Essa semana furei minhas férias anunciadas
no meu canal no youtube pra postar um vídeo sobre os livros de Charles Dickens
que tinha lido em novembro bem como sua biografia.
Um
dos livros lidos e comentados, o Retratos Londrinos, foi editado em 2003 e está
esgotado na editora há anos. Com sorte, ainda dá pra encontrar exemplares deste
livros em lojas de bairro ou em sebos (quem ficou interessado em ler esse livro
que é uma compilação dos primeiros textos do Dickens publicados em jornais de
Londres, corra pra EstanteVirtual.com.br – ainda tem varios exemplares
disponíveis.). Esse livro está cheio de
descrições de lugares, personagens e cenas quotidianas que transportam o leitor imediatamente para a Londres vitoriana, e, como disse no vídeo: sugiro a
leitura destes textos fortemente a quem tem interesse em escrever suas próprias
estórias ;)
Mas
o que me intriga é o fato de um livro tão bom como este não ter tido sua
reedição em praticamente uma década. Ou mesmo outros livro de Dickens.
Será
que não há mercado para livros como estes?
A
editora Cia das Letras fez uma parceria com a Penguin e vem há alguns anos
reeditando alguns desses clássicos vitorianos. Do Charles Dickens, pelo menos
até agora, eles já publicaram a tradução de Great Expectations (Grandes
Esperanças), numa edição simples, pobre, sem graça e sem ao menos orelhas...
Mas o papel chamois está lá, o que é sempore bom.
Este
é o único livro de Dickens em catálogo e fácil de encontrar hoje em dia.
Mas
percebo, tanto pela minha vontade de ler Dickens como pelos meus amigos ou mesmo
pelo feedback que recebo das pessoas em vídeos em que cito ou mostro os livros
originais do autor, que... existe sim a procura! E essa procura tem levado as
pessoas às bibliotecas municipais e aos sebos tradicionais onde ainda é
possível encontrar edições da década de 60 (ou 70?) danificadas pela ação do
tempo, pelo manuseio, e muitas vezes empoeiradas e esquecidas num canto escuro
e solitário., e... tá, já deu pra entender ;)
O
que é fato é que Dickens, como boa parte de seus contemporâneos vitorianos, não
é fácil de se traduzir.
Uma
peculiaridade da escrita dele são períodos enormes, devidamente pontuados, mas
sem sinal de final à vista. Não dá pra comparar com os períodos enormes sem
pontuação do Saramago, ou os períodos intermináveis do Joyce em seu fluxo de
pensamento frenético. Ele simplesmente pegava fôlego, dizia o que tinha que
dizer em 7, 8, 10 linhas e só então podemos respirar de novo. Isso está no texto
escrito e se reflete também nas leituras de quem gravou seus audiobooks – dá
pra perceber em alguns momentos o desespero do ator por um tiquinho de ar. É claro que seus livros não são escritos
assim do início ao fim, mas existem momentos desses ao longo de todas as obras.
O próprio tradutor Marcello Rollemberg desta minha edição dos Retratos
Londrinos diz em sua introdução que tentou na medida do possível respeitar essa
característica do autor, mas que em alguns momentos teve de ““aportuguesar” os
períodos, posto que não é nem comum nem eufônico em textos em portugues frases
tão longas e sem muito espaço amplo para respiração. “
Notei
que ao criar esses “espaços para respiração” diminuindo os períodos
intermináveis peculiartes ao autor, não houve perda de sentido para o leitor
desatento. E notei isso ao ler alguns textos da edição traduzida enquanto ouvia
ao audiobook do original, Sketches from
Boz.
Imagino
que hoje em dia seja dificil para as editoras encontrarem tradutores de
inglês-português que se atrevam a entrar em empreitadas como a de traduzir
Dickens. O mercado para tradução de obras contemporaneas em inglês é abundante
– e, cá pra nós, é muito mais fácil traduzir um texto contemporaneo do que um
texto vitoriano.
Ainda
bem que o mesmo não acontece com os tradutores de outras línguas...
Enquanto
isso, tenhamos a boa vontade de procurar as obras desse autor incrível em seu
original (dá pra comprar edições de bolso por menos de R$15,00), ou de procurar
por edições antigas em português nos sebos ou nas charmosas e esquecidas
bibliotecas públicas...
Oi, Tati!
ResponderExcluirFico tão feliz de ver você falando de Dickens que fico sorrindo que nem uma boba aqui #ooops. Descobri esse maravilhoso escritor há alguns anos atrás, lendo "A Christmas Carol". Só que a rotina e as leituras mais atuais às vezes "roubam" um pouco do conteúdo clássico que todo leitor deveria ter. Eu já tinha lido uma boa (e mais conhecida) parte da literatura de língua inglesa (Jane Austen, Oscar Wilde, Shakespeare, irmãs Brontë), mas foi em 2012 que realmente me interessei por Dickens. Li tudo que podia sobre ele depois de terminar "A Tale of Two Cities". E falando em "AToTC", muitos leitores do blog que escrevo já reclamaram que não encontram uma tradução decente do livro. ¬¬
Desde então venho fazendo campanha, enchendo o saco deles pra lerem Dickens. Estou lendo "Grandes Esperanças" a versão da companhia das letras/penguim e sim, o trabalho de capa é péssimo. Mas a tradução do Paulo Henriques Britto é impecável. Pelo menos isso...
Apesar de Jane Austen ser mais popular* em seus romances, eu sempre achei que a autora carecia de certo aprofundamento/desenvolvimento de personagem. A sensação que eu tenho com Austen é que é tudo muito estereotipado. As pessoas, as classes sociais, os papéis que desempenham. E foi justamente isso que eu AMEI em Dickens. Ele é capaz de mostrar diferentes nuances de um mesmo caráter, mostrando que ninguém é perfeito, e que às vezes ainda temos qualidades que desconhecemos (como no caso de Sydney Carton).
Enfim, já falei demais. É que me empolgo! rs
Adorei o post e realmente espero que, em virtude da demanda de leitores interessados, as editoras se interessem em criar traduções/versões de maior qualidade. Porque pra ser sincera, toda a indústria da tradução está um pouco frágil ultimamente. Qualquer acha que pode traduzir e o resultado são coisas absolutamente grotescas que já encontrei por aí (especialmente em livros da editora Novo Século #MEDO).
Beijo e continue falando sobre esses autores maravilhosos.
Nina
É tão gostoso ler como escreves.
ResponderExcluirNão vou me arriscar a dizer que você escreve melhor do que fala em vídeos, senão todo mundo me mata. Mas gosto dos seus vídeos também.
Como você falou, depois que vi o vídeo, fiquei com vontade de adquirir o livro e vou procurá-lo em sebos. Até porque amo livros de sebo.
Boas férias pra ti Tati, sentirei sua falta no youtube.
Vai continuar escrevendo por aqui?
Já faz um bom tempo que venho procurando livros do Dickens e fora esses que você citou é possível encontrar em português As aventuras do Sr. Pickwick.
ResponderExcluirFiquei revoltada de não encontrar quase nada principalmente a biografia que você mostrou no vídeo.
Vou arriscar e comprar inglês mesmo, vai demorar para eu conseguir ler, mas a vontade é tanta que já é um começo para superar dificuldades. Afinal, Dickens vale todo e qualquer esforço.
Abraços
Tatiana no vídeo você mostrou o livro Charles Dickens: A Life da Claire Tomalin e procurei e vi que não há edição em português dele, mas procurei na Amazon e encontrei. Tenho vontade de ler livros da Amazon, mas tenho receio de comprar pela questão do frete e da entrega. Eu queria saber se você poderia fazer um vídeo falando da sua experiência em compras da Amazon.
ResponderExcluirMuito Obrigado.
Olá tati!!
ResponderExcluirÉ difícil, essa é a questão só pode...
Estava assistindo ao vídeo Isaac sabe da Luara e ela tb lê em Inglês. Ela disse que ia tentar ler acho que era O Morro dos Ventos Uivantes, mas que não sabia se ia conseguir no original porque textos antigos é mais difícil.
Sei dizer que não leio em inglês mas como posso saber se a tradução tá ruim? Mas eu sei, leio muuuito clássicos são os meus preferidos e quando não tá fazendo sentido sei que é a tradução.
Irrita isso, nós que(vc não vc lê no original) gostamos de ler. já me rendi as leituras jovem adulto, romance meloso por conta de uma ressaca literária. Mas uma vez ou outra o que eu gosto mesmo é de textos com mais conteúdo.
Ah e o que andaram fazendo com os textos de Shakespeare, penso que tantos filmes dele as pessoas já conhecem a estória p/ qUE colocar em linguagem popular acaba com a poesia, crime total.
Tati, tive a maior sorte de ganhar a obra de Homero e de Shakespeare com tradução respeitando o texto original e delirei É A COISA MAIS LINDA DESSE MUNDO!!!
Queria que vc tivesse lido(não sei se leu)em português as peças dele e Homero de alguma tradução respeitosa.
SOU CONTRA REBAIXAR O TEXTO P/ Q OS JOVENS LEIAM.
BOAS LEITURAS!!
Oi Tati!
ResponderExcluirAi, eu sou absurdamente fã do Charles Dickens, por isso gostei tanto do seu vídeo e do seu texto. O meu maior problema é que o meu inglês é péssimo, o que torna quase impossível ler os originais (irrita-me muito quando eu sei que o Dickens está sendo irônico e eu não consigo entendê-lo por causa do meu inglês). E a falta de traduções é simplesmente revoltante! Por isso tenho que depender das traduções antiguíssimas que acho em sebos e bibliotecas.
Mas mesmo essas traduções antigas são difíceis de encontrar. Por exemplo, Nicholas Nickleby é uma raridade, bem como A Velha Loja de Antiguidades (The Old Curiosity Shop). Outros livros são simplesmente inexistente, como Martin Chuzzlewit, Our Mutual Friend e Dombey and Son. O que me salvou é que encontrei um volume de uma edição de “Obras Completas” em espanhol, que é muito mais fácil para mim (infelizmente só achei um volume, que contém Nicholas Nickleby, The Old Curiosity Shop, Hard Times, A Tale of Two Cities e Great Expectations, tudo em espanhol). Estou quase terminando Nicholas Nickleby por essa tradução, e estou achando fantástico. Já consegui ler por bibliotecas as traduções integrais de A Casa Soturna (Bleak House), As Aventuras do Sr. Pickwick, Oliver Twist, Tempos Difíceis (Hard Times) e Um Conto de Duas Cidades, e li uma adaptação de A Pequena Dorrit (Little Dorrit).
Recomendo Dickens para todo mundo (e amo compará-lo com o Machado de Assis, outro escritor favorito). A Tale of Two Cities é o meu livro favorito dele, talvez por ser bem diferente dos demais, mas certamente não é por aí que um iniciante deve começar. Talvez com David Copperfield ou Oliver Twist. Recomendo também as séries da BBC, especialmente Little Dorrit, Great Expectations e Bleak House. São maravilhosas e um grande incentivo para quem não o conhece (e dá para comprá-las em DVD nas livrarias).
Fora Grandes Esperanças da Penguin, realmente não tem muitas edições novas do Dickens. Mandei um e-mail para a Companhia das Letras implorando mais Dickens e eles responderam que “anotaram minha sugestão”. Sei que também há uma edição nova de Um Conto de Duas Cidades, da Editora Estação Liberdade. Já tenho aqui em casa, mas ainda não li, então não sei como está a tradução.
Ah, nunca li Retratos Londrinos, por algum motivo, mas amei a recomendação! Encontrei-o na Saraiva, para quem quiser (eu incluída!).
Bom, é isso. Vou continuar aqui a minha saga procurando os livros antigos em sebos e tentando a todo custo melhorar meu inglês para conseguir ler os originais. Charles Dickens vale a pena! Fico feliz de saber que mais pessoas se interessam por ele e que querem ler seus livros! Continue o bom trabalho, Tati!
Olá, Tatiana.
ResponderExcluirRecentemente conheci seu canal no youtube e imediatamente me identifiquei com seu amor pelos livros e outras cositas más.
No seu vídeo sobre séries você pedia que se alguém soubesse de alguma loja que ainda vendesse os dvds da série "A Sete Palmos" que te avisasse, bem a loja virtual da Saraiva ainda tem toda a série a venda, as 5 temporadas, caso ainda não tenha adquirido, fica aí a dica, eu também adoro essa série.
Outra sugestão é o filme "Nunca te vi, sempre te amei" com Anthony Hopkins, para quem ama os livros como nós é imperdível, é um ode de amor aos livros, o título em português é meio brega, o título original é " 84 Charing Cross Road ",é um filme de 1987, caso ainda não tenha visto, corra atrás, é maravilhoso.
Sei que esse comentário não tem nada a ver com a postagem sobre Dickens mas gostaria muito de te passar essas dicas e fiquei com medo do comentário se perder ou passar despercebido no canal do youtube.
Estou adorando os vídeos e agora estou acessando o blog também, se puder diga o que achou da dica do filme.
Continue com seu trabalho que está maravilhoso.
Tatiana amo seu blog,cada vez que vejo seus videos tenho vontade de correr para a livraria.
ResponderExcluirÈ uma pena a situaçao das editoras brasileiras,muitas vezes é melhor comprar o livro original em inglês.
Enfim,vc me inspirou a começar um blog tb,adoraria se visse,e talvez me desse criticas construtivas.
http://beautysmart2012.wordpress.com/
Olá, Tatiana. tenho boas notícias ara quem gosta de Charles Dickens. Uma editora capixaba, a Editora Pedrazul, comprou a empreitada de traduzir os livros desse extraordinário autor. Vão publicar Little Dorrit original, traduzido para o português, ó óbvio, com as suas 800 páginas ou mais. Essa editora, cujos sócios são jornalistas, vão publicar também as obras de Charlotte Brontë (Villete e Shirley) e vários de Elizabeth Gaskell, inclusive o autobiográfico, Cranford. Parace que o lançamento será em maio ou junho, de 2013. Vale à pena ficar de olho nas notícias. Eu amo os autores ingleses e estou aguardando ansiosa para ler essas obras.
ResponderExcluirOlá. Estou à procura de uma tradução para o português de Bleak House. Você comenta acima que conseguiu ler uma tradução integral. Qual seria e onde conseguiu? Obrigado
ResponderExcluirGuilherme, acho que só existe uma tradução de Bleak House que não é adaptada: A casa soturna (1954), editora Globo, tradução de Oscar Mendes, em 2 volumes. Reeditada em volume único (1986) pela Nova Fronteira.
ExcluirEstá a preço de ouro na Estante Virtual.
Acho que o melhor, especialmente em se falando de Dickens, é lê-lo com calma no original (evitando pockets), em alguma dessas belas edições que a Random House ou a Penguin colocam no mercado. A forma como você vai experienciar a narrativa é menos confortável, claro, mas o prazer será mais verdadeiro.
Olá. Onde você conseguiu achar uma tradução para Bleak House. Você poderia me indicar? Obrigado!
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