Sexo e Sashimi (por Hpcharles)



Me lembro bem da primeira vez em que fui comer comida japonesa. Um misto de curiosidade e apreensão residia em minha cabeça. Acho que é consenso que, para o ocidental, não é usual comer peixe cru. Não foi educado assim. Ainda mais no Brasil. Hoje em dia todo mundo come e posso dizer, sem medo de errar, que é minha comida preferida.

De qualquer maneira, o sabor e o “ritual” são sui generes. Existe um certo procedimento, uma certa ordem, que diferem do habitual. Guardanapo cozido e comida crua é estranho para nós tupiniquins. Mas, ainda assim, quis muito experimentar e pasmem...é minha primeira opção. Sempre!

Admito que são raros os casos que conheço em que pessoas gostam de primeira. Comigo mesmo não foi assim. Mas lá pela terceira ou quarta vez, já estava viciado. Freud dizia com propriedade que, o ser humano depois que desfruta de um prazer, jamais abdicará dele. Pode até não praticar a conduta, mas o desejo ficará ali, adormecido.

Imagine se fizesse biquinho e me negasse a ir até o bendito restaurante apenas porque achava estranho ou não sabia muito a respeito. Quanta diversão, quantos sabores teria perdido.

Acho que no sexo muita gente faz isso. Pelo mesmo motivo e mais alguns. Medo, desconhecimento, preconceito, religião e até preguiça. Isso é triste pra cacete. Vejo relações se esfacelando, escuto depoimentos lamentáveis de amigos, deslealdades imperdoáveis entre jovens casais por conta de se locupletarem, de se boicotarem em seus próprios ninhos. O festejado psicanalista José Ângelo Gaiarsa nos ensina de forma brilhante que o problema é que hoje em dia, entre a certeza do sofrer e a incerteza do prazer, optamos em ficar com o sofrimento, consignando a estúpida escolha do tipo, "tá uma merda, mas é uma merda segura".

Cheguei à conclusão de que boa parte das relações que terminam por causa de sexo, não ocorrem pelo sexo praticado, mas sim pelo sexo que NÃO foi perpetuado. Pelo desejo contido, pela intimidade não comungada, pelo prazer bobamente furtado.

Tenho a felicidade de ter amigos e amigas (um dia farei um texto sobre amizade entre homens e mulheres, é promessa) e as reclamações são sempre as mesmas. Recorrentes, passivas, de dedo de seta. A culpa normalmente é do outro. Será mesmo?

Talvez por ter sido criado com uma certa liberdade intelectual, não tenha tido problemas relevantes nessa seara, mas pelo que escuto, pareço ser exceção. Os relatos são de dar dó. Mulheres mal amadas, homens precoces. Frigidez e “paumolescência” a três por quatro. Lembro sempre de Nelson Rodrigues, que em seu irônico conservadorismo afirmava que “a mulher ideal deve ser dama na mesa e puta na cama”. Por que não, né? Será que ele já vislumbrava a insuficiência sexual hodierna, tratada por moleques de dezoito anos na base do Viagra? Que peso carregam...

Escuto de homens, críticas contumazes sobre o desempenho de suas mulheres por exemplo, no quesito sexo oral. Mas quando pergunto se o problema é discutido abertamente, sem mi-mi-mi, a resposta é de que não se sentem à vontade, ou então pior, de que não falam sobre isso com a “esposa, noiva ou namorada”, as catapultando imediatamente para um trono de submissão, ao qual sequer foram consultadas.

Mas porra! Na moral! E você acha que o pênis vem com instruções? Se você não explica, não mostra o caminho, quer que ela adivinhe? Já sei, é melhor procurar uma profissional ou outra mulher para resolver “suas necessidades”. Tá e quem disse que sua parceira quer ficar no pedestal? O “bagulho” não vem com mapa não, filhão! Tem ensinar meeeesmo! Qual é o problema? Não se amam e tal? Então fala, cacete! São namorados mas não são amigos? Que loucura é essa?

Aliás, faço um parênteses aqui, porque penso ser pertinente ressaltar que, recomendo fortemente que duvidem muito desses “paladinos da moralidade e dos bons costumes”. Novamente me aproprio de Nelson quando vocifera: “não existem moralistas, apenas falsos moralistas”.  Desconfie desse pessoal que diz “a minha mulher não”, “a minha filha não”, “isso é coisa de vagabunda”. Por trás desse pensamento pequenos burgês, bunda suja, anos dourados wannabe, pode apostar que tem alguém passando a mão na bunda da Lurdinha.

Com as mulheres é a mesma ladainha: “ah, mas eu quero carinho, não é só penetração!” Ótimo, concordo plenamente! As mulheres ainda falam e tudo, mas o que enche o saco, pelo que ouço, é que levam duas horas discutindo o assunto. Chega logo para o “neandertalzinho” e diz: “queridão, isso aqui não é brinquedo não! Tem dona, ok? Não entra a hora em que quer, a catraca é seletiva!”. Seja direta, homem não curte DR. A mulher deve também, sem fazer disso uma guerra, explicar direitinho, porque de fato, por vezes, esquecemos que o afeto e a intimidade são fundamentais na relação. Mas não escolha o momento do jogo do Flamengo ou entre na frente da televisão na hora do videogame, senão é “pedala” na certa.

Mas a verdade é que ouço coisas terríveis do tipo: “ah cara, ela diz que tem nojo de sexo oral”! Porra, tem “nojo” de sexo oral? Tá e você está com ela porque mesmo?! É cartão vermelho na criança! Nojo é foda! Acho intransponível. Talvez ela se dê melhor com compras no shopping ou esteja na hora de tentar uma abordagem diferente, do tipo, homossexual, por exemplo. Vai que ela funciona melhor com algo que não seja fálico. Mas tem que RESOLVER A QUESTÃO, ao invés de enrolar durante meses ou anos, para depois dizer que estava insatisfeito.

Fato é que, quem está com você por vezes não percebe, mas é preciso discutir sexo com liberdade. Já ouvi gente que diz que ele (o sexo) não é importante e gente que acha fundamental. Penso que, pragmaticamente, podemos aduzir que, sexo só passa a ser importante quando ele está ruim ou péssimo, pois quando é bom, você mal lembra dele, a não ser é claro, pela vontade de fazê-lo. O que é ótimo!

Mas o que vale mesmo é que se converse sem protocolos sobre a questão. VERBALIZE! Nunca vi pudor melhorar a vida sexual de ninguém. Não conheço casos em que repressão gerou orgasmos mais intensos. Digam o que curtem, descubram seus limites, ultrapassem-nos. O sexo deve respeitar apenas a duas regras: ser adulto e consentido. O resto é de cada um e varia em função de mil motivos.

O que me deixa realmente puto é ver gente legal, jovem e bonita, desperdiçando amores, sendo canalha e fazendo desserviços ao outro e a si mesmo, porque não consegue falar. Não sabe se expressar. Gente que sofreu tanto com uma relação que nem parâmetro tem, e, passa indevidamente, a odiar o sexo em si, porque ele o remete ao sofrimento e não ao prazer. Maldita lavagem cerebral judaica cristã! Gente com receio de desenvolver e investir em relações duradouras porque tem medo da intimidade, quando é justamente a intimidade que separa o joio do trigo.

E por favor, não me entendam mal. Não estou aqui afirmando que tem que dormir de conchinha para ser bom. Acho que sexo com amor é melhor, mas esse papo de que sexo sem amor é ruim, é coisa de quem tá fazendo mal feito. Coisa de nego “borracha fraca” e menina “pepeca seca”.

Já repararam que tem gente que sequer consegue falar? Não pode dizer “buceta”, tem que ser “pixita”. Não pode dizer “me fode”, tem que ser “fazer amor”. Quê isso caramba?! Dá para ser mais ridículo?! O sexo é o momento de deixar o inconsciente aparecer, de fantasiar mesmo, de soltar o freio de mão! De ser feliz.

Já ouvi em pleno sexo 21, sandices do tipo: “A Bíblia não deixa”. Fuuuuucccckkkk!!!! Da vontade de gritar: “MORRE ENTÃO EXU SETE CORDAS!!!!!” Novamente: não venha dizer depois que foi boi, que agora tem que comprar um carro com teto solar e tal. Que foi trocado ou trocada. Dizer que o outro não presta, que te traiu. Por favor né? Vamos assumir a responsabilidade.

“Ah mas eu estou cansada”. Ouviu isso, diga de bate pronto: “posso fazer alguma coisa para você relaxar?” That`s the spirit! Quem disse que tem que fazer o Kama Sutra? Aonde está escrito que precisa ser ginasta romena? Uma punheta tá valendo. Uma chupadinha tá de bom tamanho. E acreditem...faz toda a diferença.

Se você acha que está tudo bem, tá maravilha, ótimo, mas toda relação progride, tem altos e baixos e é preciso que se entenda que o sexo também sofre com isso, que precisa ser renovado. E se engana redondamente quem acha que o sexo se renova na cama. Ele se renova na conversa, assim como a relação em si. O sexo dura alguma horas, uma noite talvez, mas a relação, quando há, ocupa o resto do dia. Ou você garanhão, acredita que comeu a mulher no motel? Não irmão, você praticou o ato no motel, mas comeu a mulher de verdade, foi no jantar. É isso mesmo! Foi na conversa, no ouvido.

Problemas sempre aparecerão, não resta a menor dúvida. É conta para pagar, é chefe filho da puta, é o cotidiano te dando tapa na cara. Apesar disso, ainda não inventaram nada melhor do que uma boa foda. Viu gente? Disse foda e ninguém morreu! A polícia não veio me buscar, Jesus não gritou lá de cima que está putinho.

Por obséquio, quem ficou horrorizado com o texto, foda-se! Literalmente: FODA-SE! Sacou o conselho? Tudo a ver não?! Pois é, mas tem um pessoal tão reprimido que, mesmo nos dias de hoje, nem masturbação pratica. Coisa, diga-se de passagem, que lá no tempo de Noé, já se fazia. Aliás, se tem um personagem que presta em todo o Velho Testamento, é Onã, que segundo o “Bom Livro”, "desperdiçou o seu esperma na terra". Ou seja, “tocou uma”, “fez o palhaço chorar”, “acariciou o golfinho”, “espancou o careca”.

Mas agora é sério. Não se fechem em seus conceitos. Escutem seus companheiros, tomem a iniciativa, perguntem se está bom. Não dói e é mais barato do que um advogado, trust me on this. Trabalhei durante mais de uma década com direito de família e posso dizer com segurança que, 90% das separações se dão por dinheiro ou...”surprise, surprise”, sexo!

Então para quem acha que pode ou deve melhorar em alguma coisa nessa tão polêmica questão, tente fazer diferente. Escolha um dia e quando chegar em casa, faça algo inesperado e voluntário para seu namorado. Até o ridículo vale. Qualquer coisa é melhor do que a mesmice. Mas faça o que fizer, faça com entrega, com dedicação, “pegue de jeito”. Trate ou faça de sua namorada, seu marido ou sua noiva, o seu melhor amigo(a) nesse caminho chamado “juntos”. Uma coisa não deve excluir a outra, isso é bobagem.

Se não for o momento e a coisa não estiver legal, não empurre para baixo do tapete, bote as cartas na mesa. Eu sei que é difícil demais, mas é melhor resolver do que não resolver. Lixo tem que ser posto para fora. Senão fede.

No entanto, se estiver tudo bem, saiba que pode melhorar. Sempre pode. Se ela está acostumada com jeito, faça com força. Se ela sempre gostou com força, faça com jeito. Quer saber?! Joga “pras cabeças” e dá uma com força e uma com jeito. Depois dorme de conchinha e não esquece de passar aqui para me agradecer, tá?

       Hpcharles

Ficção Científica Britânica

Em uma das escolas em que trabalho, essa semana tivemos uma exposição sobre Ficção Científica Britânica - surpreendentemente interessante.


O Sci-Fi  britânico teve início com Mary Shelly  - um escândalo nacional na Inglaterra de 1816 por ter, aos18 anos, um filho com o amante, o poeta Percy Shelley que além de famoso era casado.Os dois fugiram de Londres para a Suíça, onde Mary criou sua estória sobre o doutor que junta partes de cadáveres para criar o Moderno Prometeu (que dá o título menos conhecido da obra Frankenstein. Esta obra marca então o início da Ficção Científica.


A exposição trouxe, além de Mary Shelley, quadros específicos contando um pouco sobre os principais autores de Sci-fi britânicos:












Além disso, a expo trouxe também uma linha do tempo contando a história e o desenvolvimento da Ficção científica desde a Utopia de Thomas More, escrita escrito em 1516 (a partir de um relado de Américo Vespúcio sobre a ilha de Fernando de Noronha, veja bem) até os dias de hoje:



























;)

O que cabe em uma valise? (por Hpcharles)



Sabemos que as valises normalmente são pequenas bolsas, maletas ou carteiras, onde se costumam carregar objetos que precisam estar sempre ao alcance de nossas mãos. Nela carregamos via de regra, o que nos é mais importante para o dia a dia, ou o que é utilizado de forma mais comezinha.

Cada um tem suas manias e necessidades. Talvez não haja uma pessoa igual a outra no mundo, mas isso certamente se acentuaria ainda mais no que cada um considera precípuo, caso precise dispor ao alcance das mãos.

E então, como você municiaria a sua valise, caso precisasse fazê-lo agora? Hoje. Não há dez anos atrás. Colocaria celular, documentos, dinheiro, cartão de crédito e mais o quê? Mulheres certamente pensariam em maquiagem básica. Homens por sua vez, em um gadget qualquer, de utilidade duvidosa.

As possibilidades são infinitas e isso, de certa forma, traduziria um pouco da personalidade do dono de tal maleta. Me parece absolutamente pertinente que, ao olharmos dentro de uma valise, encontrássemos sinais indubitáveis dos gostos e idiossincrasias de quem a compôs.

Mas e se pudéssemos colocar em nossas valises, a nossa própria alma? Nossos sentimentos, aspirações e características. Agora imagine que alguém encontrasse essa maleta e abrisse. O que será que encontraria? Será que seriam apenas coisas boas? Provavelmente não. Mas a questão é: não somos nós mesmos que escolhemos o que colocar em nossas valises? O que carregamos dentro dela não possui a maior influência oriunda de nosso próprio consentimento? Penso que sim.

É claro que nem sempre isso é possível. Não filtramos tudo, isso é absolutamente inviável. Às vezes encontramos papel de chiclete, tickets de estacionamento, fatura de contas pagas faz muito tempo. Mas isso tiramos com facilidade. Será que fazemos o mesmo em nossa valise d’alma? Será que de vez em quando limpamos a bolsa? É mais difícil né? O que há para se limpar em nossas consciências? Algum ressentimento? Check! Projeções a serem cuidadas em recamier? Check! Mas a verdade é que, na maioria das vezes, sequer gostamos de olhar lá para dentro. Pois deveríamos.

Faz algum tempo, os canais de três vloggers do Youtube vem sendo de forma rotineira atacados em suas propostas, por comentários de cunho absolutamente inapropriado. De modo alienígena, sem cara, vil e o pior...néscio!

Antes que perguntem, os canais são o da Juliana Gervarson, o da Tatiana Feltrin e o da Patrícia Pirota. Isso ao que parece, não começou agora. Não há sinais indicativos do porquê, se há motivações que sejam intelectuais, ao contrário das pessoais, elas não são apresentadas. Ao que tudo indica, o motivo real é a “pelasacagem” juvenil comungada com vida sexual insatisfatória. Só pode.

Note que, se uma crítica é feita e só se remete ao nível do “ad hominem”, é meu direito pensar o que quiser. Ou não? Quem faz isso dá esse espaço, compra esse barulho. Motivado ou não. Justo ou injusto. Não importa.

Toda vez que acontece isso, eu fico pensando no que uma pessoa dessas, carrega em sua valise da alma.  Se precisar pegar algo rapidamente, inconscientemente, o que será que sairia dali? Dá um pouco de medo né? Mas dá mesmo é muita pena. Eu disse muita.

Ora imagine você que, ao arrepio de fazer outras coisas com seu precioso tempo, você cuidasse de tentar passar para os outros, conteúdo gratuito, com um coeficiente de interação e afeto e, em troca recebesse de volta, xingamentos e fuleiragens. Como você se sentiria?

Digo e repito: o pior é a falta de justificativa. Não há comentário pontual, não há profundidade analítica, não há porra nenhuma a se aproveitar. Acreditem. Só há a premissa de uma intelectualidade inexistente com um molho agridoce de sandices dignas de Alborgheti. Nada mais.

Dizer que não gosta, clicar no deslike, não assistir, é direito de todos. Não poderia ser negado nem se se quisesse. Mas ofensa dissociada de conteúdo me lembra perseguição pessoal. Aí a questão entra na seara psicanalítica. Tem que ver o conteúdo da valise, lembram?

E olha...pelo andar da carruagem o problema não será nem o que se verá, mas sim o cheiro. Percebam bem, acho patético, mas a “parada” nem foi comigo. Eu mesmo, como gente assim, no café da manhã. Depois de tanto apanhar por ser ateu, tiro “discostas” essa aporrinhação. Já estou acostumado a lidar com o troll. Mas não me lembro de, jamais, ter sido atacado por motivos pessoais. E olha que, quando escolhi o conteúdo, sabia o que esperar. Religião é foda mesmo, a briga é milenar. Mas gente...canais literários?! É isso mesmo?

Escrevi um texto recentemente sobre a briguinha em torno do Hunger Games e Crepúsculo, mas isso não é nada que um pacote de Trakinas e a ameaça de proibição de escutar Justin Bieber por uma semana não resolva. Aqui não, aqui o negócio é feito por gente adulta. Ou que deveria se portar como tal, mas não o faz.

Gente que não critica (apenas pensa que critica), mas odeia ouvir crítica no escutador de pandeiro. Gente que acha que o ouvido dos outros é latrina, que ofensa não tem custo. Gente que se esconde em contas falsas, para ofender. Gente que abusa do anonimato para desculpar a sua própria incompetência em fazer melhor. Gente que não contribui. Com nada. Com absolutamente nada.

Penso cá com meus botões...será que uma pessoa que perde tempo com isso, teria sua falta sentida quando desse mundo partisse? Não né? Quem iria ao enterro dessa pessoa? O que consignariam em sua lápide? Bom, talvez  algum humanitário ainda cuidasse de perder seu tempo para lapidar um “AQUI JAZ UM TROLL”. Sempre soube que falta do que fazer é uma merda, mas sei lá, ainda assim não escolheria um canal literário para proclamar estultices. Além de ser improfícuo, é cafona pra cacete.

Mas ó, titio vai ensinar mais uma vez tá? SE NÃO FUNDAMENTAR, TODA OPINIÃO É IGUAL! É atestado de burrice e isso é ainda pior do que o xingamento. O som das ferraduras dói mais que os impropérios. Faz mal aos tímpanos e ao estômago.

Então aqui vai a palavra final sobre o assunto, porque latim nós gastamos com quem merece e muito já se gastou em se tratando de quem é. Vamos tentar fazer um favor a nós mesmos e olhar para dentro de NOSSAS valises primeiro, para só depois então, cuidar das dos outros.

Vamos lembrar que pau que dá em Chico, dá em Francisco, e que, amanhã talvez, seja você a estar se predispondo a fornecer conteúdo acerca do que quer que seja na internet. Vamos lembrar que ser educado não é favor, é obrigação! E por fim, vamos lembrar que, quem fala o que quer ouve o que não quer. Aprendi isso com sete anos. Tem gente velha que ainda não foi capaz.

Se nada disso resolveu, se a mensagem não foi compreendida, aí só resta um jeito. E passa pela estrada dos psicofarmacotrópicos. É Haldol na veia galera, porque a questão é de segurança pública e não filosófica.

Destarte, alguém tem uma balinha aí? Já procurei aqui em minha valise, mas não achei. Achei muita coisa que não prestava e que joguei fora, mas balinha que é bom, nada. Procura direito aí que você acha. Se não achar algo que serve, por favor, nesse processo, não use o que não serve. Apenas jogue fora.

        Hpcharles

TATTOO YOU (por Hpcharles)


Enquanto retiro as notas da carteira com o fito de pagar o procedimento, não consigo deixar de reparar a coincidência quase mediúnica ao ouvir os primeiros acordes de “Start me up”, primeira faixa do aclamado álbum dos Stones de 1981.

O rádio toca alto, as pessoas são diferentes de mim e o ambiente não me é familiar. No entanto, o tatuador, educado, já de luvas para “rabiscar” o próximo cliente, se permite sair de seu habitáculo para se despedir e, com um sorriso de canto de lábios, profetizar um “até a próxima”.

Senti que a sentença não era meramente a prática, hoje quase em desuso, da polidez, mas era sim, um genuíno exercício de prestidigitação.

Em minha arrogância de “cubos lógicos”, penso em soltar uma piadinha tosca com referência à Mega-Sena e à Mãe Dinah, mas com igual percepção de cartomante, me contenho e lembro que o sujeito não começou ontem naquele negócio. Me limito então a me despedir. Mais tarde, veria que a decisão fora acertada.

Já no restaurante para o almoço, olho o pequeno curativo em meu pulso como se fosse uma medalha obtida em “Bastogne”. Hoje eu vejo o quão patético era. Porra HP, um ideograma no pulso? Really?! I mean...really dude?! Você “tava” pensando que era quem porra?! A Giselle Bundchen?

Tento em vão, encontrar uma justificativa racional para o desenho do tipo Hello Kitty meets Jaspion. “Sou advogado e não posso fazer algo que apareça muito”, “é para cobrir com o relógio nas audiências”. Só piora a questão. Nada pode desculpar ideograma no pulso. Nada.

Mas vamos dar um desconto. Eu fui educado em colégio semi-interno católico, com mãe conservadora e cresci ouvindo que fazer tatuagem era quase como usar drogas e ouvir Stairway to Heaven de trás para frente. Tinha que começar por algum lugar. Mas não deixa de ser um pouco ridículo hoje, ainda mais quando olho para a Les Paul no pedestal de meu quarto.

Vejo o garçom reparando na bandagem e me apresso em dizer orgulhoso: “é uma tatuagem”. Ele não responde e me dá as costas com um pertinente ar de “foda-se, vou cuspir em sua comida”. Eu mereci vai...

Mas eu sabia que o melhor se reservaria para o almoço de domingo. Sim, minha mãe saberia que tinha feito uma tatuagem, e, apesar de não lhe dever mais nenhuma satisfação de minha vida, Freud assobiava com desdém em meus ouvidos.

A primeira “pérola” foi atirada. Mas foi com um estilingue, saca?

“Humberto, seu pulso está sujo”. Fuuuuuucccckkkkk!!!!!

Como assim, sujo?! É uma tatuagem cacete! Tá, é um ideograma digno de campanha “homoafetiva”, mas não é uma sujeira. Será que tá mal feita? Será que ela não acreditou que fosse uma tatuagem? Será que foi uma dedada bem dada?

Minha namorada à época ri alto, mas nota que cometeu um erro ao perceber que olho friamente para o facão separado para cortar o pernil e torno os olhos à ela. Naquele dia pouco mais falou. Sentiu que ali havia história

A segunda pérola desce minha goela com gosto de TFP. “E quando você ficar velho meu filho? ”

Sério, nunca entendi essa porra. Ué, quando eu estiver velho, “eu tô velho, caramba!”. Que se dane a tatuagem! Quando eu estiver velho, acredito que haverá prioridades do tipo: problema na próstata, dor “nas junta”, catarata, conversa “inteligente” com os porteiros.

Retruco sem deixar a bola cair: “Olha só mãe, se tiver “encheção” de saco, amanhã mesmo tatuo uma seringa no pescoço e “I love cocaine” dentro de um pentagrama nas costas!”

O almoço não foi amistoso, mas foi libertador. Praticamente um mês depois, eu retornava ao estúdio. E dessa vez o “bagulho” ia ser sério.

O mesmo tatuador aparece com um risinho histriônico no rosto. Pressinto que ele vai perguntar: “E aí champs, vai fazer uma de homem agora?”. Que nada, como sempre, cortês, ele me pergunta se já tenho o desenho.

Puxo um tribal que cobriria o lado externo de meu bíceps esquerdo. “Chupa essa manga mãe!”

Esqueço Édipo por um momento e passo a “aproveitar a dor”. Estranho né? Pois é. Mas percebi que gosto da “operação”. Me culpo e lembro do David Beckham que aduziu ao mesmo “prazer”. Tá bom, o cara tinha TOC também,  mas vamos combinar que se você tivesse que ficar ouvindo uma Spice Girl cantar no seu banheiro todo dia, também desenvolveria uma patologia qualquer.

O sangue é abundante, como é natural nas tatuagens grandes. Não me assusta nem um pouco. Ponho os fones. A adrenalina cuida do resto. Done! Agora sim, caraio! “É faca na caveira!”

Saio do estúdio “like a boss” e encerro o problema decidido a comer no pior “fast food” que encontrar. Ideograma “my ass”! “Abre o pão com a unha aí irmão!”

Hoje me divirto quando me lembro disso tudo. De lá para cá, mais três vieram. Não me arrependi em nenhum momento. Me arrependo de muita coisa, mas jamais me arrependi dessas tatuagens. Na verdade, não consigo sequer me imaginar sem elas.

Me lembro do fátidico almoço e vejo que a pergunta de minha mãe teve algum sentido. Oposto, mas teve. Me parece que a velhice, dificilmente seja dissociada do medo da solidão, por quem quer que seja. Ao olhar meu corpo, vejo essas cicatrizes calculadas e elas me trazem um grande alento.

Marcaram fases, momentos felizes e nem tão felizes, mas TODAS são significativas de algum modo. E isso é bom demais. Leio pequenas frases de Tennessee Willians e Nietzsche em minha pele e vejo que sempre estarei bem acompanhado. Quer velhice melhor do que essa? Com marcas que me lembram a todo momento de que o que vivi foi real. Pigmentos traçando citações de meus ídolos. Quando me for, irão comigo. Solidárias. Leais na dor, agulhadas na alma. Carne viva.

Nesse instante, lembro de “Having a Coke with You” e procuro algum espaço na cútis. Tem de haver algum lugar para Frank O`hara por aqui. Me visto e saio.

“E aí dotô, o quê vai ser agora?”

   
        Hpcharles

Então, eu li Borges...


O mundo existe para acabar em um livro.” (Mallarmé)

Sempre achei que o paraíso seria uma espécie de biblioteca.” (Jorge Luís Borges)


               Minha história com Borges começa há 5 anos atrás, quando no último ano da graduação tivemos aula de literatura fantástica com uma das melhores professoras de literatura que já tive (Manu vai me ajudar a lembrar o nome dela), que falou de Borges logo no primeiro dia de aula.

Eu conhecia Cortázar. Eu conhecia Garcia Marquez. Mas nunca tinha ouvido falar de Borges.
Não me lembro exatamente qual foi o texto trabalhado em aulas (Ruínas Circulares, talvez?), mas saí de lá correndo pra comprar meu Ficções. E devorei o livro. E não entendi metade dele – tive que reler logo em seguida, digerindo conto por conto. E vira-e-mexe, façco questão de reler o Ficções. Porque ele nunca é o mesmo livro. Mas o arrepio na nuca toda vez que me aproximo do final d´As Ruínas Circulares continua o mesmo.


O Aleph, eu comprei na mesma época mas não tinha tido tempo/coragem pra lê-lo. Agora que o fiz, vez por outra me pego confundindo um livro com o outro. Um conto com o outro. Um personagem com o outro. Achei que tinha feito alguma coisa errada, que precisava ler meu Aleph de novo, e foi o que eu fiz – li com mais calma, um conto por dia, pensei sobre, destaquei frases que julguei importantes, e assim que terminei a releitura, continuei com a mesma sensação. Nao teve jeito – vou, pra sempre, confundir um livro com o outro.

Em uma entrevista fácil de encontrar no youtube, quando perguntado sobre seus contos, Borges responde: “Não me recordo bem dos contos porque confundo facilmente Focções com Aleph” – se até ele os confunde, ufa, que bom.

Mas contos como A Biblioteca de Babel e O Aleph me fizeram ter pesadelos.

Não sei se já tinha lido isso em algum lugar, ou se Manu já tinha me dito isso em alguma de nossas conversas, mas de alguma forma associei os contos do Borges com quadros do Escher. A wikipedia me disse que os dois eram contemporâneos (Escher nasceu em 1898, um ano antes de Borges, e morreu em 1972), mas Edwin Williamson que escreveu a biografia que também acabei de ler, não disse em momento algum que os dois se conheceram, ou que Borges conhecia/admirava sua obra.

Então que todas as vezes que imagino as bibliotecas, os espelhos e labirintos de Borgito, ou seu aleph que contém todo o universo, eu imagino as gravuras de Escher.



Já o livro dos seres imaginários (escrito em colaboração com Margarita Guerrero, “namoradinha” de Borges na época, segundo o biógrafo), é uma delícia de ser lido. Trata-se de um bestiário, uma mini-enciclopédia de seres imaginários, com explicações breves seguidas por trechos de textos clássicos nos quais estes seres foram citados.
Uma curiosidade que me chamou a atenção ao ler esse livro foi a de que Borges leu CS Lewis (visto que descreve pelo menos duas criaturas descritas pelo autor de Nárnia), mas não leu Tolkien. Tolkien não foi citado nem em seu verbete sobre elfos – por quê será?


Em meio a confusao que eu estava criando em torno dos contos, e misturando loucamente Ficções com O Aleph, resolvi me valer da biblioteca do Mackenzie para fazer pesquisa sobre o autor. Encontrei então 3 títulos, sendo eles: Borges Centenário, que traz resenhas e ensaios sobre Borges, feitos por vários autores convidados, entre eles o Luis Fernando Veríssimo talvez seja o nome mais conhecido. Bom, o livro traz ensaios sobre suas poesias, seus haikais, sobre análises psicanalíticas de seus textos. Outro livro bem simples, que recomendo a qualquer leitor iniciante de Borges, chamado O pensamento vivo de Jorge Luís Borges traz uma miniautobiografia inventada, frases célebres e coisas do tipo – achei divertido. E por último o Borges – Disfarce de Autor, no qual o autor Guilherme Simões Gomes Jr. Analisa os elemntos principais das ficções de Borges ( bibliotecas, memória, duelo, labirinto, espelhos, etc). Devo dizer que minha situação melhorou, compreendi melhor algumas coisas, mas em compensação, a conclusão a qual cheguei é que vou levar uma vida pra compreender Borges como se deve. Apesar de ele mesmo dizer que “A leitura é que dá ao texto seu caráter, é que o cria. A intenção do autor é frequentemente superestimada”. Com isso ele quis dizer que cada leitor vai tirar de um texto aquilo que pra si faz sentido, corresponde com seu conhecimento de mundo, ou que o faça de interessar por um determinado assunto abordado e o fará seguir buscando mais informações sobre aquilo, e, bem isso pode durar pra sempre, e o processo será diferente com cada leitor.


Ainda falando sobre leitura, Borges acreditava que não há idéias inéditas na literatura. Não inventamos nada, tudo corresponde à memória. O autor de um texto trabalha com a memória, ou melhor, com o esquecimento. O que me leva a pensar que autores que se baseiam em grandes clássicos (que é o que mais se encontra por aí), estão contando com a falta de memória  dos leitores, a fim de que não percebamos seus plágios.

Porém, Borges dizia que todos os livros são um único livro (e que todos os homens são na verdade um só, mas peraí, que esse assunto é mais complexo, vou tentar chegar lá). Ele achava que os temas da literatura são escassos – o que se faz é acrescentar aqui e ali elementos de determinada geração. Os temas se reciclam. Buscam suas origens quem quer, quem tem coragem e paciência para ler os clássicos. O conto Pierre Menard, autor de Quixote do Ficções fala sobre isso. Sobre um escritor que resolveu reescrever Dom Quixote. E que todos os que decidem reciclar idéias de outras obras na sua própria deveriam ler. E reler.

Borges acreditava na teoria do cone da memória do Bergson – ele acreditava num cone universal da memória onde as lembranças da humanidade descansam esperando que a geração seguinte resgate e volte a atualizar o conteúdo da memória. Ele mesmo, muitas vezes expressou desejo de desprender-se do conceito de autoria, como fez com seus 3 primeiros livros, renegados.

De qualquer forma, o texto literário é na verdade resultante das inúmeras leituras, das vivencias, da reutilização da memória. Portanto, não se pode dizer que nenhuma obra é totalmente original (a não ser o primeiro texto escrito da história da humanidade...). Certo? Estou falando bobagem?

Voltando ao Borges, ele então nao se importava com a originalidade.

Ele achava que os artifícios de toda a literatura fantástica são apenas 4:
1 – a obra dentro da obra
2 – a contaminação da realidade pelo sonho
3 – a viagem no tempo
4 – o duplo.

               Sobre o item 3, O Milagre Secreto conta a estória do autor condenado a morte por heresia a quem deus concedeu 1 ano para terminar sua obra. Estando os soldados com suas armas apontadas para ele, uma gota de suor começa a escorrer por  sua bocheha – o tempo não pára no mundo exterior, mas em sua mente, passa-se um ano. Ele relê sua obra, termina, revisa página por página em sua mente, e ao terminar, a gota de suor cai e os soldados atiram. Das obras que li, este é o único texto que me remeteu a viagem no tempo (?).

               Ele achava também que existem um número determinado de metáforas na literatura, como o tempo e o rio, o viver e o sonhar, etc, etc... ou seja, muito estranho um autor que achava tudo em relação a literatura ser tão limitado ter criado uma obra tão vasta, tão subjetiva e tão sem fronteiras. Estranho não é bem a palavra – está mais para fascinante.

               Sobre isso, Bella Jozef em ensaio contido no Centenário, diz o seguinte:
“ A obra de Jorge Luis Borges, apesar de sua aparente multiplicidade, conserva uma unidade primordial, as suas constantes indagações sobre o homem, o ser, o tempo, o real e o irreal, com  a plena certeza de não poder alcançar o absoluto e conter o universo.”

Borges – Uma Vida


               Depois de ter lido este livro enorme sobre sua vida e obra (com maior foco em sua vida privada, veja bem), passei a chamá-lo carinhosamente de Borgito. Sério. Sou praticamente da família. O livro é muito detalhado.

               Borgito nasceu numa família rica, seus antepassados foram praticaente fundadores da Argentina, foi educado em casa, foi pra escola algumas vezes, mas sofria bullying. Não se formou no segundo grau,  veja só você. Mas depois de conhecido mundialmente recebeu vários diplomas de doutorados e afins em diversas universidades mundo afora. Estou falando de Cambridge, Harvard e Sorbonne, entendam. Enquanto Saramago que mal tinha o que comer se formou no segundo grau, fez escola técnica e ralou pra conseguir ser reconhecido nessa vida. Peguei uma leve bronca de Borges ao saber disso. Bem feito pra ele, nunca ganhou o Nobel ( e o Saramago, sim, lálálá).

               Borgito nunca teve lá muita sorte com as mulheres. Se apaixonou por mulheres erradas, e quando se apaixonou por mulheres bacanas, sua mãe, dona Leonor não aprovava. Ah, sim, Borgito morou com a mãe. Até os setenta e poucos anos.

               O livro mostra suas brigas com Perón, seus desafetos, suas amizades (a mais notável com o Adolfo Bioy Cesares, com quem chegou a escrever alguns livros e com quem colaborava.). Casou-se no fim da vida com uma japonesa, 50 anos mais nova do que ele, e tornou-se admirador da cultura oriental.

Era agnóstico ,mas nunca perdeu oportunidades de cutucar a igreja católica, e os cristãos em geral, dizendo que todos eles são cegos, surdos, abobados e desmemoriados. No conto Três Versões de Judas conta como na verdade quem era o verdadeiro filho de deus era Judas.

“Os livros canônicos chineses costumam decepcionar, porque lhes falta o caráter patético a que a Bíblia nos acostumou” (em texto sobre a fênix chinesa, no livro dos seres imaginários).

Mas achava o budismo legal.

Dizia que escritores só fazem literatura pelas seguintes razões:
a) Porque não se gosta da vida que se tem
b) Porque a vida não chega, porque é uma espera que nunca se faz realidade, porque nos falta alguma coisa e não sabemos o que é.

Em sua obra, a realidade é dúbia e incerta, o universo é uma unidade n qual a individualidade é ilusão.

E o principal objetivo de vida de Borgito foi confundir as fronteiras entre realidade e sonho, entre realidade e ficção. E o fez bem.

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