Sempre entendi que a “cagação de goma” se traduz em complexo de
inferioridade e não de superioridade. Favor não confundir com arrogância
baseada em conhecimento superior, da qual sou totalmente a favor.
A “tiração de onda” gratuita é ato pernóstico, chato,
“paumolescente”. Quando me deparei com a arrogância estudada, não aquela
oriunda de quem não sabe diferir berimbau de gaita, sempre a usei a meu favor e
me senti impulsionado a ler mais, a rever conceitos e a me colocar em meu
lugar. Sacaram a diferença?
Aqui no Brasil estamos com um péssimo hábito de não lidar
adequadamente com críticas. E ele se torna pior quando criticamos as coisas de
nosso próprio país. Parece que se não babarmos o ovo, não nos furtarmos a dizer
que algo é uma merda, mesmo que seja uma merda, somos automaticamente
transformados em párias. E se a crítica for a algo como MPB, cinema nacional
e afins, fica pior ainda.
Não que de fato ligue para isso. Se ligasse não escreveria esse texto.
Mas que isso ocorre, é indiscutível. Nunca gostei de música ou cinema
brasileiro, com raras exceções. É direito meu achar Nando Reis, Carlinhos
Brown, Ana Carolina, Seu Jorge, Maria Gadú e etecetera e tal, um chute na
canela. Mas vai falar isso para ver o quê acontece...
Faço questão de dizer que fui criado ouvindo Caetano e Gil e como dizia Nelson Rodrigues: “alguém me dê um tiro na boca”. Então, não fui
“influenciado” negativamente em minha infância, pelo contrário. Mas desde
sempre, achei esse pessoal intragável. Achava pretensioso, sonolento, unanimidade
compulsória. Odiava o dedo mindinho do Caetano tocando violão e a verborragia
de Gil. Destestava o fato de que eu não podia genuinamente detestar, sem ser
crucificado.
Quando dizia que achava MPB e um quilo de bosta a mesma coisa, já
era logo taxado de americanizado. Como se eu fosse obrigado, apenas porque
nasci no Brasil, a gostar daqui e da nossa cultura. A questão é meramente de
acaso geográfico. Ora, quando assumi compromisso com a minha “brasilidade”?
Nasci aqui a revelia de minha vontade. Por isso tenho que gostar de axé, pagode e
sertanejo? Tem gente que já vai se apressar em dizer: “ah, mas isso é diferente”.
E eu pergunto: por quê? Se o parâmetro é ser feito aqui, então a comparação é
pertinente.
Quando o Lobão disse que o Frejat depois de velho virou o “Bryan
Adams”, teve uma galera que ficou puta. Mas e não é? Não é isso mesmo?! Eu não
sei porque algumas pessoas aqui no Brasil, que tinham um trabalho consistente,
ficam mais velhos e logo anseiam em ser catapultados ao status de MPB, mudando
a postura, a direção.
Acho ridícula essa ideia que alguns conservam, de achar que o
brasileiro tem uma diferença do resto da humanidade, que se traduz na sua
“ginga”, na sua “malemolência”, na sua “meia lua de compasso”. Pois eu digo:
TEM PORRA NENHUMA! Nem no futebol somos melhores hoje em dia. Que coisa
patética é a de achar que o que é daqui é melhor, ou imune à esculhambação.
O Brasil está repleto de música ruim e de filmes ruins. Filmes
inclusive, que ficam nas salas de cinema por uma semana e são relegados ao
esquecimento, porque o público não vai. E não vai porque o filme é uma droga. Mas
preferem culpar o “mercado americano”, em seus surtos tupiniquins. Ora, e Tropa
de Elite? E Cidade de Deus e mais algumas poucas exceções? Não lotaram os
cinemas? Lotaram! E advinha por quê? Porque eram bons filmes.
É claro que lá fora se faz filme de péssima qualidade, verdadeiro
lixo. Música então, nem se fala. Mas ai de alguém que critique o “Otto”. Quê
isso, pessoal? A gente tem que parar com esse negócio de que tudo “é
subjetivo”. Subjetivo “my balls”! Então
não existe nada ruim? Nada chato? Nada que foi feito apenas para empurrarem
goela abaixo do néscio consumidor desvairado?
E “para não dizer que não falei das flores”, vou citar algo feito
“abroad”. Ih, usei uma palavra em inglês. Será que algum fã da Marisa Monte vai
ficar chateado? Bom, para ninguém dizer que eu sou o filho do Tio Sam com o
capeta, eu vou citar o último alfarrábio modinha. Pois é, e que tal “50 Tons de
Cinza”? Hã? E aí? É bom aquilo? É subjetivo, né? Tá, agora senta lá.
Aquilo é “jenial”. É uma literatura que fará “iscola”, com certeza. Aquela
excrescência é um livro de merda (aliás, quem chamou aquela merda de livro?), que parece que foi escrito por alguém com a
capacidade cognitiva de uma criança de 10 anos, mas com o tesão de um velho
babão e prostático, depois de tomar uma cartela de Viagra. Um soco na boca da
literatura. Me desculpem...ou melhor, não me desculpem não, mas quem gosta
disso, nunca deve ter lido nenhum um livro bem escrito antes, só deve ter tido
contato com livro de colorir. Apenas a falta de parâmetro pode
explicar.
A Tati fez um vídeo excelente e, descontando a minha suspeição, acho que ela pegou até leve. Mas o que apareceu de troll com fome, foi uma
brincadeira. A questão é que eu consigo dizer porque aquele “cocô parrudo” é
tudo menos recomendável, mas será que quem gosta, pode dizer por que é bom? De
forma fundamentada? Duvido. Dizer que se divertiu apenas não vale, tá? Sim,
porque senão eu vou dizer que os filmes do Steven Seagal são bons, porque são
divertidos. É isso?
E será que não dá para fazer o Indiana Jones? Divertido e bom. Divertido
é uma coisa.“Bom”, “excelente”, “genial” é outra. Se é mal escrito, juvenil(mas
direcionado a adultos), de narrativa mal elaborada, não digam que é bom. Você pode
dizer que é entretenimento e até que gostou. Seu total direito. Agora, quando
te disserem que é uma merda, não fique putinho. Tente ouvir o porquê disso. Se
a crítica for pertinente, deixe a pelasacagem de lado e aproveite o
contraditório. É legal para todo mundo.
Eu já mudei de opinião em relação à várias coisas, face ao melhor
argumento. Posso citar por exemplo, o Paulo Coelho. Mentira, continuo achando
uma porcaria. Já que ele faz mágica, poderia ter feito seus livros serem bons,
né? Simples. Não deve ser difícil para quem disse que “faz chover”.
Mas falando sério, a gente tem que parar com essa coisa de nego de “pau
pequeno”, de achar que qualquer crítica à “velha guarda da Portela”,
transforma a pessoa automaticamente em vendido, em “anti-nacionalista”.
É preciso aprender e se estimular a cultura da crítica desposada do
afeto. Mesmo aquela sarcástica, agressiva. Se tiver arrimo, deve ser apoiada.
Entendam que o fato isolado de você gostar, não importa em nada e nem qualifica
a obra. A não ser para VOCÊ, é claro. O que importa é o que você é capaz de
dizer a respeito daquele trabalho, com embasamento, fundamentação e
conhecimento de causa. E isso não vem de graça.
Se você quer falar com propriedade de cinema, leia sobre cinema.
Leia crítica especializada, veja filmes variados, de diversos diretores,
produzidos em diferentes países, inclusive o Brasil. Não ache que quando alguém
diz que 50 tons é fraco e insípido, o faz apenas para irritar a você, que
gostou tanto daquela obra de arte, daquela “Mona Lisa vestida com um
cinturalho”. Leia outros livros, talvez alguns clássicos ou autores de
qualidade indiscutível e, talvez você entenda, porquê descem a lenha naquela
bobagem. By the way, eu disse um tempo atrás que os fãs de Crepúsculo iriam
crescer, né? Que algo estava sendo “tramado”. Ninguém deu atenção. Pois é. Taí
o novo “best-seller”. E olha que o cara nem brilha no sol...
Mas é importante que, nesse processo, se pare com essa coisa
medieval de achar que só porque não gostamos de música popular brasileira, cinema nacional, ou
novela das oito, pagamos pau para os USA. Mas ainda se pagássemos, não veria
problema, desde que justificado. Como disse antes, não devo nada ao Brasil. Não
firmei contrato de exclusividade ou dedicação. Quem gosta, ótimo, seja feliz.
Quem não gosta, ótimo também.
E para mostrar que o que vale é o que é bom, e não o que é
brasileiro, ou americano ou russo, ou japonês, fiquem com um...brasileiro, o
grande Sérgio Porto. Ele também descobriu, faz muito tempo, que nossa
malandragem só engana a nós mesmos.
Vamos
Acabar Com Esta Folga
O negócio aconteceu num café.
Tinha uma porção de sujeitos, sentados nesse
café, tomando umas e outras. Havia brasileiros, portugueses, franceses,
argelinos, alemães, o diabo.
De repente, um alemão forte pra cachorro levantou
e gritou que não via homem pra ele ali dentro. Houve a surpresa inicial,
motivada pela provocação e logo um turco, tão forte como o alemão, levantou-se
de lá e perguntou:
— Isso é comigo?
— Pode ser com você também — respondeu o alemão.
Aí então o turco avançou para o alemão e levou
uma traulitada tão segura que caiu no chão. Vai daí o alemão repetiu que não
havia homem ali dentro pra ele. Queimou-se então um português que era maior
ainda do que o turco. Queimou-se e não conversou. Partiu para cima do alemão e
não teve outra sorte. Levou um murro debaixo dos queixos e caiu sem sentidos.
O alemão limpou as mãos, deu mais um gole no
chope e fez ver aos presentes que o que dizia era certo. Não havia homem para
ele ali naquele café. Levantou-se então um inglês troncudo pra cachorro e
também entrou bem. E depois do inglês foi a vez de um francês, depois de um
norueguês etc. etc. Até que, lá do canto do
café levantou-se um brasileiro magrinho, cheio de picardia para perguntar, como
os outros:
—
Isso é comigo?
O alemão voltou a dizer que podia ser. Então o
brasileiro deu um sorriso cheio de bossa e veio vindo gingando assim pro lado
do alemão. Parou perto, balançou o
corpo e... pimba! O alemão deu-lhe uma
porrada na cabeça com tanta força que quase desmonta o brasileiro.
Como, minha senhora? Qual é o fim da história?
Pois a história termina aí, madame. Termina aí que é pros brasileiros perderem
essa mania de pisar macio e pensar que são mais malandros do que os outros.
Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto)