Me lembro bem da primeira vez em que fui comer comida japonesa. Um
misto de curiosidade e apreensão residia em minha cabeça. Acho que é consenso
que, para o ocidental, não é usual comer peixe cru. Não foi educado assim.
Ainda mais no Brasil. Hoje em dia todo mundo come e posso dizer, sem medo de
errar, que é minha comida preferida.
De qualquer maneira, o sabor e o “ritual” são sui generes. Existe um certo procedimento, uma certa ordem, que
diferem do habitual. Guardanapo cozido e comida crua é estranho para nós
tupiniquins. Mas, ainda assim, quis muito experimentar e pasmem...é minha
primeira opção. Sempre!
Admito que são raros os casos que conheço em que pessoas gostam de
primeira. Comigo mesmo não foi assim. Mas lá pela terceira ou quarta vez, já
estava viciado. Freud dizia com propriedade que, o ser humano depois que
desfruta de um prazer, jamais abdicará dele. Pode até não praticar a conduta,
mas o desejo ficará ali, adormecido.
Imagine se fizesse biquinho e me negasse a ir até o bendito
restaurante apenas porque achava estranho ou não sabia muito a respeito. Quanta
diversão, quantos sabores teria perdido.
Acho que no sexo muita gente faz isso. Pelo mesmo motivo e mais
alguns. Medo, desconhecimento, preconceito, religião e até preguiça. Isso é
triste pra cacete. Vejo relações se esfacelando, escuto depoimentos lamentáveis
de amigos, deslealdades imperdoáveis entre jovens casais por conta de se locupletarem,
de se boicotarem em seus próprios ninhos. O festejado psicanalista José Ângelo Gaiarsa nos ensina de forma brilhante que o problema é que hoje em dia, entre a certeza do sofrer e a incerteza do prazer, optamos em ficar com o sofrimento, consignando a estúpida escolha do tipo, "tá uma merda, mas é uma merda segura".
Cheguei à conclusão de que boa parte das relações que terminam por
causa de sexo, não ocorrem pelo sexo praticado, mas sim pelo sexo que NÃO foi
perpetuado. Pelo desejo contido, pela intimidade não comungada, pelo prazer
bobamente furtado.
Tenho a felicidade de ter amigos e amigas (um dia farei um texto
sobre amizade entre homens e mulheres, é promessa) e as reclamações são sempre
as mesmas. Recorrentes, passivas, de dedo de seta. A culpa normalmente é do outro.
Será mesmo?
Talvez por ter sido criado com uma certa liberdade intelectual, não
tenha tido problemas relevantes nessa seara, mas pelo que escuto, pareço ser
exceção. Os relatos são de dar dó. Mulheres mal amadas, homens precoces.
Frigidez e “paumolescência” a três por quatro. Lembro sempre de Nelson Rodrigues, que em seu irônico conservadorismo afirmava que “a mulher ideal deve ser dama na mesa e puta na cama”. Por que não, né? Será que
ele já vislumbrava a insuficiência sexual hodierna, tratada por moleques de
dezoito anos na base do Viagra? Que peso carregam...
Escuto de homens, críticas contumazes sobre o desempenho de suas
mulheres por exemplo, no quesito sexo oral. Mas quando pergunto se o problema é
discutido abertamente, sem mi-mi-mi, a resposta é de que não se sentem à
vontade, ou então pior, de que não falam sobre isso com a “esposa, noiva ou
namorada”, as catapultando imediatamente para um trono de submissão, ao qual sequer foram consultadas.
Mas porra! Na moral! E você acha que o pênis vem com instruções? Se
você não explica, não mostra o caminho, quer que ela adivinhe? Já sei, é melhor
procurar uma profissional ou outra mulher para resolver “suas necessidades”. Tá
e quem disse que sua parceira quer ficar no pedestal? O “bagulho” não vem com mapa
não, filhão! Tem ensinar meeeesmo! Qual é o problema? Não se amam e tal? Então
fala, cacete! São namorados mas não são amigos? Que loucura é essa?
Aliás, faço um parênteses aqui, porque penso ser pertinente ressaltar
que, recomendo fortemente que duvidem muito desses “paladinos da moralidade e
dos bons costumes”. Novamente me aproprio de Nelson quando vocifera: “não
existem moralistas, apenas falsos moralistas”. Desconfie desse pessoal que diz “a minha
mulher não”, “a minha filha não”, “isso é coisa de vagabunda”. Por trás desse
pensamento pequenos burgês, bunda suja, anos dourados wannabe, pode apostar que tem alguém passando a mão na bunda da
Lurdinha.
Com as mulheres é a mesma ladainha: “ah, mas eu quero carinho, não é
só penetração!” Ótimo, concordo plenamente! As mulheres ainda falam e tudo,
mas o que enche o saco, pelo que ouço, é que levam duas horas discutindo o
assunto. Chega logo para o “neandertalzinho” e diz: “queridão, isso aqui não é
brinquedo não! Tem dona, ok? Não entra a hora em que quer, a catraca é
seletiva!”. Seja direta, homem não curte DR. A mulher deve também, sem fazer
disso uma guerra, explicar direitinho, porque de fato, por vezes, esquecemos
que o afeto e a intimidade são fundamentais na relação. Mas não escolha o
momento do jogo do Flamengo ou entre na frente da televisão na hora do
videogame, senão é “pedala” na certa.
Mas a verdade é que ouço coisas terríveis do tipo: “ah cara, ela diz
que tem nojo de sexo oral”! Porra, tem “nojo” de sexo oral? Tá e você está com
ela porque mesmo?! É cartão vermelho na criança! Nojo é foda! Acho
intransponível. Talvez ela se dê melhor com compras no shopping ou esteja na
hora de tentar uma abordagem diferente, do tipo, homossexual, por exemplo. Vai
que ela funciona melhor com algo que não seja fálico. Mas tem que RESOLVER A
QUESTÃO, ao invés de enrolar durante meses ou anos, para depois dizer que
estava insatisfeito.
Fato é que, quem está com você por vezes não percebe, mas é preciso
discutir sexo com liberdade. Já ouvi gente que diz que ele (o sexo) não é
importante e gente que acha fundamental. Penso que, pragmaticamente, podemos
aduzir que, sexo só passa a ser importante quando ele está ruim ou péssimo,
pois quando é bom, você mal lembra dele, a não ser é claro, pela vontade de
fazê-lo. O que é ótimo!
Mas o que vale mesmo é que se converse sem protocolos sobre a
questão. VERBALIZE! Nunca vi pudor melhorar a vida sexual de ninguém. Não
conheço casos em que repressão gerou orgasmos mais intensos. Digam o que curtem,
descubram seus limites, ultrapassem-nos. O sexo deve respeitar apenas a duas
regras: ser adulto e consentido.
O resto é de cada um e varia em função de mil motivos.
O que me deixa realmente puto é ver gente legal, jovem e bonita,
desperdiçando amores, sendo canalha e fazendo desserviços ao outro e a si
mesmo, porque não consegue falar. Não sabe se expressar. Gente que sofreu tanto
com uma relação que nem parâmetro tem, e, passa indevidamente, a odiar o sexo
em si, porque ele o remete ao sofrimento e não ao prazer. Maldita lavagem
cerebral judaica cristã! Gente com receio de desenvolver e investir em relações
duradouras porque tem medo da intimidade, quando é justamente a intimidade que
separa o joio do trigo.
E por favor, não me entendam mal. Não estou aqui afirmando que tem que
dormir de conchinha para ser bom. Acho que sexo com amor é melhor, mas esse
papo de que sexo sem amor é ruim, é coisa de quem tá fazendo mal feito. Coisa
de nego “borracha fraca” e menina “pepeca seca”.
Já repararam que tem gente que sequer consegue falar? Não pode dizer
“buceta”, tem que ser “pixita”. Não pode dizer “me fode”, tem que ser “fazer
amor”. Quê isso caramba?! Dá para ser mais ridículo?! O sexo é o momento de
deixar o inconsciente aparecer, de fantasiar mesmo, de soltar o freio de mão! De
ser feliz.
Já ouvi em pleno sexo 21, sandices do tipo: “A Bíblia não deixa”.
Fuuuuucccckkkk!!!! Da vontade de gritar: “MORRE ENTÃO EXU SETE CORDAS!!!!!”
Novamente: não venha dizer depois que foi boi, que agora tem que comprar um
carro com teto solar e tal. Que foi trocado ou trocada. Dizer que o outro não
presta, que te traiu. Por favor né? Vamos assumir a responsabilidade.
“Ah mas eu estou cansada”. Ouviu isso, diga de bate pronto: “posso
fazer alguma coisa para você relaxar?” That`s the spirit! Quem disse que tem
que fazer o Kama Sutra? Aonde está escrito que precisa ser ginasta romena? Uma
punheta tá valendo. Uma chupadinha tá de bom tamanho. E acreditem...faz toda a
diferença.
Se você acha que está tudo bem, tá maravilha, ótimo, mas toda
relação progride, tem altos e baixos e é preciso que se entenda que o sexo
também sofre com isso, que precisa ser renovado. E se engana redondamente quem
acha que o sexo se renova na cama. Ele se renova na conversa, assim como a
relação em si. O sexo dura alguma horas, uma noite talvez, mas a relação,
quando há, ocupa o resto do dia. Ou você garanhão, acredita que comeu a mulher
no motel? Não irmão, você praticou o ato no motel, mas comeu a mulher de
verdade, foi no jantar. É isso mesmo! Foi na conversa, no ouvido.
Problemas sempre aparecerão, não resta a menor dúvida. É conta para
pagar, é chefe filho da puta, é o cotidiano te dando tapa na cara. Apesar
disso, ainda não inventaram nada melhor do que uma boa foda. Viu gente? Disse
foda e ninguém morreu! A polícia não veio me buscar, Jesus não gritou lá de
cima que está putinho.
Por obséquio, quem ficou horrorizado com o texto, foda-se!
Literalmente: FODA-SE! Sacou o conselho? Tudo a ver não?! Pois é, mas tem um
pessoal tão reprimido que, mesmo nos dias de hoje, nem masturbação pratica. Coisa, diga-se de passagem, que lá no tempo de Noé, já se fazia. Aliás, se tem um
personagem que presta em todo o Velho Testamento, é Onã, que segundo o “Bom
Livro”, "desperdiçou
o seu esperma na terra". Ou seja, “tocou uma”, “fez o
palhaço chorar”, “acariciou o golfinho”, “espancou o careca”.
Mas agora é sério. Não se fechem em seus conceitos. Escutem seus
companheiros, tomem a iniciativa, perguntem se está bom. Não dói e é mais
barato do que um advogado, trust me on this. Trabalhei durante mais de uma
década com direito de família e posso dizer com segurança que, 90% das
separações se dão por dinheiro ou...”surprise, surprise”, sexo!
Então para quem acha que pode ou deve melhorar em alguma coisa nessa
tão polêmica questão, tente fazer diferente. Escolha um dia e quando chegar em
casa, faça algo inesperado e voluntário para seu namorado. Até o ridículo vale.
Qualquer coisa é melhor do que a mesmice. Mas faça o que fizer, faça com entrega,
com dedicação, “pegue de jeito”. Trate ou faça de sua namorada, seu marido ou
sua noiva, o seu melhor amigo(a) nesse caminho chamado “juntos”. Uma coisa não deve excluir a outra, isso é bobagem.
Se não for o momento e a coisa não estiver legal, não empurre para
baixo do tapete, bote as cartas na mesa. Eu sei que é difícil demais, mas é
melhor resolver do que não resolver. Lixo tem que ser posto para fora. Senão
fede.
No entanto, se estiver tudo bem, saiba que pode melhorar. Sempre
pode. Se ela está acostumada com jeito, faça com força. Se ela sempre gostou
com força, faça com jeito. Quer saber?! Joga “pras cabeças” e dá uma com força
e uma com jeito. Depois dorme de conchinha e não esquece de passar aqui para me
agradecer, tá?
Hpcharles