Words support like bone.

Na noite passada tive um pesadelo daqueles.
Não teve zumbis, apocalipses, ninguém morrendo, nenhuma casa assombrada, nenhum cemitério...
só uma imagem do mar num fim de tarde nublada, o cheiro de água salgada, eu descalça parada na beira da praia, a água molhando a barra do vestido, o vento no rosto, observando, esperando a tempestade chegar...
e um som etéreo como trilha sonora.
e a sensação de que eu já estive ali antes, parada, olhando pr´aquela mesma paisagem.

e o sonho se arrastou por um tempo, primeiro porque, né, era um sonho, e, depois, quando me percebi no sonho, tentei controlá-lo - olhar pros lados pra ver se alguém aparecia (ninguém), caminhar na areia e tentar entender onde estava (Itanhaém, será? onde a família passava as férias na mninha infância?... ), procurar um lugar pra sentar...

o despertador tocou e fiquei sem entender nada, e ok, hora de ir pro batente.
mas a sensação do sonho continua comigo e já faz um bom tempo.

ônibus lotado - ainda não desenvolvi a técnica de ficar em pé, apertada feio sardinha em lata, segurando uma bolsa de um lado e uma sacola de livros do outro E um livro pra ler. Quando isso acontece, a melhor coisa é colocar o fone de ouvido e clicar no "shuffle".

entre Phoenix, U2, Barry Manilow (é, eu sei,rs...) e Kate Bush, eis que surge Mercy Street do Peter Gabriel.

e entendi tudo.

o sonho que eu tive foi uma mistura de imagens aleatórias (e outras forçadas) combinadas com cenas do videoclipe dessa música.
e o som etéreo que ouvi durante todo o sonho, nada mais era do que a abertura da música.

Coincidência?

Eu gosto de mensagens subliminares. Sempre acho que "tem alguma coisa aí".

Essa música é uma das minhas preferidas da vida toda.
Fez parte da minha infância (daí lembrar de Itanhaém, e etc...).
A letra é baseada num poema da Anne Sexton (45 Mercy Street) sobre procurar algo que não se sabe o que é.
e o trecho mais bonito da letra (que é toda incrivelmente linda) é:

"There, in the midst of it, so alive and alone
Words support like bone"


E, bom, é verdade. Palavras dão suporte, como ossos.

seja o seu ponto de vista que quando bem elaborado em palavras pode ganhar discussões, ou a solidão compensada por um bom livro, ou ainda sua escrita que pode torná-lo/a mais forte... enfim, words support like bone.

e se não fosse a sensação vívida do sonho ainda estar aqui ao meu redor, talvez eu até pudesse elaborar mais esse texto, mas...
vou deixar pra depois.

Entro em aula em 10 minutos.
E mais uma vez, words will support me like bone.

“Eu quero Tchu, eu quero Tcha!” (por Hpcharles)


Certamente meu problema é com a humanidade. É claro que existe um coeficiente de misantropia aí, não nego. Mas tá cada dia mais difícil fazer o básico. E o problema está na educação, ou melhor, na falta dela. Quando se insere uma pitada de burrice então, pronto...o caldo desanda.

Sábado passado fui ver com a namorada, a pré-estreia de Prometheus. Sabedor que as sessões desse tipo são concorridas, tomamos o cuidado de comprar os ingressos antes, pela internet.

Nem isso foi lá muito fácil. O site do ingresso.com estava “cambeta” e tivemos que dar cambalhotas para fazer o que deveria ser remansoso por princípio. Mas vá lá, um filme tão esperado, de um diretor que nos deu Blade Runner e Alien o Oitavo Passageiro, vale o obstáculo.

Chegamos mais de meia-hora antes para uma sessão programada para as 21:50. Com lugares marcados, descansamos. Bom, mais ou menos. Cometi um um erro crasso. Fiquei com vontade de ceder ao único vício que restou nesse ser e tomar uma Coca Light (ou Zero sei lá, as duas matam, não importa).

Agora me digam: o homem foi à Lua, não foi? Cura cancêres ou pelo menos alguns deles, não? Compreende complexos mecanismos físicos e soluciona engendradas equações matemáticas, né? ENTÃO PORQUE NÃO RESOLVEM O PROBLEMA DA PORRA DA BOMBONIERE NOS CINEMAS!?!?!?!

Gente, faz pelo menos 30 anos que convivo com essa pergunta. A menos que você vá a uma sessão às 10 da manhã para ver um filme iraniano, tem fila e uma demora dos infernos para comprar um Mentos que seja.

Bom, a sessão estava marcada para 21:50 né? Pois bem, às 22:00 a fila dava voltas e nada de abrir a roleta. 
Será que a Charlize Theron estava despenteada e pediu um tempinho para fazer uma chapinha? Pode ser...

Entramos e parecia a abertura de algum filme do Animal Planet. Aquela confusão, vez que entrou todo mundo junto e não de forma homeopática como deveria acontecer se a sala tivesse sido liberada mais cedo. Foi gente pulando cadeira, correndo e falando como se estivesse no Maracanã.

Mas vamos deixar de ser chato né HP? O filme ainda não começou, deixa os polidos membros da família real britânica se soltarem. Você não sabia que depois que o filme começar tudo se resolve? Foi assim que ensinaram nas aulas de etiqueta da SOCILA, não é verdade?

Não, não é verdade. No Brasil o pessoal sempre cagou e andou para o horário no cinema. As pessoas chegam e entram na hora em que querem. Se esquecem de que cinema merece o mesmo respeito que o teatro, por exemplo. Filme começado e toca de neguinho andando para cima e para baixo. Mas não para por aí, pois agora é a hora.........DA JANTA!!!!!

Queria saber quem foi o filho da puta que disse que quando se vai ao cinema tem que se comer pipoca. Tá legal, nunca gostei de pipoca mesmo, acho o cheiro melhor do que o gosto, mas precisa comer como um visigodo? Fazendo barulho com a boca? Amassando o saquinho? OLHA LÁ GENTE, O MICHEL FASSBENDER FOI DECAPITADO! O quê? Não viu? Pôxa, quem mandou ficar roendo o ossinho do “frango à passarinho” que você trouxe? Ahhh não é frango, é Cheetos? Agora sim Champs, o alimento dos campeões! Nutritivo e silencioso para comer. Congrats motherfucker!

Mas passado o festim, você pensa que agora vai poder ver a película né? Dá aquela ajeitada na poltrona e se concentra no que interessa. Mas não! Qualquer um poderia ficar desanimado, sem vontade de cantar uma bela canção. Mas não esse homem! Não Joseph Klimber! Agora vem a parte boa! Vem a parte onde as pessoas explicam para quem está ao lado, qual é o enredo do filme.

Sim, porque elas vieram com o Stevie Wonder. O miguxo ao lado não enxerga, coitado. Só pode! O cegueta precisa de tradução para tudo! Saca essa que eu ouvi (e a Tati estava lá e não me deixa mentir): “Fulano, eles estão no futuro!!!!”

REEEEEEAAAAAAALLLLYYYYY?!?!?!?! Me desculpem, mas como dizia a Marquesa de Santos ligeiramente ruborizada: PUTA QUE PARIU TRÊS VEZES!!!!!

Porra, como eu não tinha percebido esse pequeno detalhe?!?! Só porque é escrito o ano em que se passa a trama no início do filme e os caras viajam em naves espaciais para outros planetas?!?!?!? Ah, quê isso?! Não é todo mundo que teria a astúcia de compreender que a bagassa se passa em 2089 e lá vai fumaça! Valeu Stephen Hawking, tu és foda!

Ou então em uma cena onde um personagem em forma de holograma é apresentado e se senta exatamente aonde um protagonista está sentado, enviando assim, uma breve explicação ao espectador, sobre o que havia acontecido no passado: “Mas Cicrano, o cara não está vendo o outro sentar em seu colo?” Uhhmm...deixa eu pensar. É, um holograma deve ser muito pesado e deve incomodar demais. Brilhante né? Agora volta para APAE que já estão sentindo a sua falta lá.

E isso durou uma boa parte do filme. Juro, depois de mais umas duas pérolas lançadas em meu ouvido oriundas da fileira de trás, comecei a pensar em uma maneira medieval de matar a todos e depois me suicidar. Mas depois de um tempo acho que desistiram de entender a parada e se concentraram no “amendoim torradinho” – CROC, CROC, CROC! Fizeram bem, para quem é está ótimo.

Sempre digo que o cerne do problema está na educação. Outro dia me fizeram cara feia porque dei meu lugar a uma senhora de idade no Metrô, como se tivesse aviltado alguém só por ser gentil.

Faz algum tempo que me atirei na compra de uma TV gigante, em um bom home theater e invisto em Blu-rays. Sou um felizardo que tive condições de fazer isso e, por consequência, hoje posso aproveitar um filme da maneira como se deve. Sem interrupções, sem onomatopeias asnáticas.

Por favor, não me entendam mal. A experiência de ir ao cinema jamais será substituída plenamente. A estrutura da sala, a conversa informal após o filme, o chopinho para fechar a noite, não se reproduzem, mesmo em uma Led de 52.

Mas a falta de educação combinada com a ausência de segurança pública em minha cidade, bem como a melhora da tecnologia e a facilidade de acesso a mídia de qualidade, tem me seduzido, confesso. No entanto, o fator precípuo, pelo menos para mim, para diminuir minhas idas aos cinemas, é ter sido ceifado em meu direito fundamental de desfrutar do espetáculo pelo qual paguei. Pela indelicadeza de algumas pessoas, pela falta de requinte, pelo desapreço aos atores, ao diretor e pelo desprezo à arte.

Ora, porque não assistem o filme no conforto de seus lares. Lá podem comer até feijoada e discutirem o resultado do jogo enquanto os diálogos são perpetuados. Mas não, o legal é ir ao cinema. Só tem um problema: cinema é para ver o filme. A película é a atração. O resto deve se submeter a ela. É bem simples.

“Mas Beltrano, os caras não tinham morrido?”

“Não, eles estavam em hibernação”.

“Que hibernação, sua toupeira? Você não sabia que só quem hiberna são os ursos?”

“Ah tá...me passa o Cheetos então...”


    Hpcharles.



Ele voltou!


Numa edição bem mais legal que a minha.

E já avisei, essa tradução dá um banho na da Bernardina Silveira e na do Caetano Galindo.

;)

<< >>