em nossas vidas. Digo isso por que gosto e amo bibliotecas, já fui em várias e vou sempre que posso.
O grande problema é... acabou a bateria... Isso sem sombra de dúvida ainda é um problema. Esses novos dispositivos garantem ótima autonomia, com certeza, os próximo também ... Mas não será agora nem em muitos anos que veremos o livro desaparecer...
Parabéns mais uma vez pelo seu texto e habilidade em combinar as palavras !!!
Abraço !
Valeu Vinícius, 1 abç para você!
ExcluirBelo texto HPéx! Claro que não é o de minha preferencia , Mas foi um belo texto,Abraço irmão.
ResponderExcluirPois é mas aqui no blog mesmo só vou postar mais um sobre ateísmo e pronto. Postei dois pq uma pessoa queria ler algo sobre o assunto e já encheu de troll fundamentalista. E sempre com aquela conversinha fiada de "tolerância, respeito, me ofendeu". Vc sabe bem como é a ladainha, né? Mas dá uma procurada no blog que tem uns outros textos mais pessoais.
Excluir1 abç
Eu estava me sentindo da mesma maneira. Mas a necessidade (sim, isso mesmo) me venceu. Como sou formada em História e uma estudante meio-período de Letras e faço uma pós-graduação, tenho livros caríssimos na fila de leitura. A biblioteca da Universidade não dá conta de tanta coisa pra tanta gente. Então a pirataria de livros de humana me salvou em muitos semestres. Eis que com um e-reader eu não vou precisar ler na tela do computador de (desculpe meu francês) "foder" com meus olhos. Ganhei o meu de Natal e estou muito feliz com ele e admito, até agora não li nada para escrever minha monografia no bichinho. Mas meus livros de carne e osso, opa, de papel e corda, continuam na minha estante e continuo comprando livros como se não houvesse .
ResponderExcluirPois é, sei que minha resistência é vã. Serei vencido, mas enquanto não se faz "mister" a compra de um e-reader, vou procrastinando. 1 abç
ExcluirCaramba, que texto bem escrito! Leve e gostoso de ler, com umas sacadas bem legais, principalmente a do final citando a bateria do livro haha antes de tudo: parabéns pela escrita!
ResponderExcluirE depois, eu nunca senti falta de e-reader na minha vida. Sei lá, to feliz com os livros e quero uma estante lotada pra ler e me exibir (true sotry). Eu assisti ao vídeo resenha da Tati sobre o Kobo e gostei muito. Já tinha visto um na Cultura e tal mas nada que me chamasse atenção. Dps do vídeo to me sentindo tentada a comprá-lo...
Rs, obrigado Camila. 1 abç.
ExcluirOi Tati, amei seu texto e sua nova aquisição. Comprei um tablet, recentemente, mas estou super incomodada com a luminosidade, embora ele seja pequeno ele não é tão leve qto o Kindle ou o Kobo. Resumindo: Estou tentada a comprar um Kobo.
ResponderExcluirAbraços !!
Poxa cara, excelente texto. Também sou fã do livro físico, mas confesso que já me rendi ao kindle. A minha primeira experiência foi fantástica. Comprei um kindle paperwhite e o meu primeiro livro foi leite derramado, do Chico Buarque. Em primeiro lugar, a luminosidade do aparelho lhe permite uma leitura bastante confortável, pois imita a folha de papel. Depois, o recurso de acionar um dicionário ao simples toque é maravilhoso, pricipalmente nesse livro, em que o autor faz uso de algumas palavras e expressões em francês. Antigamente, num livro convencional, passaria adiante, fazendo uma interpretação superficial pelo contexto, por conta das expressões em francês. No kindle, é só tocar na tela e utilizar o tradutor, simples e rápido assim. Fiquei encantado. Estou lendo Saramago, "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", da mesma forma eu consulto o dicionário para entender algumas palavras mais rebuscadas do autor, é fantástico. Provavelmente, eu também passaria adiante e conseguiria entender o contexto, mas desse jeito é muito mais interessante.
ResponderExcluirPôxa, mas tu começaste logo com Chico Buarque? Que tiro no pé, rs! Então...dei o Kobo para Tati e ela já quer um Kindle agora (mais um e-reader). Começo a considerar, mas gostaria de ver em minhas mãos o Ipad Mini. Nunca curti Ipad tb e até dei o meu para a Tati, pq sinceramente não usava, mas o Ipad Mini pela leveza e capacidade em fazer várias coisas ao mesmo tempo pode ser uma boa opção, sei lá.
Excluir1abç.