É de bom alvitre passar da orelha...(por Hpcharles)


Não faz muito tempo e ocorreu um bafafá aqui no blog e no Youtube, por conta de um pequeno post que a Tati colocou, aduzindo sua preferência pela tradução de Ulisses feita pelo Houaiss àquela do Caetano. Lembram?

Foi uma choradeira só. O próprio Caetano deu às caras e cortês, forneceu algumas explicações sobre a linha do tempo, aproveitando oportunamente para declarar seu apreço pelo trabalho do Sr. Antônio. 

Vejam bem, o próprio tradutor não ligou, não criou intrigas e nem se exaltou. Mas gente que nem leu o livro, o fez. E antes que perguntem, alguns admitiam realmente que não leram a estupenda obra de Joyce. Incrível isso. Não leram mas ficaram putos com a opinião de quem leu? Como assim?

É claro que esse assunto já foi esgotado e esse texto não é para falar sobre Ulisses, mas sim para consignar esse péssimo hábito que se manifesta cada vez mais. O que tem de gente que sequer leu o alfarrábio objeto da “discórdia”, mas dando pitaco, é uma beleza.

Como disse, não foi um caso isolado. Essa merda está acontecendo toda hora. Isso já aconteceu comigo no Youtube com a biografia de Hitler, do Joachim Fest. Coisa de dois anos atrás, tive uma discussão acalorada com um assinante de meu antigo canal, sobre o livro em tela. Após alguns dois dias trocando mensagens, percebi que a pessoa não tinha lido o livro, apesar de dar opiniões aguerridas, exaltadas, passionais.

Depois de ter cometido um deslize e ter ficado meio que encurralado, o “cara” admitiu que não tinha passado das primeiras páginas.  Ora, se não leu, de onde tirou tantas opiniões sobre o autor e sobre o livro? Do Google? Da Wikipédia? Da própria bunda?!

O foda é que isso acontece cada vez mais. O leitor de orelha está se institucionalizando. Aquele leitor que nem “testemunha” é, sacam?! Sim, porque testemunha é quem viu e não “quem ouviu dizer”.

Me respondam por obséquio: isso é vontade crua de opinar? De dar piti? De mostrar uma sapiência que não possuem(até porque não leram)? É porque acham legal quem lê? Help me out here, folks!!!

Sim, porque se acham que quem realmente leu não vai descobrir a mentira em determinado momento da contradita, não vai notar que tal embusteiro não passou do prefácio, podem tirar o cavalinho da chuva. E posso afirmar sem sombra de dúvidas...fica feio, viu?

Não há o menor demérito em não ter lido esta ou aquela obra. Ulisses então, é um livro que impende dedicação, não se discute. Mas para quê entrar em uma discussão sem ter lido por completo a obra. É para ser do contra? Necessidade de comentar? Carência? Quer ser “miguxo”?

Quando o assunto é religião, é impressionante. Eu sei que a Bíblia é um livro difícil de ser lido. Tem que ter saco e estômago. Mas para quê fazer asserções sobre o “livro mágico”, se você não o leu por completo? Se não entendeu suas nuances e o compreendeu como um todo, porque embater?

Não é mais produtivo, mais honesto, mais correto, sentar a bunda na cadeira e ler a porra do livro, para só depois dar opinião, vociferar ou até elogiar? Mas ler dá trabalho, né? Melhor acreditar no que o amigo (vizinho, pastor, Wikipédia, Google, televisão, revista Veja, a puta que o pariu) disse, né? Tá, mas e vocês...o que acharam? “Ah, para dizer a verdade, eu não li...mas o padeiro fez uma sinopse e disse que é ótimo”.

Porra gente! Por favor! Minha mãe me ensinou, ainda quando criança, a só falar daquilo que eu conheço. Achei o conselho tão bom que guardo até hoje. Opinião é que nem bunda, todo mundo tem, mas quando encontro alguém que, de fato leu e conhece o assunto mais do que eu, fecho minha boca. É melhor para mim. Deveria ser melhor para todos, não?

Então combinemos o seguinte: todas as vezes em que formos dar nossos palpites sobre uma obra, leiamos antes a maldita, certo? Esse negócio de adivinhar, se apropriar da opinião alheia, fingir que leu, não é legal. Não mesmo.

Peça a opinião, leia críticas se tiver dúvidas se aquele livro serve para você, se o assunto te interessa e tal. Mas antes de criticar quem leu, LEIA TAMBÉM PORRA!

Como disse no início, a Tati já tinha matado essa charada bem antes, pois como tem um vlog direcionado majoritariamente à literatura, sofre mais com os leitores de rodapé. Mas isso está se tornando endêmico, e o pior...ridículo.

Fiquemos assim: você lê e comenta. E comenta da forma que quiser. Com paixão, agressividade ou “ternura”, polidamente ou de forma pouco educada, isso é incidental e menos relevante, no final das contas. Mas, pelo amor do Saci e da Cuca...leia antes de postar. Poupa tempo, desgaste e te livra de passar uma puta vergonha. Amém?!

Tradução: Cadê os livros do Dickens em português? (por Tatiana Feltrin)


                
                Essa semana furei minhas férias anunciadas no meu canal no youtube pra postar um vídeo sobre os livros de Charles Dickens que tinha lido em novembro bem como sua biografia.

                Um dos livros lidos e comentados, o Retratos Londrinos, foi editado em 2003 e está esgotado na editora há anos. Com sorte, ainda dá pra encontrar exemplares deste livros em lojas de bairro ou em sebos (quem ficou interessado em ler esse livro que é uma compilação dos primeiros textos do Dickens publicados em jornais de Londres, corra pra EstanteVirtual.com.br – ainda tem varios exemplares disponíveis.). Esse livro  está cheio de descrições de lugares, personagens e cenas quotidianas que transportam o leitor imediatamente para a Londres vitoriana, e, como disse no vídeo: sugiro a leitura destes textos fortemente a quem tem interesse em escrever suas próprias estórias ;)

                Mas o que me intriga é o fato de um livro tão bom como este não ter tido sua reedição em praticamente uma década. Ou mesmo outros livro de Dickens.

                Será que não há mercado para livros como estes?

                A editora Cia das Letras fez uma parceria com a Penguin e vem há alguns anos reeditando alguns desses clássicos vitorianos. Do Charles Dickens, pelo menos até agora, eles já publicaram a tradução de Great Expectations (Grandes Esperanças), numa edição simples, pobre, sem graça e sem ao menos orelhas... Mas o papel chamois está lá, o que é sempore bom.

                Este é o único livro de Dickens em catálogo e fácil de encontrar hoje em dia.

                Mas percebo, tanto pela minha vontade de ler Dickens como pelos meus amigos ou mesmo pelo feedback que recebo das pessoas em vídeos em que cito ou mostro os livros originais do autor, que... existe sim a procura! E essa procura tem levado as pessoas às bibliotecas municipais e aos sebos tradicionais onde ainda é possível encontrar edições da década de 60 (ou 70?) danificadas pela ação do tempo, pelo manuseio, e muitas vezes empoeiradas e esquecidas num canto escuro e solitário., e... tá, já deu pra entender ;)

                O que é fato é que Dickens, como boa parte de seus contemporâneos vitorianos, não é fácil de se traduzir.

                Uma peculiaridade da escrita dele são períodos enormes, devidamente pontuados, mas sem sinal de final à vista. Não dá pra comparar com os períodos enormes sem pontuação do Saramago, ou os períodos intermináveis do Joyce em seu fluxo de pensamento frenético. Ele simplesmente pegava fôlego, dizia o que tinha que dizer em 7, 8, 10 linhas e só então podemos respirar de novo. Isso está no texto escrito e se reflete também nas leituras de quem gravou seus audiobooks – dá pra perceber em alguns momentos o desespero do ator por um tiquinho de ar.  É claro que seus livros não são escritos assim do início ao fim, mas existem momentos desses ao longo de todas as obras. O próprio tradutor Marcello Rollemberg desta minha edição dos Retratos Londrinos diz em sua introdução que tentou na medida do possível respeitar essa característica do autor, mas que em alguns momentos teve de ““aportuguesar” os períodos, posto que não é nem comum nem eufônico em textos em portugues frases tão longas e sem muito espaço amplo para respiração. “

                Notei que ao criar esses “espaços para respiração” diminuindo os períodos intermináveis peculiartes ao autor, não houve perda de sentido para o leitor desatento. E notei isso ao ler alguns textos da edição traduzida enquanto ouvia ao audiobook do original, Sketches from Boz.

                Imagino que hoje em dia seja dificil para as editoras encontrarem tradutores de inglês-português que se atrevam a entrar em empreitadas como a de traduzir Dickens. O mercado para tradução de obras contemporaneas em inglês é abundante – e, cá pra nós, é muito mais fácil traduzir um texto contemporaneo do que um texto vitoriano.

                Ainda bem que o mesmo não acontece com os tradutores de outras línguas...

                Enquanto isso, tenhamos a boa vontade de procurar as obras desse autor incrível em seu original (dá pra comprar edições de bolso por menos de R$15,00), ou de procurar por edições antigas em português nos sebos ou nas charmosas e esquecidas bibliotecas públicas...

A ponta feia da Dutra (por Hpcharles)



Sempre achei imbecil a disputa adolescente que existe entre cariocas e paulistas, acerca de suas  respectivas cidades. Talvez ela seja oriunda ou tenha se acentuado com a rivalidade que existe no futebol, fato que remonta o começo do século passado e vai até os dias de hoje.

Isso pouco importa, porque é uma grandessíssima bobagem. Agora morando em São Paulo, terei que aprender a conviver com as diferenças de um estado para outro. Existe muita fábula no que concerne ao que é dito e propagado por desavisados. Gente que nunca foi ao RJ e gente que nunca pôs os pés em SP.

Mas o que será que há de verdade no meio de um assunto que, normalmente, é abordado com mais paixão do que razão? Resolvi elencar alguns pontos que são sempre aduzidos e, via de regra, se tornam motivos de piadinhas, discussões e ironias. Bom, se for com humor, tá valendo, não sejamos chatos.

Levem em consideração que o que escrevo abaixo, são meras “impressões” e não possuo estatísticas ou dados oficiais. Perdões adiantados por qualquer injustiça ou discrepância.

Here we go...

TRÂNSITO

Taí a coisa que mais me surpreendeu. No Rio, sempre ouvi que os paulistas moravam dentro dos carros. Que levavam “provisões”, mantimentos para chegar ao trabalho. Pode até ser, mas não sei se pelas obras pertinentes à chegada da Copa e Olimpíadas, o trânsito do Rio está muito pior.

E não me refiro apenas à cidade não. Sempre peguei mais retenção na chegada ao Rio do que à SP. Descontem os feriados, é claro. Muito mais gente saí de SP em direção às praias do que o contrário, por motivos óbvios.

Mas vamos deixar assim. O trânsito de SP é meio quilo de bosta. O do RJ atualmente, está um quilo inteiro. Foda...

TRANSPORTE PÚBLICO

Bom, aqui é covardia. E digo o motivo. O Metrô no RJ não existe. Nunca existiu. Atende uma parcela muitíssimo limitada da população. Nenhum carioca que se preze, nega isso.

Para quem é do RJ e visita à Cidade da Garoa, o Metrô de SP é uma mão na roda que simplesmente não existe na cidade maravilhosa. A menos que você more no Centro, Tijuca, Copacabana e mais alguns poucos lugares, o máximo que se consegue é baldeação com ônibus.

Lugares como a Barra, Recreio e a maior parte da Zona Sul, ficam insuportáveis por conta do excesso de veículos em contraste com a carência de transporte público, principalmente o ferroviário. 

Parece que isso vai mudar. Prefiro esperar para ver.

ALIMENTAÇÃO

Sou suspeito porque tenho pouca estrada em SP e ainda não comi em um lugar que possa dizer que foi ruim. Se come bem em SP, viu? Tem uma padaria chamada “Bela Paulista” que porra...vou te contar. Inferno na terra. Só de entrar a gente já engorda. Não vou dar o endereço, senão vocês irão até lá, morrerão em decorrência de glutonismo e a culpa será minha.

O RJ é legal também, mas diferente. Talvez pela proximidade com a praia, os hábitos sejam distintos e isso se reflita na alimentação. Notei poucas casas de sucos em SP, daquelas que vendem um açaí realmente bem feito, sabem?

Outro mito é o de que “pizza boa se come em SP”. Sim, comi pizzas excepcionais em SP, mas no RJ tem grandes pizzarias. Não precisa ir à SP para comer pizza, acredite.

Talvez seja precipitado afirmar, mas “parece” que SP leva uma pequena vantagem em opções para se comer bem, no que tange à quantidade de bons lugares para fazer “uma boquinha”. Eles são encontrados em profusão e com mais facilidade do que no RJ.

GEOGRAFIA E VISUAL

Aí, não dá. É como bater em bêbado. “São Paulo não tem horizontes”, simples assim. A saída do Rebouças para dar de cara com a Lagoa Rodrigo de Freitas, a enorme orla que enfeita boa parte da cidade, são espetaculares. Não existe paulista que negue isso. A entrada da Barra, a caminhada no Leblon, as Paineiras, possuem algo de inexplicável.

Aprendi a curtir a Av. Paulista. Mas não sou parâmetro, porque sou pouco afeto à natureza. Acho bonito à beça, mas não curto passeios por matas, trilhas e afins. Nem de praia eu gosto, que pecado. Então não senti muito. Mas para quem gosta, eu vou contar, viu? Será pedreira...

Tenho um conhecido que, após um certo tempo morando em SP, para onde foi por conta de trabalho, largou tudo e voltou. Disse não suportar mais as enormes distâncias para o mar.

Então fiquem sabendo, se a praia for fator preponderante em suas vidas, esqueçam SP, isso é de meridiana clareza.

PRODUTOS E SERVIÇOS

Quanto a isso, preciso de mais tempo. Sei que no RJ eles estão uma bosta. Em SP sempre achei com mais facilidade as coisas de que precisava. Vou dar um exemplo. A parte de equipamentos musicais. São Paulo dá de 10. Não existe comparação. E não é preciso ir muito longe. Peguem o Mercado Livre e vejam a quantidade de ofertas nessa área. O mercado me parece mais aquecido e acessível em vários setores. Nada que não se escute por aí, mas como disse, não tenho estatísticas para fornecer. Aqui é tudo no “olhômetro” e na sensibilidade.

Quanto à qualidade e educação no atendimento, não posso reclamar de nada em SP, mas é evidente que  terei problemas em algum momento. Como advogado(aposentado), eu sei disso por experiência.

“OS MANO E A RAPAZIADA”

Bom, aí as diferenças se acentuam muuuuuito. O paulista em geral é bem mais contido. Mais introspectivo, apressado, com humor e “passada” diferente. Não disse pior, notem. Disse diferente.

O carioca tem realmente a coisa da tal “malemolência”, sei lá. Como escrevi antes, ele certamente foi influenciado pela praia, desde sua infância. Isso tende a deixá-lo mais relaxado. Ele usa menos roupa, tem uma postura mais despojada.

Mas tirando o comezinho chamamento de carioca em tom capcioso e as inerentes “zoações” com meu sotaque, não tive problemas. E porque teria? Isso é coisa de quem leva tudo a sério e fica putinho com "tiração de onda", por mais inocente que seja. Brinco de volta e fica tudo em casa. Preconceito mesmo, ainda não experimentei. Por enquanto...

Tenho um amigo, o Thomazito, que me recebeu super bem e estou ansioso para tomar mais umas cervas (ou “brejas” se preferirem), com o “manolo”. Espero fazer outras amizades, pois como disse no início, essa rivalidade é uma coisa criada por apedeutas, para apedeutas.

CLIMA

Well...essa é a coisa que sempre me fez querer sair do RJ. Na Cidade Maravilhosa só temos dois climas: quente e quente pra caralho. Em SP eu peguei um friozinho e nossa...que falta isso fazia no RJ. Nada mais a ser dito. Terno e gravata em fevereiro, no Centro da cidade...never again, motherfuckers! You have to draw the line somewhere...

 SEGURANÇA PÚBLICA

“Aparentemente” as coisas deram uma boa melhorada no RJ. Isso se nota sobretudo, pela valorização de bairros e imóveis que antes se encontravam em estado de petição de miséria, consequência direta da melhora nos índices de criminalidade em diversas regiões.

Se isso irá perdurar ou melhorar mais, eu não sei. Claro que crimes e insegurança sempre ocorrerão em cidades grandes, mas que melhorou, melhorou. Já em SP, parece que todos os dias morrem 20. Essa guerra entre traficantes e policiais me lembra algo que aconteceu no RJ na época dos grandes traficantes e sequestros. Lembram disso? Assusta, viu? Agora que vou para SP, isso acontece? FUCK!

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma coisa que tenho de citar porque realmente me incomoda em SP: o ar! Tem dias que é difícil respirar. Para quem não está acostumado, isso faz diferença. Tem momentos em que as ladeiras são um obstáculo a se transpor.

De um modo geral, as cidades são muito diferentes. Dependendo de sua personalidade, uma tenderá a te agradar mais do que a outra no que tem para oferecer.

Se o seu negócio é vida urbana intensa, mais opções de lazer “indoor”, clima mais definido e o Metro faz diferença em sua vida, fique com SP. Se você é chegado numa praia, tem a tendência a gostar de contato com a natureza, esportes ao ar livre e curte andar de bermuda e sem camisa, fique no RJ. Claro que existem muitos outros motivos e fatores que podem pender para um ou para outro lado, mas tive que escolher alguns.

A grande verdade é que para mim, uma coisa fará muita falta e é insubstituível, com absoluta certeza. O FLAMENGO. Foda-se a praia, não vou lá mesmo. E vida que segue. Vou remansoso para “a ponta feia da Dutra”, como dizem no RJ. “Tá entendeiiiinndo, meu”?


Malemolência e “Pelasacagem” (por Hpcharles)


Sempre entendi que a “cagação de goma” se traduz em complexo de inferioridade e não de superioridade. Favor não confundir com arrogância baseada em conhecimento superior, da qual sou totalmente a favor.

A “tiração de onda” gratuita é ato pernóstico, chato, “paumolescente”. Quando me deparei com a arrogância estudada, não aquela oriunda de quem não sabe diferir berimbau de gaita, sempre a usei a meu favor e me senti impulsionado a ler mais, a rever conceitos e a me colocar em meu lugar. Sacaram a diferença?

Aqui no Brasil estamos com um péssimo hábito de não lidar adequadamente com críticas. E ele se torna pior quando criticamos as coisas de nosso próprio país. Parece que se não babarmos o ovo, não nos furtarmos a dizer que algo é uma merda, mesmo que seja uma merda, somos automaticamente transformados em párias. E se a crítica for a algo como MPB, cinema nacional e afins, fica pior ainda.

Não que de fato ligue para isso. Se ligasse não escreveria esse texto. Mas que isso ocorre, é indiscutível. Nunca gostei de música ou cinema brasileiro, com raras exceções. É direito meu achar Nando Reis,  Carlinhos Brown, Ana Carolina, Seu Jorge, Maria Gadú e etecetera e tal, um chute na canela. Mas vai falar isso para ver o quê acontece...

Faço questão de dizer que fui criado ouvindo Caetano e Gil e como dizia Nelson Rodrigues: “alguém me dê um tiro na boca”. Então, não fui “influenciado” negativamente em minha infância, pelo contrário. Mas desde sempre, achei esse pessoal intragável. Achava pretensioso, sonolento, unanimidade compulsória. Odiava o dedo mindinho do Caetano tocando violão e a verborragia de Gil. Destestava o fato de que eu não podia genuinamente detestar, sem ser crucificado.

Quando dizia que achava MPB e um quilo de bosta a mesma coisa, já era logo taxado de americanizado. Como se eu fosse obrigado, apenas porque nasci no Brasil, a gostar daqui e da nossa cultura. A questão é meramente de acaso geográfico. Ora, quando assumi compromisso com a minha “brasilidade”? Nasci aqui a revelia de minha vontade. Por isso tenho que gostar de axé, pagode e sertanejo? Tem gente que já vai se apressar em dizer: “ah, mas isso é diferente”. E eu pergunto: por quê? Se o parâmetro é ser feito aqui, então a comparação é pertinente.

Quando o Lobão disse que o Frejat depois de velho virou o “Bryan Adams”, teve uma galera que ficou puta. Mas e não é? Não é isso mesmo?! Eu não sei porque algumas pessoas aqui no Brasil, que tinham um trabalho consistente, ficam mais velhos e logo anseiam em ser catapultados ao status de MPB, mudando a postura, a direção.

Acho ridícula essa ideia que alguns conservam, de achar que o brasileiro tem uma diferença do resto da humanidade, que se traduz na sua “ginga”, na sua “malemolência”, na sua “meia lua de compasso”. Pois eu digo: TEM PORRA NENHUMA! Nem no futebol somos melhores hoje em dia. Que coisa patética é a de achar que o que é daqui é melhor, ou imune à esculhambação.

O Brasil está repleto de música ruim e de filmes ruins. Filmes inclusive, que ficam nas salas de cinema por uma semana e são relegados ao esquecimento, porque o público não vai. E não vai porque o filme é uma droga. Mas preferem culpar o “mercado americano”, em seus surtos tupiniquins. Ora, e Tropa de Elite? E Cidade de Deus e mais algumas poucas exceções? Não lotaram os cinemas? Lotaram! E advinha por quê? Porque eram bons filmes.

É claro que lá fora se faz filme de péssima qualidade, verdadeiro lixo. Música então, nem se fala. Mas ai de alguém que critique o “Otto”. Quê isso, pessoal? A gente tem que parar com esse negócio de que tudo “é subjetivo”. Subjetivo “my balls”!  Então não existe nada ruim? Nada chato? Nada que foi feito apenas para empurrarem goela abaixo do néscio consumidor desvairado?

E “para não dizer que não falei das flores”, vou citar algo feito “abroad”. Ih, usei uma palavra em inglês. Será que algum fã da Marisa Monte vai ficar chateado? Bom, para ninguém dizer que eu sou o filho do Tio Sam com o capeta, eu vou citar o último alfarrábio modinha. Pois é, e que tal “50 Tons de Cinza”? Hã? E aí? É bom aquilo? É subjetivo, né? Tá, agora senta lá.

Aquilo é “jenial”. É uma literatura que fará “iscola”, com certeza. Aquela excrescência é um livro de merda (aliás, quem chamou aquela merda de livro?), que parece que foi escrito por alguém com a capacidade cognitiva de uma criança de 10 anos, mas com o tesão de um velho babão e prostático, depois de tomar uma cartela de Viagra. Um soco na boca da literatura. Me desculpem...ou melhor, não me desculpem não, mas quem gosta disso, nunca deve ter lido nenhum um livro bem escrito antes, só deve ter tido contato com livro de colorir. Apenas a falta de parâmetro pode explicar.

A Tati fez um vídeo excelente e, descontando a minha suspeição, acho que ela pegou até leve. Mas o que apareceu de troll com fome, foi uma brincadeira. A questão é que eu consigo dizer porque aquele “cocô parrudo” é tudo menos recomendável, mas será que quem gosta, pode dizer por que é bom? De forma fundamentada? Duvido. Dizer que se divertiu apenas não vale, tá? Sim, porque senão eu vou dizer que os filmes do Steven Seagal são bons, porque são divertidos. É isso?

E será que não dá para fazer o Indiana Jones? Divertido e bom. Divertido é uma coisa.“Bom”, “excelente”, “genial” é outra. Se é mal escrito, juvenil(mas direcionado a adultos), de narrativa mal elaborada, não digam que é bom. Você pode dizer que é entretenimento e até que gostou. Seu total direito. Agora, quando te disserem que é uma merda, não fique putinho. Tente ouvir o porquê disso. Se a crítica for pertinente, deixe a pelasacagem de lado e aproveite o contraditório. É legal para todo mundo.

Eu já mudei de opinião em relação à várias coisas, face ao melhor argumento. Posso citar por exemplo, o Paulo Coelho. Mentira, continuo achando uma porcaria. Já que ele faz mágica, poderia ter feito seus livros serem bons, né? Simples. Não deve ser difícil para quem disse que “faz chover”.

Mas falando sério, a gente tem que parar com essa coisa de nego de “pau pequeno”, de achar que qualquer crítica à “velha guarda da Portela”, transforma a pessoa automaticamente em vendido, em “anti-nacionalista”.

É preciso aprender e se estimular a cultura da crítica desposada do afeto. Mesmo aquela sarcástica, agressiva. Se tiver arrimo, deve ser apoiada. Entendam que o fato isolado de você gostar, não importa em nada e nem qualifica a obra. A não ser para VOCÊ, é claro. O que importa é o que você é capaz de dizer a respeito daquele trabalho, com embasamento, fundamentação e conhecimento de causa. E isso não vem de graça.

Se você quer falar com propriedade de cinema, leia sobre cinema. Leia crítica especializada, veja filmes variados, de diversos diretores, produzidos em diferentes países, inclusive o Brasil. Não ache que quando alguém diz que 50 tons é fraco e insípido, o faz apenas para irritar a você, que gostou tanto daquela obra de arte, daquela “Mona Lisa vestida com um cinturalho”. Leia outros livros, talvez alguns clássicos ou autores de qualidade indiscutível e, talvez você entenda, porquê descem a lenha naquela bobagem. By the way, eu disse um tempo atrás que os fãs de Crepúsculo iriam crescer, né? Que algo estava sendo “tramado”. Ninguém deu atenção. Pois é. Taí o novo “best-seller”. E olha que o cara nem brilha no sol...

Mas é importante que, nesse processo, se pare com essa coisa medieval de achar que só porque não gostamos de música popular brasileira, cinema nacional, ou novela das oito, pagamos pau para os USA. Mas ainda se pagássemos, não veria problema, desde que justificado. Como disse antes, não devo nada ao Brasil. Não firmei contrato de exclusividade ou dedicação. Quem gosta, ótimo, seja feliz. Quem não gosta, ótimo também.

E para mostrar que o que vale é o que é bom, e não o que é brasileiro, ou americano ou russo, ou japonês, fiquem com um...brasileiro, o grande Sérgio Porto. Ele também descobriu, faz muito tempo, que nossa malandragem só engana a nós mesmos.




Vamos Acabar Com Esta Folga


O negócio aconteceu num café.
Tinha uma porção de sujeitos, sentados nesse café, tomando umas e outras. Havia brasileiros, portugueses, franceses, argelinos, alemães, o diabo.


De repente, um alemão forte pra cachorro levantou e gritou que não via homem pra ele ali dentro. Houve a surpresa inicial, motivada pela provocação e logo um turco, tão forte como o alemão, levantou-se de lá e perguntou:


    Isso é comigo?



    Pode ser com você também — respondeu o alemão.


Aí então o turco avançou para o alemão e levou uma traulitada tão segura que caiu no chão. Vai daí o alemão repetiu que não havia homem ali dentro pra ele. Queimou-se então um português que era maior ainda do que o turco. Queimou-se e não conversou. Partiu para cima do alemão e não teve outra sorte. Levou um murro debaixo dos queixos e caiu sem sentidos.


O alemão limpou as mãos, deu mais um gole no chope e fez ver aos presentes que o que dizia era certo. Não havia homem para ele ali naquele café. Levantou-se então um inglês troncudo pra cachorro e também entrou bem. E depois do inglês foi a vez de um francês, depois de um norueguês etc. etc. Até que, lá do canto do café levantou-se um brasileiro magrinho, cheio de picardia para perguntar, como os outros:


    Isso é comigo?


O alemão voltou a dizer que podia ser. Então o brasileiro deu um sorriso cheio de bossa e veio vindo gingando assim pro lado do alemão. Parou perto, balançou o corpo e... pimba! O alemão deu-lhe uma porrada na cabeça com tanta força que quase desmonta o brasileiro.


Como, minha senhora? Qual é o fim da história? Pois a história termina aí, madame. Termina aí que é pros brasileiros perderem essa mania de pisar macio e pensar que são mais malandros do que os outros.

Stanislaw Ponte Preta(Sérgio Porto)

RELAÇÕES EM FRAMES (por Hpcharles)


Por dever de ofício, sempre ouvi reclamações e lamúrias de casais. Foi mais de uma década como advogado, lidando com direito de família e atuando meio que como “psicólogo dativo”, nomeado pela natureza das questões e incidentes que envolvem tais lides.

Acho que meu “jogo de cintura” nessa seara, vem daí. Com o tempo a gente aprende uma coisa importantíssima no que tange às relações e aos rompimentos dessas mesmas relações. Aprendemos que existem sempre três versões para a mesma história: a de um lado, a de outro e a verdadeira.

É um que traiu, é outro que foi desidioso, é mal administração do dinheiro da casa, é a sogra que aporrinha, é o “exu tranca rua”. No final, dá no mesmo. Mas a existe um consenso. A culpa é sempre do outro. Isso é fato. Se lembram do ditado, “filho feio não tem dono”? Pois é...

Que as relações se desgastam, que o dia a dia é inimigo do romance, que tudo contribui para acabar com o “conto de fadas”, isso é notório. Quem já teve uma relação que seja, sabe disso.

No entanto, o que me incomoda é ouvir ladainha de quem está mais sujo do que pau de galinheiro. E acredite, isso não é só do lado das mulheres não. Sempre tive muitas amigas e sei como a banda toca por lá, mas os homens também  distribuem a sua cota de mi-mi-mi. As justificativas é que mudam um pouco. Normalmente possuem direção sexual ou falta de espaço. Já as mulheres, reclamam de atenção e carinho. 

Mas a questão não é essa. O problema é que quando termina o enlace, o outro, com raras exceções, é uma merda. Nunca aguentei ouvir o tal do: “perdi anos com fulaninho”. É mesmo? Pois tivemos a emenda constitucional que regulamentou a lei própria do divórcio em 1977.

Sim, eu sei que pelos filhos você tentou. Eu sei que você lutou até o final para que desse certo. Não estou discutindo isso. Estou discutindo a partição da responsabilidade pelo “fracasso”, se é que houve. Até porque, após dez anos de relação, por exemplo, será que podemos dizer que tudo foi um fiasco? Parece que não. Agora, se para você, relação é o mesmo que filme da Disney, então o problema é a sua concepção de realidade e não a relação em si.

Dessa forma, não seria mais correto, mais justo e muito mais importante, reconhecer a sua parcela nesse mesmo “fracasso”? Ora, eram dois na história, né? Sei, tu acertaste em tudo e outro errou em tudo. Fodão você, hein? Pra cima de “moi” não! Faz o seguinte então: ouça a outra versão do conto. Isso mesmo, tente ouvir os argumentos do lado de lá. Você pode se surpreender.

No entanto, talvez seja mais produtivo, fazer um “mea culpa” para melhorar na próxima. Nunca é tarde. Dizem que maturidade não é a quantidade de experiências que tivemos, mas sim o que fazemos com as experiências que tivemos. Lembro que a definição de loucura é repetir o mesmo comportamento, esperando um resultado diferente. Tenho um amigo que, aos 40, já está no quarto casamento. Outro dia ele me disse: “cara, estou me separando novamente. Estou começando a achar que o problema está em mim”. Pois é, se você não rompe o ciclo, vai colher a mesma tempestade e os “recamiers” agradecem, afinal psicanalista também come, né?

Uma coisa que percebi é que quando a coisa aperta, os casais costumam se esquecer do que os uniu em primeiro lugar. Se esquecem dos beijos apaixonados, das confissões tímidas, das mãos dadas. O tempo é um filho da puta, eu reconheço. Mas por que não usá-lo em nosso favor? Por que não lembrar também que você não escolheu aquela pessoa ao acaso? Que alguma coisa havia e que ninguém fica tanto tempo com o outro, impunimente. Não estou falando das prolixas ficadas hodiernas, mas sim daquelas pessoas que passaram em sua vida e que alteravam seus batimentos cardíacos apenas com um olhar.

Mas como fazer isso? Lembrar dessas coisas é tão difícil nos momentos de crise, não é mesmo? Não disse que seria fácil, mas acho perfeitamente possível. Para isso porém, é preciso ser criativo e se comprometer. Parafraseando Nelson Rodrigues, sem isso você não chupa nem um Chicabom.

Uma coisa que eu e minha noiva desenvolvemos em nossa relação, foi o hábito de trocarmos, rotineiramente, pequenos filmes com declarações de afeto e lembranças dos momentos em que passamos juntos. Através desses curtos arquivos, descobrimos um jeito de renovar nossos desejos, anseios e, de quebra, lembrarmos um ao outro, o porque de estarmos abraçados nessa viagem.

Claro que temos todos os problemas pertinentes à qualquer relação afetiva que se encontre aí fora, e eles ainda são agravados pela distância, que é encardida. Mas ao invés de reclamar e nos desanimar, fazemos o contrário. Usamos o tempo e a distância a nosso favor, se é que é possível. Da laranja, fazemos a laranjada.
No começo eram filminhos bem curtinhos, só para dar um oi, mandar um beijo, dizer que está ali, e que ama. Depois, eu mesmo quis dar uma de “malandro” e elaborei uma edição legal, fiz uma graça e achei que estivesse abafando. Que nada, em meu aniversário, recebi um vídeo super simples e que me botou em meu devido lugar. Não havia música composta para aquilo, não havia malabarismo de imagens e nem apelo linguístico. Havia apenas uma pequena coleção de e-mail`s trocados, comentários deixados esporadicamente, linha do tempo virtual e alguns beijos binários. A “maldita” usou o tempo a seu favor. Criatividade minha gente, é preciso ter malemolência.

A pergunta que não quer calar é? Será que, se em determinado momento daquela relação, você tivesse olhado para trás, acertado os ponteiros ou tivesse uma atitude mais firme ou mais flexível, dependendo da situação, o desfecho não poderia ter sido diferente?

Percebam, isso não é uma crítica alienada, já estive nesse barco mais de uma vez, acreditem. A crase sanguínea é: “qual é a minha parcela de culpa no mingau que desandou”? Melhor, o que fazer para que isso não se repita? É, porque não mudar e depois botar a cangalha no outro não resolve, e você já deve ter percebido isso.

Por isso, se você tem a sorte de ter uma pessoa legal a seu lado, mas de repente anda desanimada(o), sem vontade de cantar uma bela canção, ou acha que o OUTRO mudou, vá até o espelho. Veja se você também não mudou. Veja se a sua entrega é a mesma. Note se o seu carinho se mantém. Seja honesto, justo. Entenda que relações são trocas, via de mão dupla e que, pelo menos 50% de tudo que diz respeito a elas, tem que ter o seu dedo para funcionar. O resto é desculpa esfarrapada para contar no cabelereiro ou na pelada com os amigos.

Por derradeiro, lembre que alterando o ângulo e a perspectiva, o que você está fazendo é exatamente o mesmo que eu faço, quando ligo meu o Imovie para enviar meus “mp4” com corações de bytes. Está gravando um filme. Só que é sobre a sua vida e você é o diretor. Você terá problemas de orçamento, em determinado dia os atores não desempenharão o papel como você deseja e o tempo, por vezes, não vai ajudar as filmagens. Mais ainda assim, quem faz os cortes, em última instância, é você. É a sua visão no olho da câmera que vai decidir o caminho a se tomar. E dependendo da cena que escolher, você tanto pode ficar uma apenas semaninha no cinema, como pode ganhar um Oscar.


   Hpcharles


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